O Aviador é suntuoso. Produção impecável de estúdio nos moldes clássicos da Hollywood dos anos 40. Mas é também vazio de emoções atento à forma, mas indiferente ao conteúdo. Foi o golpe decisivo de Martin Scorsese na tentativa de levar o Oscar de direção perdido para Clint Eastwood (Menina de Ouro) , ao qual foi indicado cinco vezes e ganhou nenhuma.
Os moldes clássicos de uma produção hollywoodiana pedem um roteiro sob encomenda (escrito por John Logan), diretor contratado (Scorsese), elenco estrelar e, se possível, um tanto de autocomplacência. Tudo isso subordinado aos engravatados do estúdio (no caso, Warner) e cuidadosamente planejado para render dinheiro e ganhar prêmios. O filme recebeu 11 indicações ao Oscar 2005. Ganhou cinco: direção de arte, fotografia, edição, figurinos e atriz coadjuvante (Cate Blanchett); e perdeu seis: filme, direção, roteiro, som, ator (Leonardo DiCaprio) e ator coadjuvante (Alan Alda). Custou algo em torno dos US$ 110 milhões e quase se pagou nas bilheterias americanas.
Baseada em fatos, a história se debruça sobre os feitos e obsessões de Howard Hughes (1905 1976), produtor e diretor de cinema que se metia a desenhar e construir aviões. O recorte feito por Logan pega o final dos anos 20 e se desenrola por cerca de duas décadas. O currículo de Hughes inclui o primeiro Scarface (1932), estrelado por Paul Muni, e The Outlaw (1943), em que apresenta ao mundo outra de suas qualidades desenhista de sutiã (ou estilista de roupas íntimas). A peça foi desenvolvida para realçar os dois atributos físicos de Jane Russell. E funcionou.
Howard Robard Hughes Jr. era um multimilionário de 1,93 metro de altura que teve casos com pelo menos cinco mulheres dos sonhos de qualquer homem que freqüentasse cinemas entre os anos 30 e 50: Jean Harlow, Katharine Hepburn, Bette Davis, Olivia de Havilland e Ava Gardner. Scorsese e Logan dão alguma atenção às aventuras amorosas, mas preferem retratar, passo a passo, a derrocada mental de Hughes. Como, na época, não se falava muito em paranóia, esquizofrenia e distúrbio bipolar, até hoje não se sabe que mal acometeu o diretor-produtor.
DiCaprio se esforça para personificar esse processo psicótico gradual seu personagem começa anti-social e obsessivo com limpeza (lava as mãos ao ponto de criar feridas), até ficar completamente recluso, sem cortar unhas nem cabelo. Ele consegue o improvável, escapa dos maneirismos na interpretação de um sujeito cheio deles. O mesmo não se pode dizer de Cate Blanchett como Katherine Hepburn. Os exageros no jeito de ser de Hepburn ficaram caricatos demais na atriz.
O maior problema de DiCaprio é algo que o mundo inteiro parece ignorar. Aos 31 anos, o namorado da Gisele Bündchen tem cara de quem acabou de completar 18. Com o bigode de Hughes, ele parece um piá pronto para ir à festa junina da escola ao contrário do que ocorre em papéis como o do jovem escroque Frank Abgnale Jr., de Prenda-Me se For Capaz, também baseado em uma história real, em que o jeito moleque do ator é bem-vindo.
Desde Gangues de Nova York (2002), DiCaprio herdou o lugar de Robert De Niro na filmografia de Martin Scorsese. Enquanto, com o amigo de longa-data, o diretor ítalo-americano de 62 anos realizou os clássicos Taxi Driver (1976) e Touro Indomável (1980), a parceria com DiCaprio rendeu dois filmes apenas bons. Talvez o próximo, The Departed, surpreenda. Remake de uma produção de Hong Kong, rodada em 2002, com Matt Damon e Jack Nicholson no elenco, conta como a máfia irlandesa de Boston se infiltra na polícia, ao passo que a polícia coloca um espião na máfia. GGG
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