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Como assistir a um filme feito 50 anos atrás
Tosco
Os efeitos especiais na década de 1960 parecem toscos comparados aos que se vê hoje. Ainda assim, a criatividade de Hitchcock e os resultados que obtinha são notáveis. Essas proezas foram detalhadas ao cineasta François Truffaut, numa série famosa de entrevistas que virou livro: Hitchcock Truffaut (Companhia das Letras).
Limitações
Aceitar as limitações dos efeitos especiais num filme do Hitchcock faz parte do jogo (pense nas cenas de trânsito com uma projeção ao fundo).
Fellini
É como ver um filme do italiano Federico Fellini e aceitar a dublagem original, que é reconhecidamente malfeita (porque o cineasta não dava a mínima para isso).
Aparição
Hitchcock ficou famoso pelas aparições que fazia nos filmes que dirigia. Tanto que o público passou a criar expectativa e ia para uma sessão com a ansiedade de descobrir "onde está Hitchcock".
Distração
Para que as pessoas não se distraíssem com isso, ele decidiu aparecer logo no início de Os Pássaros, saindo da Davidsons Pet Shop com um par de cachorrinhos.
Filme
Os Pássaros
Clássico de Alfred Hitchcock, de 1963, reestreia quinta-feira (4) no Espaço Itáu, do Shopping Crystal.
DCP
Digital Cinema Package (DCP) é um formato que está tornando bastante comum em salas de exibição, substituindo os filmes em película. Ele reúne vários arquivos digitais de imagem, som, etc. que, somados, correspondem ao filme. Muitos clássicos restaurados estão ganhando vida nova nos cinemas por causa dessa possibilidade.
Três pessoas morrem em Os Pássaros (1963). Para os padrões atuais de matança em filmes de suspense ou de terror, três é uma mixaria.
O clássico que Alfred Hitchcock (1899-1980) dirigiu depois de Psicose se baseia numa história de Daphne Du Maurier sobre uma cidadezinha californiana com um nome musical Bodega Bay aterrorizada por pássaros.
Lentamente e, depois, repentinamente, as aves da região começam a enlouquecer e atacar quem quer que seja. Uma das sacadas do filme é não explicar o porquê, deixando espaço para interpretações.
Apenas três morrem e é possível que você chegue ao fim do filme com "desejo de sangue", como descreveu o crítico Andrew Sarris, na época em que o filme estreou. Amanhã, o Espaço Itaú passa a exibir uma versão restaurada do filme, em formato digital (DCP).
O comentário de Sarris tem a ver com a trinca antipática de personagens em torno da qual a história se desenrola: Melanie Daniels (Tippi Hedren, uma das loiras do Hitchcock), Mitch Brenner (Rod Taylor) e Lydia Brenner (Jessica Tandy).
Melanie é uma socialite adepta a pregar peças nos outros, na falta de algo melhor para fazer. Ela encontra um adversário à altura no advogado Mitch, que a confunde de propósito com uma vendedora numa pet shop. Lydia é a mãe dele, uma senhora superprotetora de olhos arregalados e nenhum senso de humor.
Depois do encontro na pet shop, Melanie fica encucada com Mitch e corre para anotar o número da placa do carro. Ele estava procurando um presente para a irmã, lovebirds (um tipo de periquito), mas saiu da loja sem nada.
Melanie resolve fazer mais uma das suas, compra um par de periquitos e viaja de San Francisco até Bodega Bay, para deixar o presente dentro da casa dele sem que ninguém a veja.
No instante em que encontra Mitch, ela está de tocaia num barco nos arredores da casa dele (a cidade é uma baía). Ao se aproximar do deque onde o homem a espera, acontece o primeiro ataque de gaivota. É como se a violência dos pássaros e é só uma das interpretações possíveis estivesse ligada à atração entre Melanie e Mitch. À medida que os dois ficam mais chegados, mais violentas as aves ficam.
Não há música na trilha sonora, somente o som de vários tipos de pássaros. E um clima estranho, com um senso de humor tenso, marca o filme todo.