O maestro Waltel Branco é parnanguara por acaso. Teimou em nascer em Paranaguá, prematuro de sete meses, após seus pais terem descido ao litoral para passar o fim de semana, na primavera de 1929. O músico, que nunca deixou de ter uma relação afetiva com a cidade, está prestes a receber uma homenagem definitiva: o conservatório do município, que deve ser inaugurado ainda neste ano, será batizado como “Conservatório Waltel Branco”.
“Eu já tinha feito [a canção] ‘Paranaguá’, em homenagem à cidade em que nasci. Agora, recebo essa retribuição. Fico muito feliz”, disse o maestro. “E é como eu gosto de dizer: homenagem é bom quando a gente está vivo. Depois que morrer, não adianta nada”, completou, em tom de brincadeira.
O anúncio foi feito no último fim de semana, quando Waltel subiu ao palco do Teatro Rachel Costa para se apresentar, em comemoração aos 368 anos de Paranaguá. A apresentação foi um misto de recital e celebração. O maestro tocou com parceiros antigos, como Saul Trumpet e Kito Tabla, e com músicos mais jovens, como o jovem violonista Francisco Vital Okabe e Dayane Battisti.
Pantera Cor-de-Rosa
Aos 86 anos de idade, mesmo locomovendo-se amparado por uma bengala e com dificuldades de audição, Waltel sentiu-se em casa. Bem disposto, executou músicas de seu repertório instrumental, como ‘Rua das Flores’ e ‘Ninho de Cobra’, além, é claro, de ‘Paranaguá’ – tocada três vezes. Além da notícia de que vai dar nome ao conservatório, o maestro recebeu do prefeito Edison Kersten e da secretária Olga Maria e Castro uma placa em que “Paranaguá abraça seu artista maior”.
“Mais que um reconhecimento, essas homenagens fazem um bem enorme ao Waltel. É o que o mantém vivo”, apontou Kito, que acompanha o maestro há 15 anos. “Foi como um sonho poder tocar para o ídolo dos meus ídolos, esse músico completo e de carreira ímpar que tanto fez pela música brasileira e do mundo, com muito talento e criatividade. Fiquei muito feliz por vê-lo tocando, improvisando, falando com o público”, complementou Francisco Okabe. O baixo de Marco Xavier e o violão de Jader Cordeiro também acompanharam o maestro na apresentação.
A criação mais conhecida de Waltel – o tema da Pantera Cor-de-Rosa – também foi lembrada na série de homenagens. Um grupo de alunos caracterizados como a personagem tomou o palco, em uma dança contemporânea, ao som de uma versão remixada do indefectível “param-param”. O maestro a compôs quando morava nos Estados Unidos, onde trabalhou para Henri Mancini, no comecinho da década de 1960.
Paranaguá
Waltel retornou à cidade pela primeira vez somente em 2005, para a gravação do documentário curta-metragem “Descobrindo Waltel”, de Alessandro Gamo. No entanto, apesar da falta de contato direto com o município caiçara, o maestro sempre fez questão de ressaltar sua naturalidade. Nas décadas de 1960 e 1970, quando era diretor musical da Rede Globo e arranjador de uma lista invejável de artistas (que passava por Roberto Carlos, Tim Maia, Alceu Valença, Sérgio Ricardo e Cauby Peixoto), Waltel ostentava uma cabeleira black-power. Talvez por causa disso, sempre perguntavam se ele era baiano.
“Sou. Mas sou baiano da baía de Paranaguá”, respondia, de forma recorrente, meio que tirando sarro. Ainda hoje, Waltel se lembra da reação das pessoas. “Ninguém entendia nada. Mas era uma forma de eu falar da minha origem”, disse.
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