Praticamente toda vez que pensamos sobre o dinheiro que devemos destinar lá para o futuro nos vêm à cabeça as clássicas imagens de propagandas de bancos: filhos crescendo, uma casa maior e melhor, viagens mais bacanas e uma aposentadoria que dê conta do recado, garantindo uma vida sem sobressaltos, numa etapa de colher os frutos plantados. É a família margarina prosperando sem solavancos, com a felicidade estampada no rosto, em um mundo em que tudo sempre dá certo.
Parece fácil chegar lá. Basta comprar aquele plano de previdência que o gerente tanto lhe oferece naquele tradicional cafezinho do mês para formar uma poupança gorda o suficiente para viver feliz para sempre. Só que não! Não só não é nada simples construir um patrimônio suficiente para o longo prazo, como os comerciais se esquecem de incluir dois personagens que podem marcar presença na sua vida financeira futura, com uma dependência cada vez significativa: seus pais.
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Se hoje ainda é um desafio falar de dinheiro com a geração mais jovem, supostamente aberta a todo tipo de diálogo, o que dizer dos mais velhos, criados em tempos de menor competição, necessidades mais reduzidas de consumo e uma vida mais simples?
Você já parou para pensar em quantos dos seus amigos ou parentes precisam ajudar ou sustentar 100% os pais por conta de uma falta de planejamento financeiro da parte deles, pela incapacidade de se prever tamanha longevidade ou pela simples certeza de que o dinheiro não acabaria nunca? Na última semana, uma matéria publicada pela BBC revelou um caso inusitado: alegando passar por dificuldades financeiras, um indiano decidiu processar o filho, banqueiro, a quem acusou de não ajudá-lo.
Sem pretender entrar no mérito da discussão, é fato que temos uma população vivendo cada vez mais – no Brasil, a idade média corresponde a cerca de 76 anos – e que segue despreparada para enfrentar sua velhice. Quem é que fala de dinheiro em casa? E não me refiro aos seus filhos, com quem você tem a obrigação de discutir o tema, mas aos seus pais. Você já se deu conta sobre como as finanças também são um tabu para a geração mais velha?
Conheço muita gente (a maioria, para ser sincera) que cresceu sem ter uma educação financeira. Mais do que a parte teórica, me refiro à falta de diálogo em casa sobre despesas do dia a dia, sobre equilíbrio e sobre gestão. Transparência financeira, eu diria. E agora chegamos a um ponto em que muitos pais estão se aposentando e não contam com nenhuma perspectiva de viver a sonhada vida vendida nos comerciais felizes de seguradoras e bancos.
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Fica no ar, então, a pergunta: não está na hora de falar sobre dinheiro com seus pais? Na ausência de condições financeira deles, você teria capacidade para reorganizar seu orçamento familiar considerando bancar uma parte ou a totalidade de suas despesas? Imagino que grande parte dos leitores não teria como assumir essa bronca. Muito melhor do que chegar a esse ponto seria você ajudar seus pais na transição para a aposentadoria. São muitos os casos de pessoas que se veem aos 60 anos com reservas bem restritas, esperando um verdadeiro milagre da multiplicação de patrimônio de um dia para o outro. E não se assuste se o gerente empurrar aos seus pais, a essa altura da vida, produtos como planos de previdência, que deveriam ter sido contratados muito tempo antes. Agora já é tarde…
Talvez para alguns a lei natural da vida implique apreender muito mais do que ensinar para os pais. Mas vivendo no Brasil, um país tão pouco desenvolvido do ponto de vista de educação financeira, é mais do que justo, é uma questão de necessidade, compartilhar com os mais velhos seu conhecimento e ajudá-los, é claro, se necessário (é possível). A maior parte dos brasileiros não é herdeira, mas ninguém quer herdar dívidas. Desta forma, que tal tornar a questão do dinheiro mais natural em sua família, abordando o que se tem disponível e, claro, o que vai faltar?
Certamente será melhor do que esperar a vida passar e se assustar quando a conta chegar de uma vez só, sem possibilidade de parcelamentos.
Em tempo: a matéria da BBC revelou que pai e filho indianos chegaram a um acordo extrajudicial, com o estabelecimento de uma pensão mensal de menos de R$ 500.
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