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A obsessão do cineasta David Fincher por proezas tecnológicas é indissociável de sua figura. Poderia até ser seu sobrenome: David "Proezas Tecnológicas" Fincher.

Em Clube da Luta (1999), Brad Pitt leva um soco que o lança ao chão, em câmera superlenta, como se fosse uma folha de papel A4. Quarto do Pânico (2002), seu filme anterior, dá ao espectador o ponto de vista de uma câmera capaz de passar por alças de chaleira e buracos de fechadura.

No mais-que-aguardado Zodíaco, surpresa, as firulas digitais não têm vez. O filme, que estréia nesta sexta-feira (1º/6) em Curitiba, transcorre como um documentário – se houvesse um capaz de acompanhar todas as etapas de uma série de assassinatos e da investigação empreendida para pegar o culpado, partindo do momento em que o criminoso age (a tiros ou facadas) até o modo como os policiais se debatem com as provas.

Os crimes em questão de fato arrebataram os moradores de San Francisco, Califórnia (EUA), na última semana de 1969. Casais foram mortos sem qualquer motivo aparente até que um sujeito passou a escrever para os três principais jornais da cidade reivindicando a autoria dos crimes e revelando detalhes que somente ele e a polícia seriam capazes de saber.

A correspondência começou anônima, mas logo o assassino serial se apresentou como Zodíaco e, no lugar de escrever para a imprensa avisando de crimes que havia cometido, começou a fazer ameaças que incluíam atacar ônibus escolares e explodir departamentos de polícia. Além de criar mensagens criptografadas em que revelava sua identidade e seus motivos.

O Zodíaco se tornou um dos casos mais impressionantes na história das investigações policiais porque ele nunca foi descoberto. Ainda hoje existem pessoas que se dedicam a solucionar os crimes. No Brasil, a jornalista e investigadora Ilana Casoy chegou a escrever sobre o episódio no livro Serial Killer – Louco ou Cruel?, a ser reeditado pela Arx no segundo semestre deste ano.

O filme de Fincher é inspirado no livro homônimo de Robert Graysmith, editado nos EUA em 1991 e recém-publicado no Brasil pela Novo Conceito. Na década de 70, Graysmith trabalhava como cartunista para o San Francisco Chronicle, um dos periódicos que recebiam as cartas do Zodíaco. No filme, ele é interpretado por Jake Gyllenhaal (O Segredo de Brokeback Mountain).

Embora não atuasse diretamente no trabalho do jornalista Paul Avery (Robert Downey Jr.) e no do policial David Toschi (Mark Ruffalo), Graysmith se mostrava fascinado por enigmas e, aos poucos, conseguiu se envolver até o pescoço na investigação.

Muito tempo depois de o Zodíaco desaparecer do noticiário, quando figuras importantes da história (Avery e Toschi) chegaram ao ponto de perder emprego, amigos e (quase) a família por terem sido consumidos pelo caso, Graysmith acreditava ter descoberto pistas novas capazes de revelar a identidade do assassino.

Neste ponto, o ex-cartunista refaz todo o percurso que o espectador fez até aquele momento do filme, entrevistando peritos, vítimas, revirando arquivos e revisitando locais ligados aos crimes e à vida de alguns suspeitos.

Embora Zodíaco seja fiel ao livro e negue ao público uma solução mirabolante do caso, ele chega muito perto de solucioná-lo. Perto como você imagina que os investigadores chegaram mais de 30 anos atrás. Perto o suficiente para deixar qualquer um com a respiração presa, suando frio.

Até uma certa altura, Zodíaco adota as características do gênero policial, visitado pelo mesmo Fincher em Se7en – Os Sete Crimes Capitais (1995), apenas para descartá-los na seqüência e criar algo inédito. O que se vê na tela é um filme como nenhum outro. GGGGG

* No Caderno G Idéias do próximo sábado (versão impressa), confira o especial sobre o fascínio exercido por assassinos em série na literatura e no cinema.

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