No principio, era a música. O violonista curitibano Fabiano Silveira, o Tiziu, compôs uma série de dez estudos para violão e flauta que fugiam da linguagem do choro, gênero no qual o músico é uma referência em Curitiba.
Tiziu então percebeu que as músicas tinham um “caráter que exprimia imagens e um clima tenso e hostil” que parecia contar uma história.
“Foi assim que surgiu esta maluquice de unir imagem e música”, explicou Tiziu ao presentar o projeto ZED -Estudos Musicais — em um pequeno show na Itiban Comic Shop, para uma plateia de fãs interessada tanto em música quanto em quadrinhos.
O produto final da “maluquice” é um trabalho híbrido: misto de livro de partituras, CD e história em quadrinhos. A partir do universo musical criado pelo compositor, o produtor João Marcelo Gomes criou um roteiro de uma HQ que tenta captar a imagem e o som de uma “Curitiba profunda” em que o protagonista é um ser mitológico, um flautista metade homem, metade bode, chamado Zed.
Ele convive tanto com a cidade que se pode ver quanto com uma cidade subterrânea, sobrenatural e violenta. A HQ tem dez capítulos. Cada um deles corresponde a uma das peças musicais compostas por Tiziu.
Nos desenhos criados por André Caliman sobram sexo e terror construídos com cuidado para que sejam lidos com a trilha sonora que os inspirou ao fundo. O desenhista conta que os criou em uma temporada em Paris, mas com a cabeça no Largo da Ordem.
O desenhista André Caliman desenha o ser mitológico Zed: da música para Curitiba profunda.
“Ele me descreveu o clima em que o personagem vivia numa Curitiba noturna e obscura e eu que já estava louco para voltar para cá me imaginei desenhando no Largo da Ordem”, explica Caliman.
Partituras
Além da novidade de criar música a partir de histórias em quadrinhos, o livro traz outra que é a transposição para partitura das composições de Tiziu.
“Na nossa geração da música brasileira não tem muita coisa escrita em partitura. Este livro traz uma coisa nova”, opina Gabriel Schwartz, parceiro de Tiziu no Trio Quintina e colaborador no processo de passar ao papel os estudos e gravá-los em disco.
Responsável pela diagramação final das partitura , o musico Sérgio Albach disse que o processo foi bastante trabalhoso e — a exemplo da HQ que a música inspirou — “árido e violento”. Ele destaca que, ao contrário das óperas nas quais os roteiros vêm antes da música, na história do bode Zed o processo foi o contrário.
Tiziu sugere que a HQ deve ser lida com o música ao fundo e que a história do bode Zed pode ter desdobramentos para o cinema. “Já estamos conversando sobre a possibilidade de criar uma animação em cima desta história, com os estudos funcionando como trilha sonora e sonoplastia”.
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