Família do condado de Hale, no Alabama, em 1936. Walker Evans viajou pela região para documentar os efeitos da Depressão.| Foto: Walker Evans/Divulgação

Perto das fotografias de Walker Evans, os retratos feitos por Sebastião Salgado parecem um editorial de moda (não é uma crítica, é uma constatação: e sempre haverá gente interessada em imagens cosméticas).

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Comparações são arriscadas e fotografar sempre implica no uso de artifícios (luz, posicionamento de câmera, tempo de exposição etc.), mas é razoável notar que fotógrafos diferentes têm ambições diferentes.

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Dentro da série Photo Poche, a Cosac Naify publicou há pouco um volume – o de número 11 – dedicado ao trabalho de Walker Evans (1903–1975). A proposta da coleção criada na França em 1982 é extremamente simpática: apresentar livros introdutórios ao mundo da fotografia, com formato de bolso (poche, em francês) e preço relativamente acessível (R$ 37). Cada edição traz uma amostra significativa de imagens e um ensaio explicando a obra do fotógrafo em questão.

Parte da fama de Walker Evans se deve hoje às fotos incluídas no livro Elogiemos os Homens Ilustres, de James Agee. Escritor e fotógrafo viajaram para áreas agrícolas dos Estados Unidos, nos anos 1930, para retratar uma família castigada pela recessão econômica (foi a década da Depressão).

Várias imagens de Elogiemos... aparecem no volume da Photo Poche junto com trabalhos em Nova York, Canadá e Cuba. Um dos méritos de Evans é o de ter entendido muito cedo a relação da fotografia com o real (numa época em que as pessoas pensavam mais na relação dela com a pintura).

Gilles Mora, no ensaio do livro, destaca a proeza: “A força de Evans está em ele aceitar e dominar a dualidade do documento fotográfico e seu eterno vaivém: vestígio do real (...), mas também objeto estético”.

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O documentarista Errol Morris argumenta que a fotografia é uma forma de acessar os fatos e não um documento inquestionável deles (Morris, aliás, escreveu um ensaio dissecando uma das fotos que Evans fez durante a estadia com a família de fazendeiros no Alabama).

Livro

Walker Evans

Série Photo Poche. Tradução de Dorothée de Bruchard. Cosac Naify, 144 pp. (no formato 12 cm x 19 cm), R$ 37.

Sim, Evans era um retratista excepcional e a maneira como os retratados o observam é de tirar o fôlego: eles enfrentam o fotógrafo com uma mistura de confiança e desafio. E há prédios, sofás e fogões que ganham força de personagens ao serem fotografados sem ninguém por perto. E você se pega imaginando a história que existe por trás de cada um deles.