Bailarinos da companhia Tanztheather dançam no filme várias coreografias idealizadas por Pina Bausch| Foto: Divulgação
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O aclamado Wim Wenders, diretor de sucessos como Paris, Texas (1984) e Buena Vista Social Club (1999), foi o destaque do último domingo no Festival Internacional de Cinema de Berlim com Pina, seu documentário sobre a coreógrafa alemã Pina Bausch (1940-2009), um projeto que ele acalentava há mais de 25 anos.

O filme – que integra a Mostra Oficial fora de competição e traz a encenação das famosas coreografias de Bausch, entre elas Café Muller, A Sagração da Primavera e a peça Kontakthof – foi gravado com a tecnologia tridimensional utilizada em filmes de animação e com efeitos especiais que fazem com que os espectadores se sintam dentro da tela.

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Além de trazer os grandes números da companhia de Bausch, há peças mais breves como a coreografia Água (2001), dançada ao som de "O Leãozinho", de Caetano Veloso.

Bausch ficou conhecida por ter rompido com formas tradicionais de dança-teatro, utilizando-se de ações paralelas, contraposições estéticas e uma linguagem corporal incomum.

Sua morte inesperada em 2009, aos 68 anos, após ser diagnosticada com câncer e a constatação pelos realizadores de que a tela em duas dimensões não funcionaria, determinou mudanças no projeto inicial.

Visivelmente satisfeito em estar lançando seu filme, Wenders concedeu uma entrevista coletiva após a concorrida projeção, da qual participou a Gazeta do Povo. Leia os principais trechos:

O que o levou a realizar um filme sobre Pina Bausch?

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É um projeto bastante antigo. Há 25 anos, depois de assistir a várias obras de Pina, eu fiquei profundamente emocionado, entendi o movimento humano, os gestos e as emoções numa nova perspectiva. Tive, então, a ideia de fazer um documentário sobre sua vida e sua obra para passar essa magia para a tela grande.

E por que somente agora foi realizado?

Quando comecei a formatá-lo, me dei conta de que a gravação com uma câmera de filme tradicional, deixaria algo de lado. A tela do filme em duas dimensões não foi capaz de captar nem emocional nem esteticamente o legado de Pina. Com a morte dela e, após um tempo parado, decidi retomar os planos de filmagem utilizando a tecnologia 3D e dando um novo rumo ao roteiro.

Qual a grande diferença de utilizar 3D, tendo como foco a obra da coreógrafa?

A tecnologia tridimensional permite transportar o público diretamente ao palco, retratando o movimento humano nas coreografias de uma maneira totalmente nova. Os espectadores têm a oportunidade de ver a dança de Pina como se estivessem sentados na primeira fila de um teatro. Esse meu sonho antigo só foi possível devido ao 3D, que irrompe no cinema atualmente, e que permite levar as pessoas até ao palco.

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Como a morte inesperada dela afetou a realização do projeto?

Pina faleceu um mês antes de supostamente começarmos a filmar e eu perdi o chão. Só após um tempo, percebemos em conjunto com seu grupo, o Tanztheather, da cidade alemã de Wuppertal, que devíamos à Pina fazer o filme de qualquer forma. Então, decidi meconcentrar nos dançarinos, seus instrumentos e fora do palco, algo diferente daquilo que teria feito junto com ela.

Qual foi o principal desafio?

Talvez tenha sido reunir 40 tipos de música de várias épocas e países diferentes em uma mesma linha narrativa. E não mudamos nada, está tudo lá, como Pina concebeu.

Foi difícil fazer o filme em 3D?

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Para rodar um documentário em 3D é necessário esquecer coisas que a gente sabe sobre filmagem; é algo muito novo ainda e um processo longo. Quando estava no meio da edição, achava que o filme não ficaria pronto para esta sessão. Mas acho que é a ferramenta ideal para documentaristas e que, no futuro, todo documentário será rodado dessa forma.