“Estou erguendo meu copo e virando-o, mas não me lembro por quê/ Então vamos tomar mais um por todos os meus irmãos que beberam até morrer/ Meus amigos bêbados mortos (woo hoo!)”. Em clima de festa na taverna (algo que certamente o pirata Jack Sparrow aprovaria), Alice Cooper homenageia, na singela canção, camaradas como Keith Moon (baterista do Who, morto aos 32 anos em 1978 de febre tifoide, quer dizer, em decorrência de uma overdose de 32 comprimidos de clometiazol), John Lennon, o cantor e compositor Harry Nilsson e até alguns vivos, como Ringo Starr e Bernie Taupin, letrista famoso por sua parceria com Elton John.
“Nós tínhamos uma espécie de clube, uma confraria de amigos que se encontravam para beber juntos, lembra Cooper, nascido Vincent Damon Furnier há 67 anos em Detroit, e morador de Los Angeles desde os anos 1970. “Todas as noites, e eu reitero, todas as noites nós acabávamos no Rainbow, famoso bar roqueiro de LA, bebendo até o sol nascer. Por isso acabaram nos chamando de vampiros. A única diferença era que bebíamos álcool, não sangue.”
O clube era organizado, tinha até sedes em outras cidades e países. “Em Nova York, nós nos encontrávamos no Kansas City; em Londres, no Tramps, quando calhava de estarmos vários de nós por lá”, lembra ele, que era um roqueiro iniciante na época, e Alice Cooper era o nome de sua banda, antes de ele pegá-lo para si. “Era uma época muito legal, fomos adotados pelos músicos já consagrados, como Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison.”
Tudo ia muito bem, mas eventualmente o óbvio viria a acontecer. “Todos eles começaram a morrer”, lembra Alice, que se tornou cristão e parou de beber e usar drogas ainda nos anos 1980. “Aí recentemente tivemos a ideia de reunir alguns músicos amigos e gravar um disco em homenagem a eles, de covers, com destino à caridade.”
Quatro décadas depois, os Hollywood Vampires são uma banda, que tem Alice, os guitarristas Joe Perry (do Aerosmith) e Johnny Depp (Jack Sparrow em pessoa), o baixista Duff McKagan e o baterista Matt Sorum (ambos ex-Guns N’ Roses). O quinteto, que fez apenas suas apresentações em Los Angeles, toca no Rock in Rio hoje, às 21h, como primeira atração internacional do Palco Mundo. Também se apresentam hoje Queens of the Stone Age e System of a Down.
“Devemos tocar o disco inteiro e mais umas três ou quatro músicas, ainda vamos decidir isso”, diz ele. O nome que desperta mais curiosidade no grande elenco é, claro, o do ator Johnny Depp, de 52 anos, figurinha fácil em shows do próprio Alice e de outros amigos, empunhando sua guitarra, animadão.
“Ele é muito amigo de Joe Perry”, conta o cantor. “E é um excelente guitarrista! Ele era músico antes de ser ator, sabe tocar qualquer canção de rock. Outro dia fomos ao 100 Club, em Londres, e subimos ao palco. Lá, as pessoas berram os nomes das músicas e você tem que se virar e tocar. Johnny tirou de letra: alguém berrava ‘Brown Sugar’, e ele começava a música. A banda ia atrás.”
Sempre calmo, Alice Cooper fica animado ao falar do disco de estreia dos Hollywood Vampires. “Conseguimos um grupo de músicos bem impressionante, você viu?”
Realmente são raras as reuniões de tantos nomes de peso do rock em um estúdio: além dos cinco titulares, deixaram suas marcas em “Hollywood Vampires” estrelas como Paul McCartney, Slash, Zak Starkey (baterista, ex-Oasis e filho de Ringo Starr) e o produtor Bob Ezrin. O repertório tem standards roqueiros como “Manic depression”, de Jimi Hendrix, “Cold turkey”, de John Lennon, “Whole lotta love”, do Led Zeppelin, “My generation”, do Who, um medley dos Doors e outras delícias. O disco começa com uma narração do ator Christopher Lee.
“Lee ficou famoso por interpretar Drácula no cinema, e infelizmente nos deixou pouco depois de gravar sua participação [o ator morreu no dia 7 de junho, aos 93 anos]”, comenta o cantor. “Ou seja, foi um personagem perfeito para o disco, lendo um trecho do livro ‘Drácula’, de Bram Stoker.”
Com quase meio século de Los Angeles nas cortas (curvadas), Alice Cooper é mais do que acostumado a viver entre astros, inclusive do cinema. O cantor, que foi brevemente casado com a atriz Raquel Welch nos anos 1970, tem um personagem e uma história preferidos. “Eu era amigo de Groucho Marx, nós morávamos na mesma região, Hollywood Hills”, lembra Alice sobre a lenda do cinema, que morreu em 1977.
A vizinhança é conhecida por causa do famoso letreiro “Hollywood”, erguido nos anos 1920, que originalmente fazia propaganda de um condomínio, chamado Hollywoodland. Em homenagem a Groucho, Alice adotou a letra O (o último O de “Hollywood”), em uma campanha realizada pela prefeitura de Los Angeles em 1978 para recuperar o letreiro, que estava deteriorado.
“As letras estavam caindo as pedaços”, lembra o cantor. “Então, em homenagem a Groucho, eu adotei o O, doando US$ 27 mil. Hugh Heffner [dono do império da revista Playboy] e Steven Spielberg também contribuíram. Groucho e eu nos encontrávamos embaixo daquelas letras todas as manhãs! Eu ria muito com ele.”
O clima “cenográfico” de Hollywood ajudou muito a criar a teatralidade de Alice Copper, famoso pelo clima de terror de seus shows, que inclui cobras e decapitações. “Agora preciso voltar ao Brasil com o meu show”, diz ele. “Estou abrindo a turnê de despedida do Mötley Crüe, e a partir de 2016 preciso encontrar o que fazer...”
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