A típica frase "põe mais água no feijão" ganha ainda mais sentido quando se ouve "Uma prova de amor", novo álbum de inéditas de Zeca Pagodinho. Pois o 19º disco do cantor não só marca a reunião de um competente time de compositores como também chama o ouvinte a sentar-se à mesa na companhia do intérprete, seja para beber uma cerveja ou degustar uma farta feijoada como sugere uma das fotos do encarte - ao som de canções de novos sambistas e antigos colaboradores.
A Velha Guarda da Portela aparece no pot-pourri com "Falsas juras" (Candeia e Casquinha), "Pecadora" (Jair do Cavaquinho e Joãozinho da Pecadora) e "Manhã brasileira" (Manacéia), sambas antigos gravados com participação do coral da escola.
Já "Esta melodia", em parceria com Babu, homenageia Jamelão, morto no dia 14 de junho. O novato Fred Camacho divide "Pra ninguém chorar" com os veteranos Almir Guineto e Dudu Nobre, enquanto Monarco e Mauro Diniz emprestam "Não há mais jeito".
Jorge Ben Jor, que nunca tinha cantado com Pagodinho antes, faz uma oração a São Jorge na faixa "Ogum". A parceria com o pianista João Donato, que estava gravando no mesmo estúdio de Zeca, surgiu quase naturalmente. O resultado é a faixa-bônus "Sambou... sambou".
Se "Uma prova de amor" não conquista na primeira audição, a exemplo do "Acústico MTV", o álbum mostra uma faceta mais rara de seu autor. Avesso às questões políticas, desta vez Pagodinho decidiu abordar o assunto em "Eta povo pra lutar", de Brasil, Badá, Magaça e Bernine.
O lado cômico, porém, é um de seus pontos fortes - aqui, não é diferente. Preste atenção em "Normas da casa", de Zé Roberto, em que o sambista, cansado dos bicões que chegam justamente na hora do almoço, resolve dar um basta em tudo, avisando: "quem não for amigo só entra de crachá / pra moralizar, vou ter que mudar".
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