A vontade pode ser despertada pelo simples contato com o outro e suas diferenças. A bailarina Gladis Tridapalli não fuma. Prefere comer maçãs, hábito muito mais saudável, especialmente para quem depende do fôlego para trabalhar. No entanto, quando vê alguém com um cigarro aceso, é tomada pelo desejo de trocar a fruta pelo prazer destrutivo. "São vontades diferenciadas, algumas paralisantes, ao invés de produtivas", diz a professora da Faculdade de Artes do Paraná, que orienta pesquisas do Centro de Estudos do Movimento da Casa Hoffmann.
Vontades e boicotes a instigaram a criar, em companhia de Daniella Nery, Mábile Borsatto e Ronie Rodrigues, o espetáculo de dança contemporânea De Maçãs e Cigarros, que estreia hoje, às 20 horas, no Teatro Cleon Jacques.
Os quatro investigam os quereres que movem pessoas a se unirem em ações coletivas, acreditando na força do conjunto para alcançar objetivos comuns, e aplicam essa questão ao contexto mais próximo deles a dança. Em suas experimentações, chegaram à figura do herói: alguém que personifique as vontades coletivas, sem ser infalível.
Levam ao palco um corpo que se adapta, desenvolve estratégias e esbarra em restrições externas, sofre colapsos individuais e com as dificuldades de comunicação. "A gente pensa a vontade no corpo em relação ao espaço-tempo. O movimento é de tentativa de adaptação", afirma Gladis.
O conceito em jogo é o de multidão, como proposto pelo filósofo marxista italiano Antônio Negri. Não o coletivo, que achata as individualidades, mas a multidão que se compõe de singularidades.
"Meu corpo é diferente do de cada um dos três. Cada um faz seu movimento, em uma tentativa de chegar a uma regra coletiva", diz a bailarina, que nega dirigir os colegas. "Eu crio condições para a singularidade emergir." Nessa sutil diferença, que preserva a individualidade, reside o posicionamento político do grupo.
A estratégia se reflete em movimentos direcionados de dentro do corpo para fora e em interrupções.
"Muitas das nossas vontades se relacionam com o coletivo. A gente cria espaços corporais e compartilha, contamina o outro em cena para falar dessa troca. Danço e crio um universo para outro bailarino dar continuidade", diz.
Serviço
De Maçãs e Cigarros. Teatro Cleon Jacques (Rua Mateus Leme, 4.777 Parque São Lourenço), (41) 3313-7190. Quarta a sábado às 20 horas e domingo às 19 horas. O ingresso é uma lata de leite em pó. Até 15 de março.
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