Seria trágico se não fosse engraçado. Pervertendo a conhecida máxima, uma forma de se encarar as besteiras que os políticos brasileiros fazem há décadas é rindo (para não chorar). A patética sambadinha da deputada petista, na última quarta-feira, comemorando a absolvição de um companheiro de partido no valerioduto é mais um caso para entrar para o incrível anedotário da política nacional o pior é saber que ela logo será superada por algum outro companheiro de Congresso Nacional.
A dança da congressista poderia muito bem ser citada no texto do monólogo Fala, Zé!, que estréia nacionalmente hoje no Festival de Teatro de Curitiba (FTC). A peça apresenta, em tom de comédia, a reflexão de uma geração que participou e acompanhou a chegada de Lula e seus partidários ao poder. O espetáculo também celebra os 40 anos de carreira do ator José de Abreu.
Em entrevista ao Caderno G, o ator conta que nunca havia feito monólogo. "Mas acho que o inconsciente coletivo me atraiu para fazer um monólogo. "Atualmente, há dez em cartaz no Rio de Janeiro, vários também em São Paulo. Todo mundo está fazendo e acabei realizando o meu", comenta o responsável por um dos seis monólogos da edição 2006 do FTC.
Segundo ele, a intenção inicial era encenar um texto baseado no livro Amestrando Orgasmos, de Ruy Castro. Ainda havia a opção de fazer algo em parceria com Nelson Motta. As idéia não evoluíram e o diretor Luiz Arthur Nunes, amigo de Abreu há 30 anos, sugeriu uma peça que tivesse como personagens os Zés mais importantes da história brasileira, como José Bonifácio e José do Patrocínio. Para escrever o texto da montagem, Nunes convidou Angel Palomero, que fez trabalho de doutorado sobre criação de textos improvisados. "Começamos a organizar o projeto em julho de 2005. Mas o estouro da crise política logo em seguida acabou levando as coisas para um outro lado. O texto foi transformado em algo da minha própria história, e também na história de toda uma geração", revela José de Abreu.
O ator gaúcho participou de movimentos políticos quando jovem, na década de 60, começando na AP (Ação Popular), de cunho religioso. "Na época do AI-5, em 1968, entrei na Val-Palmares, mas não atuava na luta armada, tinha endereço fixo e fazia outros serviços para o grupo", conta. Em 1972, quando a repressão da ditadura era mais pesada, o movimento pediu para que pegasse armas, mas não aceitou. Abreu caiu na clandestinidade, escondendo-se primeiro na Bahia e depois no Rio Grande do Sul. Foi para o exílio no estrangeiro, passando por Londres, Paris e Amsterdã. Voltou escondido ao país em 1974.
Toda essa história é contada em Fala, Zé!, que reúne os principais fatos políticos brasileiros das últimas décadas. O textos também apresenta passagens fictícias, como um hilário encontro do ator em Londres com Caetano Veloso e Gilberto Gil, na época do exílio. Os cantores baianos são dois dos 23 personagens que Abreu interpreta na montagem. Três deles serão exibidos em um telão. "Todos são um tipo de anjo Gabriel, que aparecem em momentos importantes da minha vida para dar avisos e conselhos", confirma o ator, lembrando que um deles é um hippie que o alerta sobre o perigo da repressão.
As duas apresentações previstas do espetáculo no FTC estão com ingressos esgotados desde o início do evento. Não haverá sessões extras, até porque Abreu talvez não agüentasse o ritmo, pois ainda se recupera de um grave acidente sofrido no ano passado. O ator informa que a peça segue para apresentações no Rio Grande do Sul. Ele deve voltar ao Paraná em julho, fazendo uma grande excursão pelas cidades do estado.
Serviço: Fala, Zé! Teatro Sesc da Esquina (R. Visc. do Rio Branco, 969), (41) 3322-6500. Hoje e amanhã, às 20h30. Ingressos esgotados.
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