Uma das coisas mais curiosas sobre Woody Allen é como ele consegue fazer filmes muito bons, ano após ano, contando mais ou menos as histórias de sempre.
A impressão é de que é possível colocar os seus filmes em umas poucas categorias.
Por exemplo. Há a seção de filmes inspirados por Crime e Castigo, romance de Dostoiévski, em que alguém mata uma pessoa e tem de passar pelo remorso ou sobreviver (Crimes e Pecados, Match Point, O Sonho de Cassandra). Há os filmes sobre a paixão pelas artes na Nova York de sua infância (A Era do Rádio, Tiros na Broadway, A Rosa Púrpura do Cairo). Tem os filmes sobre pequenos trapaceiros e suas desventuras (Um Assaltante Bem Trapalhão, Trapaceiros, O Escorpião de Jade).
Tudo Pode Dar Certo, o mais novo Woody Allen a chegar por aqui, se encaixa numa dessas tradições. É o filme sobre um sujeito neurótico e seus relacionamentos.
A estreia desta sexta-feira (confira o serviço completo), assim, faz parte da linhagem de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, Zelig, Maridos e Esposas e Igual a Tudo na Vida. A mesma história está lá, só que contada de novo. E, adivinhe: continua funcionando.
O filme fala sobre um sujeito impossível de se aguentar. Um gênio, é verdade. Mas que ninguém tolera porque é chato demais. Angustiado demais. Do tipo que acorda no meio da noite e sai gritando que vai morrer (não hoje, mas um dia). Do tipo que humilha os outros que não são iguais a ele. Um mala mas, como sempre se espera de um personagem de comédia, no fundo, um bom sujeito.
A história é sobre a relação dele com uma moça tolinha, loirinha, bonitinha, que não sabe nada de nada. Quando ela vai contar que ele foi indicado ao Nobel, não lembra a categoria. Arrisca que era de melhor filme. Uma porta. Mas, no fundo, uma boa moça, como seria também de se esperar.
O filme evolui em cima das diferenças dos dois. Depois amplia a piada, mostrando como a mãe dela, uma carola conservadora, muda de vida ao conhecer o "genro" pessimista. E como o pai dela, um conservador daqueles, sai do armário para encontrar o amor de sua vida.
Em certo sentido é o filme mais angustiado de Allen. O personagem, com seus acessos de aflição, todos muito engraçados, realmente faz você rir. Mas os motivos da angústia dele são os mesmo que, no fundo, perturbam Allen desde sempre. E são dúvidas sérias, reais. Mas, ao mesmo tempo, o filme é quase romântico, e tem um final amistoso.
É como se o diretor quisesse dizer que a vida é mesmo difícil, angustiante e, talvez, sem sentido. Mas que tem como a gente melhorar isso. Como? Com tudo o que puder dar certo. Um filme, uma música, um namoro com alguém que não tem nada a ver com você. Tudo pode funcionar. Especialmente, claro, num filme de um gênio como Woody Allen. GGGG
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