Alguém busca uma comédia porque, na pior das hipóteses, espera se divertir (na melhor delas, quer rachar o bico de dar risada). Quem vê filmes de terror gosta de levar sustos e esse raciocínio vale para outros gêneros que, cada qual, comovem, fazem chorar, suar, vibrar, etc. Mas o que move alguém que adora filmes-catástrofes?

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Aquele que se senta em frente a uma tela e passa duas horas vendo a agonia de um grupo de pessoas que sabe que vai morrer – se você assistir a Vôo United 93, isso é tudo que vai ter – é considerado uma espécie de masoquista (ou seria sádico?). Na verdade, ver uma tragédia retratada no cinema é um espetáculo que se aproxima do grupo de pessoas que se aglomera diante de um acidente no trânsito. Querem saber como foi, quem é culpado, se alguém se machucou – ou morreu.

O filme de Paul Greengrass parte desse fascínio mórbido para criar uma tortura cinematográfica. O diretor e roteirista ouviu todas as pessoas que conseguiu, ligadas ao vôo que dá nome ao filme e que, no 11 de Setembro, rumava em direção ao Capitólio quando os passageiros se rebelaram fazendo a aeronave despencar em uma área não habitada de Shanksville, no estado da Pensilvânia. Trinta e sete pessoas, incluindo terroristas e tripulação, morreram.

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Ao menos essa é a versão apresentada por Greengrass e longe de ser consenso, embora ele tenha se baseado também no relatório oficial divulgado pela Comissão do 11 de Setembro. (Há quem diga, por exemplo, que o avião foi abatido pela força aérea americana antes de atingir o alvo.)

Como se sabe, os outros três vôos seqüestrados foram lançados contra as torres do World Trade Center e contra o Pentágono. São fatos históricos.

O que Vôo United 93 faz é pegar uma das lacunas do episódio – o que teria acontecido dentro do avião momentos antes de cair? – e criar uma narrativa para tentar preenchê-la. Conhecido como o diretor de Supremacia Bourne e de Domingo Sangrento, Greengrass se baseou sobretudo na versão dos familiares que conseguiram conversar com os passageiros por telefone durante um bom tempo e teriam acompanhado passo-a-passo o plano de insurreição.

Na hipótese de uma pessoa com fobia de avião assistir a Vôo United 93, é bem provável que passe mal. O clima claustrofóbico que se instala pouco a pouco no filme beira o insuportável nos minutos finais. Por ser conduzido como se fosse um documentário, com câmera no ombro e imagens tremidas – características que aparecem nos seus trabalhos anteriores –, o longa-metragem se torna ainda mais impressionante.

Mesmo que se ignore o valor histórico do que é mostrado por Greengrass, que tudo ali não passe de ficção e que aquelas pessoas não sejam os heróis que muitos gostariam que fossem, ainda assim a mera possibilidade de o filme estar certo basta para gerar um bocado de desconforto. GGGG

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