A fala do título é de Milton Temer, jornalista que foi deputado federal pelo PT, saindo em 2003 para fundar o PSol. Foi dita em entrevista ao jornal Fazendo Media em 2004, e ainda está disponível no site do periódico.
Vale a pena citar o trecho dessa fala. O entrevistador, Bruno Zornitta, ia fazendo uma pergunta: “Aproveitando esse gancho, eu estava lendo um artigo do Olavo de Carvalho no qual ele dizia…”, quando foi interrompido por Temer: “Não, não comenta o Olavo de Carvalho… Isso não deve ser tema de faculdade de Jornalismo. O Olavo de Carvalho não é para ser comentado”. E o entrevistador imediatamente acatou a ordem, calando.
Mesmíssima reação tiveram alguns professores da faculdade de História da UEM, semanas atrás, quando publicaram nota oficial declarando não se sentirem “representados” por outros professores que usam obras de Olavo de Carvalho na bibliografia do curso. Se pudessem, tenho certeza, fariam como os oito cineastas que participariam do festival de cinema de Pernambuco, o Cine PE, mas se recusaram a tanto porque dois filmes inclusos na mostra estariam alinhados, segundo eles, “à direita conservadora”: Real – o Plano por Trás da História, que ficcionaliza a criação do Plano Real, e O Jardim das Aflições, documentário sobre Olavo de Carvalho.
Mas não é só a esquerda que assim trata Olavo de Carvalho; também a “nova direita” age igualzinho. Em vídeo disponível nas redes sociais, Kim Kataguiri, um dos expoentes do Movimento Brasil Livre (MBL), ao tratar desse caso do Cine PE, apenas se referiu ao filme do Plano Real, sem nem sequer mencionar o outro sobre Olavo de Carvalho. Como se vê, mais afinado com o comando de Milton Temer, impossível.
Em verdade, desde a década de 1990 tem sido assim. Quando Olavo surgiu no debate público na imprensa carioca, acusando a elite intelectual de cumplicidade inconsciente com o banditismo, a reação foi de escândalo e nenhuma refutação. Pior ainda foi a “resposta” dada por uma revista científica a um artigo seu sobre Aristóteles, que demonstrava uma inépcia intelectual assustadora e que acabou também sendo objeto de polêmica em outro jornal carioca à mesma época.
Impressionado com a espantosa burrice – uso o termo aqui como constatação, não xingamento – com que a elite intelectual recebia seus artigos, Olavo passou então a desmascarar seus membros publicamente em novos artigos de jornal, dando nomes aos bois que formavam um verdadeiro “imbecil coletivo”, título que deu a dois de seus livros mais famosos e cujo “espírito” foi renovado com seu último best-seller: O Mínimo que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota.
Não conseguindo refutá-lo, a estratégia da intelligentsia passou a ser exatamente a confessada por MIlton Temer: “o Olavo de Carvalho não é para ser comentado”.
Com isso, fizeram um favor imenso ao filósofo. Aproveitando o crescimento da internet, foi se tornando cada vez mais independente da mídia e conseguindo atingir um público imenso, a ponto de, nos últimos anos, ter se tornado uma das maiores referências intelectuais para se entender o fenômeno do que se vem chamando de “nova direita” – que na verdade não tem unidade ainda, sendo mais um ajuntamento de descontentes do que outra coisa.
E a esquerda continua reagindo de modo burro – de novo, é constatação, não xingamento – e lhe ajudando até mais do que antes, como se vê com o boicote ao seu filme que serviu apenas para dar uma publicidade que jamais teria obtido sem os cineastas benfeitores. O caso foi parar em toda a grande imprensa e o absurdo do boicote ficou evidente para quem não está cego e surdo pela ideologia. Quem sabe não é sinal de que voltaremos à normalidade democrática, na qual é não só possível, mas necessário, comentar sobre Olavo de Carvalho, em vez de boicotá-lo e censurá-lo?
Bom começo seria assistir a esse filme que estreou semana passada e está em cartaz em algumas cidades do país – com salas lotadas, segundo informam seus produtores. Digo bom começo porque, para quem padece de olavofobia, será uma surpresa imensa conhecer o Olavo de Carvalho ali retratado, muito distante da imagem que o preconceito criou. E, a quem não sofre disso, será surpreendente também descobrir o homem que só seus alunos parecem conhecer.
Já aos que preferirem o grotesco “não vi e não gostei”, bem, aí só restará espernear como os cineastas pernambucanos e ser objeto de escárnio.
Certa vez Chico Buarque cantou: “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta”. Nada mais divertido do que ver que é exatamente isso que vem acontecendo com Olavo de Carvalho.
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Confira o arquivo de colunas de Francisco Escorsim publicadas na Gazeta do Povo até maio de 2017.