Os britânicos do Echo & The Bunnymen têm vindo ao Brasil uma vez a cada dois anos, mais ou menos. Fazem shows para não mais que duas mil pessoas, que em sua maioria têm entre 30 e 50 anos e esperam despretensiosamente por mais do mesmo. Muitas testemunharam o auge da banda, nos anos 1980, e umas quantas levam os filhos para que tentem ouvir o que sobrou da voz de Ian McCulloch antes que ela desapareça de vez. Um cenário que é invariavelmente associado à decadência do grupo e há sempre alguém para dizer que nunca mais se verá uma apresentação como as que eles fizeram no país em 1987.
É óbvio que não, da mesma forma que McCulloch e seu velho parceiro, o guitarrista Will Sergeant, não voltarão a ter 20 e poucos anos. Mas se os dois cinquentões e sua consistente banda de apoio, um tanto mais jovem continuarem tocando como na noite fria da última segunda-feira, no Credicard Hall, em São Paulo, serão sempre bem-vindos. Porque foi um espetáculo.
Na primeira parte do show eles executaram, do início ao fim, o belíssimo álbum Ocean Rain (1984), com direito a acompanhamento de violinos e violoncelos, tal qual a gravação original. A primeira vez que os Bunnymen fizeram essa apresentação especial foi em Londres, em 2008, para comemorar os 30 anos da banda, e São Paulo foi apenas a terceira cidade a recebê-la desde então, após Liverpool e Nova York os shows em Belo Horizonte, na terça-feira, e em Buenos Aires, na quarta, tiveram repertório "normal", assim como terá o de hoje na Cidade do México.
Síntese do que os "homens-coelhinho" fazem melhor, uma espécie de pós-punk lírico e algo psicodélico, o disco é tido como o melhor da história da banda. E foi executado com primor, das clássicas "Silver", "The Killing Moon" e "Seven Seas" às insanas "The Yo Yo Man" e "Thorn of Crowns". E foi na canção-título do disco, a última antes do intervalo, que McCulloch deixou claro que aquela era uma noite diferente.
"Ocean Rain", uma de suas mais comoventes composições, é quase só voz e, para reforçar a surpresa dos que com os anos se acostumaram a ouvi-lo cada vez menos, "Mac" deu conta do recado com bravura, sem fugir das notas mais agudas. Não saiu, é claro, o vozeirão que o fez famoso nos primeiros anos de carreira, mas seu som foi de um vigor nem sequer insinuado nos últimos tempos ao menos não em suas passagens por Curitiba, no bom show de 2006 e no meia-boca de 2008. Desta vez, parecia que o rouco vocalista não tinha fumado nem metade dos cigarros e bebido nem metade das caipirinhas de sua longa carreira.
Importante destacar que, sob a lei antifumo, Mac não pôde acender um único cigarro durante a apresentação no Credicard Hall, o que deve ter ajudado (normalmente ele fuma vários). A cerveja ele não dispensou: era um gole generoso ao fim de cada música. De todo modo, ficou a impressão de que o sujeito está cuidando um pouco mais de seu patrimônio vocal.
Na segunda parte do show, mais 13 músicas. Apenas duas da fase mais recente da banda a notável "Nothing Lasts Forever", de 1997, e "Think I Need It Too", do disco The Fountain, lançado há um ano. Nas diversas pérolas do início dos anos 1980, prevaleceram os inconfundíveis riffs de Sergeant, para variar impecável, e o competente trabalho do baterista Nick Kilroe, exigido em trilhas de um pós-punk indisfarçável, como "Show of Strength" e "All My Colours".
Abusando de um repertório antigo como sempre, os Bunnymen se mostraram mais à vontade que nunca. Sim, eles continuam a tocar praticamente plantados em suas posições, e o pouco expansivo McCulloch segue se comunicando basicamente por meio de "boa noite" e "obrigado por terem vindo". Mas, com um show como aquele, ficou claro que estão felizes da vida. Os fãs também.
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