Pode ser uma afirmação contestável, mas existem, sim, meios de estimular as crianças para a leitura.
Na escola ou em casa, é possível criar oportunidades que facilitem o acesso delas a um conto ou a uma história mais longa, o que pode criar bons resultados – ainda que no longo prazo.
A reportagem da Gazeta do Povo conversou com especialistas e selecionou algumas dicas de leitura.
Mas tenha em mente algo importante: de nada vai adiantar pôr as ações em prática se a criança assumir o papel sozinha.
“Não é código genético que vai determinar se a cria gosta ou não da leitura. É o convívio com ela. E, mais que estímulo, é preciso o exemplo”, diz Rossane Lemos, uma das especialistas ouvidas.
Exercício
Está em dúvida? Cintia Barreto, especialista em literatura infantil, indica livros e um software .
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A Moça Tecelã
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Marina Colasanti
Global Editora, 16 páginas. A partir de 9 anos
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O Príncipe que Bocejava
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Ana Maria Machado
Alfaguara, 40 páginas. A partir dos 7 anos
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A Princesa que Escolhia
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Ana Maria Machado
Alfaguara, 40 páginas. A partir dos 7 anos
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No computador
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http://www.divshare.com
O programa Hagaquê possibilita que a criança faça sua própria história em quadrinhos. É um programa gratuito e pode ser baixado na página.
Títulos adequados: a escolha de títulos deve levar em conta o interesse da criança. Se ela gosta de história em quadrinhos, não resista. “Muita gente tem preconceito contra a leitura de gibis e histórias assim. Mas é bom ressaltar que o bom leitor não vai ficar só na literatura clássica”, argumenta Gregorin Filho, da USP. A dica da contadora de história Rossane Lemos é optar ainda por livros que possam contribuir mais intimamente para a vida da criança, como obras que falam sobre o que é se tornar um adolescente, por exemplo. “É muito importante levar em conta os interesses que essa criança tem e apresentar títulos que correspondam a essa curiosidade”, finaliza. Ambiente: pouco ou nada vai adiantar se você deixar que o contato com os livros seja apenas na escola. É como fazer um tratamento pela metade. Quem é que nunca flagrou uma criança folheando uma revista ou um livro largado em algum canto da casa por pura curiosidade? Está aí uma boa prova. Por isso, invista. Não é preciso rechear a casa de livros infantis, que não custam tão barato assim. Poucas, mas boas, obras já ajudam. “Montar uma biblioteca em casa é uma atitude que permite o acesso da criança às obras”, aconselha a professora Cintia Barreto. Além disso, promover programas com a criança em férias literárias, livrarias especializadas e bibliotecas públicas pode ser interessante “Nestes espaços, a ambientação é planejada para seduzir os pequenos para a aventura que é a leitura”, completa. Tecnologias: como explica Gregorin Filho, a literatura não é exclusiva do suporte tradicional ao qual estamos acostumados e, por isso, a formação de um leitor também pode e deve ser estimulada com outras ferramentas. Assim, se a criança já está acostumada ao universo da tecnologia, não tem porque evitar de fazer dessa proximidade um motivo para estimular a leitura. A mesma orientação vem da professora Cintia. “Hoje, há excelentes ciberespaços em que a literatura é disponibilizada. Os livros digitais, assim como sites e softwares, são recursos utilizados para a promoção da leitura literária para crianças”, comenta”. Exemplo: “Se o pai e a mãe não têm habito da leitura, não adianta exigir que a criança tenha”, adianta Rossane Lemos, mestre em teoria literária e cofundadora da Casa do Contador de Histórias, em Curitiba. A tese é corroborada pelo professor da USP José Nicolau Gregorin Filho, que se dedica a estudos sobre literatura infantil. “É como aquela história do faça o que eu digo mas não faça o que eu faço, que não funciona”. Hábito: Mia Couto, um dos escritores mais importantes da língua portuguesa, costuma atribuir ao hábito de contar e ouvir histórias um papel muito mais importante do que apenas um momento de convívio e aprendizagem. “As primeiras grandes viagens que fiz foi por meio da escuta da narração”, disse o escritor em entrevista à revista Brasileiros, em novembro do ano passado. E o conselho pode ser válido para todas as crianças. A mestre em Letras e professora do curso de especialização em literatura infantil e juvenil da Unigranrio Cintia Barreto comenta que a contação de histórias é uma estratégia lúdica para chegar aos livros. “Mostrem, após a contação, que aquelas histórias encontram-se nos livros e que eles podem retornar às narrativas ouvidas, lendo-as eles próprios sempre que desejarem”. O trabalho vale tanto para pais como para professores.