Wallander sofistica série policial

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Kenneth Branagh é um trunfo de Wallander, assim como a ambientação na Sué­cia. Na verdade, ele é a alma e o rosto do detetive sueco que aparece desde maio nas telinhas brasileiras. A série policial que está sendo exibida pelo canal BBC HD é uma adaptação de um programa da tevê sueca. A versão britânica, de 2010, que os brasileiros estão vendo, também foi filmada no interior no país escandinavo, o que contribui para o clima peculiar – o mundo retratado é muito ordeiro e, ao mesmo tempo, sinistro. O enredo de cada episódio traz uma crítica implícita aos podres do mundo ocidental: violência sexual, pais que abandonam os filhos, corrupção de políticos e da polícia, a ganância do sistema financeiro.

Por trás de cada crime que Kurt Wallander investiga, há pessoas magoadas ou inconformadas com o funcionamento da sociedade. Ele próprio parece viver com os nervos à flor da pele, tocado pelo sofrimento das vítimas dos crimes que investiga e pelo seu próprio desajeitamento para tocar sua vida pessoal. Em um dos episódios já exibidos, ele descobre que o pai tem Mal de Alzheimer. Em outro, aceita a proposta da filha de conhecer uma mulher por meio de uma rede on-line de relacionamentos só para descobrir que ela tem interesses escusos. Não é a toa que Kenneth Branagh contou em uma entrevista que depois de interpretar Kurt Wallander, ele procurou formas de relaxar, como ver exposição de flores.

Para a audiência ver Wal­lander quebrar a cabeça para desvendar os crimes misteriosos que lhe caem nas mãos é uma experiência bem mais agradável. A fragilidade do mundo e do detetive faz de cada episódio menos um filme policial e mais um drama humano. Os roteiros são muito inteligentes e coerentes, sem aquelas reviravoltas que caracterizam as séries de investigação policial dos canais fechados. Ao mesmo tempo, cada episódio mantém o ritmo do começo ao fim, sem cansar a audiência. Wallander é ao mesmo tempo a mais sofisticada e a mais interessante série policial que se viu na tevê em anos recentes.