Ah, que saudades… Sim, estou sofrendo de abstinência eleitoral. Por onde andas, ó cabo Daciolo, que não te encontro em parte alguma, seja nos montes ou estátuas da Havan, restando de ti apenas as lembranças dos memes antigos, por quem daremos glória a deux pelos séculos dos séculos?
Ando tão saudoso que até por eleição da OAB me interessei. É grave, eu sei. Talvez não tenha cura, mas tem remédios. Um deles é Roberto Carlos, aquele. Nenhuma música sua tem me consolado mais do que Outra Vez (Você Foi). Lembra qual é só pelo título? Se sim, se não, aperte o play abaixo e me siga lendo e escutando, porque esta é uma coluna que precisa desse acompanhamento para ser devidamente compreendida:
Enquanto escutava no rádio um debate muito do insosso entre os candidatos à presidência da secção paranaense da OAB, na última segunda-feira, tudo que me vinha do coração era a lembrança querida das perguntas daciolas feitas com paixão bíblica, embaladas na minha memória por uma versão pessoal desse “clássico” do nosso rei: “Você foi o maior dos meus casos, de todos os candidatos, o que eu nunca esqueci”.
Eu sei, você nunca ficou tão angustiado, nervoso, apocalíptico como nesta eleição e deve estar sofrendo de estresse pós-traumático agora, não de síndrome de abstinência. Compreendo, até me compadeço, mas não consegui levar nada tão a sério assim. Embora tenha sido a eleição mais crucial desde a redemocratização, o que significa dizer que foi também a mais complicada de todas, por outro lado também foi a de escolha de voto mais fácil. Desde o começo ficou claro que a disputa era entre apoiadores de bandido e apoiadores da polícia. Só sofreu mesmo para escolher quem recusava essa realidade, daí a necessidade do riso exorcizante dos memes, não raro recusados pelas gentes histéricas alegando “isso é coisa muito séria para se fazer piada”. Aí vinha mais piada, claro. Ah, que saudades dessas piadas… “Você foi, das eleições que eu tive, a mais complicada e a mais simples pra mim.”
Por isso mesmo muita gente, ainda que não confesse, morre de medo que dê tudo errado. E se Bolsonaro fracassar, serei culpado? Chegarei ao ponto em que pensarei que melhor seria termos entregado o país ao governo de um presidiário cujo tom continua a nos trazer problemas? Ah, meu amigo, se chegar a esse ponto é porque o Brasil já era e aí teremos todos de escutar Roberto Carlos em volume funkeiro e beber até cair! “Você foi o melhor dos meus erros, a mais estranha história que alguém já escreveu. Você foi a mentira sincera, brincadeira mais séria que me aconteceu. Você foi a maldade que só me fez bem. Você foi o melhor dos meus planos e o maior dos enganos que eu pude fazer. E é por essas e outras que a minha saudade faz lembrar de tudo outra vez…”
Mas a verdade é que, até agora, o governo nem começou e mais acertou que errou. Quem ainda não desconectou da pilha eleitoral vem acompanhando a montagem do novo ministério com mais interesse do que convocação da seleção brasileira em época de Copa. Aliás, tivéssemos ganhado a Copa este ano e 2018 seria, esse sim, o ano que não deveria terminar nunca, não é? Mas eu me desconectei. Até acompanho o noticiário, procuro saber um pouco mais sobre os escolhidos, mas a verdade é que faço isso como quem tenta um novo relacionamento, mas tudo só faz lembrar da ex. Sergio Moro é o novo ministro da Justiça? OK, legal, melhor impossível. Impossível? Ora, se fosse o cabo Daciolo teríamos o ministro da Justiça Divina!
Eu sei que em algum momento terei de tocar a vida adiante e até que têm aparecido bons motivos para ter esperança. Viu aquela do deputado mineiro tirando sarro de um projeto de lei que ele mesmo tinha proposto e esqueceu? Essa é digna dos melhores momentos da eleição de 2018. O projeto era para instituir o “Dia Estadual do Coach” e o deputado esquecido, que era seu autor, assim se manifestou na sessão parlamentar: “Do coach (risos). Esses deputados, é brincadeira”. Segundos depois, ao ser relembrado de que era o autor, reagiu com estupor: “oi?”. Ah, esses deputados, é brincadeira. Mas glória a deux por coisas assim; senão, já imaginou quão difícil seria suportar nossa realidade?
Quer saber? Melhor não tentar esquecer as eleições de 2018. Não ainda, pelo menos. Vou é curtir minha saudade, sem peso na consciência, escutando meu Robertão até enjoar: “Esqueci de tentar te esquecer. Resolvi te querer por querer. Decidi te lembrar quantas vezes eu tenha vontade, sem nada perder.” Por que das lembranças que levarei nessa vida, essas eleições serão a saudade que eu gostarei de ter. Só assim sinto o cabo Daciolo bem perto de um meme outra vez.