• Carregando...
“Cantar é a única coisa que fiz sem ter me preparado muito, então me exponho muito mais. Acho importante a versão do autor, ele é a primeira testemunha da canção.” | Divulgação
“Cantar é a única coisa que fiz sem ter me preparado muito, então me exponho muito mais. Acho importante a versão do autor, ele é a primeira testemunha da canção.”| Foto: Divulgação

José Miguel Wisnik fala de poesia, processo de composição e ligações entre letra e harmonia funcional na estrutura da canção de maneira casual, mas sem perder a agudeza dos comentários. Algo parecido com a interpretação que faz de suas próprias canções, mais conhecidas nas vozes de intérpretes constantes de sua obra, como Mônica Salmaso e Ná Ozzetti. A voz frágil do compositor – uma voz de não cantor, no sentido estrito – não prejudicou a beleza dos temas no recital realizado no espaço intimista do Sesc Paço da Liberdade na última quinta-feira, em Curitiba. Eram só ele, o piano e 61 pessoas na plateia.

Os arranjos despojados favoreceram a apreciação dos jogos poéticos e melódicos que caracterizam suas composições, e o repertório da noite privilegiou canções de seu álbum mais recente, o duplo Indivisível, em que faz um balanço de sua carreira de compositor em canções que assina ora como autor da música, ora como letrista, ora como ambos.

O músico também falou bastante sobre a relação com seus parceiros musicais, dando destaque às colaborações com os curitibanos Alice Ruiz e Paulo Leminski. Constantemente elogiando a cidade, encerrou a apresentação interpretando à capela a canção "Sócrates Brasileiro", sobre o jogador de futebol que Wisnik conheceu justamente em Curitiba, morto em dezembro do ano passado.

Durante o show, o clima de sarau foi adequado para que Wisnik desse amostras de seus talentos didático e de ensaísta – entre uma canção e outra, o músico e professor de Literatura Brasileira da Universidade de São Paulo (USP) soltou o verbo. Falou também com a Gazeta do Povo. Leia a seguir trechos da entrevista com o músico, compositor e ensaísta:

É possível ser otimista sobre o futuro da canção no Brasil?

Não sei se é o caso de falar em otimismo. Esse tema entrou em voga porque levaram muito ao pé da letra uma declaração do Chico Buarque sobre o fim da canção. Ele quis dizer que um tipo de canção, tal qual ele fazia, está em desuso. Mas a composição de canções não terminou, nem terminará. Há até uma onipresença da canção. O que acontece é que se desfez a grande evidência que se dava, no Brasil, a canções de alta qualidade poética – embora essa produção ainda exista.

Por que, depois de ser gravado por grandes intérpretes, você optou por cantar suas próprias canções?

Eu acho que tenho coisas novas a mostrar. Também é um prazer. Cantar é a única coisa que fiz sem ter me preparado muito, então me exponho muito mais. Acho importante a versão do autor, ele é a primeira testemunha da canção. E o Vinicius de Moraes cantava, o Baden Powell cantava... Perto do Baden, sou o Pavarotti. Mas perto do Djavan [um dos cantores que gravou composições de Wisnik]...

A canção "Embebedado" ganhou certa fama porque foi a primeira melodia que Chico Buarque entregou para outra pessoa fazer letra. Como foi lidar com essa responsabilidade?

Demorei umas boas semanas para entregar a letra. Antes de estar pronta, já estava anunciado que eu a faria, mas o Chico me telefonou, foi muito companheiro, me deixou à vontade, disse que entendia que às vezes a coisa não acontecia. Eu fiz a letra, a Gal Costa gravou, depois eu regravei cantando com o Chico. Tentei brincar com o estilo de composição dele. Muitas pessoas o ouviram cantando e me disseram que soava como se fossem palavras do Chico.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]