As eleições deste ano foram históricas. Goste-se ou não do resultado, é fato que a polarização dos eleitores adicionou novo tempero à disputa, em meio a candidatos com perfis para lá de diferentes.
Só para ficarmos na economia, pela primeira vez na história deste país temos um presidente que se elegeu confessando, sem papas na língua, não entender nada do assunto. Pode até ser, é claro, que seus antecessores tão pouco dominassem o tema, mas não estamos acostumados a nomear presidentes com um discurso tão sincero com relação à falta de domínio das discussões econômicas, ainda mais em um momento tão delicado para a atividade brasileira.
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É natural que a sinceridade de Jair Bolsonaro tenha sido alvo de uma série de questionamentos sobre sua capacidade de governar, acalmada de certa forma pela nomeação do economista Paulo Guedes para aconselhá-lo e conduzir o programa econômico eleito.
Seu “Posto Ipiranga“, como ficou conhecido Guedes ao longo das eleições, foi desde o início nomeado como a referência do tema dentro do novo governo. Coube a ele, desde o princípio, a tarefa de conduzir o planejamento econômico, o que, até agora, tem se traduzido em total autonomia na nomeação dos cargos da equipe que entrará em ação a partir de 2019.
Se praticamente 58 milhões de pessoas deram seu aval para um presidente governar um país cientes de que os problemas econômicos não teriam soluções propostas pelo próprio, tendo a acreditar que grande parte dos eleitores vê com naturalidade ter um “Posto Ipiranga” para chamar de seu para resolver seus dilemas financeiros. E, admito, isso muito me preocupa.
Confiança tem preço
Quem decide como investir seu dinheiro? Sua esposa ou marido, seu gerente de banco, seus pais, um assessor de investimentos, amigos, colegas de trabalho?
Quem escolheu o gerente se enquadra nas estatísticas da maior parte dos brasileiros. A pesquisa “Raio X do investidor brasileiro”, elaborada pela Anbima em parceria com o Datafolha, mostrou neste ano que o profissional é procurado presencialmente por 41% dos brasileiros que aplicam em produtos financeiros. Na sequência, com 33%, aparece a opção amigos/parentes, seguida por sites de notícias (29%) e consultorias de investimento (17%).
Ainda que seja inegável esperar conhecimento de um gerente bancário sobre investimentos, você já parou para pensar sobre como esse profissional é remunerado? Sobre as metas que precisa bater, sobre a variedade de produtos que ele tem a oferecer, sobre seu grau de conhecimento sobre suas finanças e necessidades? Você já contou a ele alguma vez sobre quanto ganha todo mês e quando pretende parar de trabalhar?
Não me entenda mal, nada contra essa classe de profissionais, que certamente se esforça para fazer o seu melhor. Mas, se é para ter um “Posto Ipiranga” para chamar de seu, que ele seja o mais bem qualificado. E, para isso, o mais livre possível de conflitos de interesse.
Ora, se um profissional tem o salário pago por um banco, é de se esperar que seu principal compromisso seja com o mesmo, certo?
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E a ressalva também vale para um agente autônomo ou assessor de uma corretora. Se houver uma campanha para ofertar determinado fundo de investimento ou produto bancário, como o assessor de investimentos poderá proteger 100% seus interesses? Basta ver a série de ofertas nada vantajosas feitas pelas corretoras na “Black Friday”…
E sugiro ainda conferir se aquele site de notícias pelo qual você se informa não pertence a uma instituição financeira que quer apenas lhe vender produtos de investimento. Custe o que custar…
Se você acompanha e se interessa pelo mercado financeiro, ótimo. Fica bem mais fácil separar as boas das más recomendações.
Considerando, contudo, que mais da metade dos brasileiros não conhece e não utiliza produtos de investimento e que a caderneta de poupança continua (até quando?) com destaque, sugiro que você estude melhor os profissionais a quem pretende delegar seus investimentos.
Já que seu fundo DI há tempos não rende grandes coisas, em meio a uma taxa básica de juros bem baixa, atualmente em 6,5% ao ano, você precisa se mexer mais para ganhar dinheiro DE VERDADE.
Se não pretende compreender melhor o universo econômico, está mais do que na hora de você parar de acreditar em contos de fada. Nenhum herói irá salvá-lo quando o prejuízo transbordar.
Por isso, muita atenção às “dicas espertas” para destinar o seu dinheiro. Desconfie mais, delegue menos. Ou, ao menos, escolha melhor o “posto”.
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