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Curitiba ainda se vangloria de ter sido, por muito tempo, referência no que diz respeito ao transporte coletivo e ao meio ambiente. Mas, se hoje em dia não faz mais sentido apelidá-la de cidade sorriso ou de capital ecológica, o legado deixado por essas impressões permanecem no inconsciente do curitibano nato, que quase sempre viu sua cidade estar à frente das outras.

Exatamente por isso, Carlos Balhana, professor de antropologia cultural da Universidade Federal do Paraná, afirma que os eventos de ocupação das ruas são "normais". Na verdade, uma resposta automática às lembranças de outras gerações, que viam a cidade se transformar mais por conta de ações do poder público do que pelas próprias mãos –uma espécie de "zeitgeist curitibano".

"A partir dos anos 1980, Curitiba foi perdendo contato com a modernização que sempre a caracterizou. Então, é uma tendência que uma sociedade urbana adormecida e acomodada venha à tona. Isso é assumir uma identidade mais profunda com a própria história de Curitiba", reflete Balhana, que cresceu no entorno da Praça da Espanha.

"Aquilo não passava de um banhado. Nos anos 1970 surgiram, com dificuldade, alguns comércios. Mas aquele espaço nunca foi ocupado de fato. O que aconteceu recentemente é a conquista de uma geração", afirma.

Entretanto, Balhana vê um conflito quando se tenta impor algo em uma sociedade – uma cidade – particularmente orgulhosa de suas características. O carnaval, por exemplo, seria algo exótico à Curitiba.

"O pré-carnaval é invencionice, porque a cidade nunca foi carnavalesca. Nas décadas de 1940 e 1950, havia algumas festas fechadas. Depois, o carnaval foi retirado da Rua XV e da Marechal Deodoro. O mataram porque o poder político era maior do que o popular", critica o professor.

Balhana diz que se Curi­tiba se mantiver nesse ritmo, o próximo passo, nesse sentido, será o de sair às ruas em prol de uma causa mais nobre. Mais ou menos como o que ocorreu em 2010 depois da série de reportagens Diários Secretos – da Gazeta do Povo e RPC TV – que revelou o esquema de corrupção na Assembleia Legislativa do Paraná.

"Parece que há uma consciência de que o equipamento urbano pode ser um propulsionador da opinião pública. É um replay do que está acontecendo lá fora. Chegou mais tarde, mas chegou."

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