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Sem contar a quantidade de ideologias que prometem algum tipo de final feliz para a história. Verdadeiras religiões substitutas nascidas no seio do Iluminismo que flertaram acima de qualquer suspeita com o poder. As mais ortodoxas e tradicionais são o liberalismo, o socialismo e o comunismo. Uns são moderados, outros radicais. Céticos ou dogmáticos. Nacionalistas ou internacionalistas. Pacifistas ou militaristas. Essas visões de mundo ditaram os principais conflitos no fim do século 19 e início do 20. Em vez de final feliz, entregaram tragédias — como um mero epifenômeno do entusiasmo pelo Bem. Lembrando que as tragédias do século 20 têm muito mais a ver com o fato de as pessoas terem sido verdadeiras devotas de sua própria bondade.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, com a tentativa de manter as narrativas sobre o final feliz da história, vem a Guerra Fria. Fracassou, ainda bem. Mais conflitos ideológicos se instauram. Intelectuais proclamavam o fim da história. Democracia liberal capitalista ou república socialista? A partir da queda do Muro de Berlim e do fracasso dessas lindas histórias, começam a pipocar as agendas pós-modernas que intensificam a fragmentação plural da sociedade com seus “grupos minoritários”: os negros, os LGBTQIA (não sei se é só isso), as mulheres, os indígenas e qualquer grupo que busque uma identidade a partir de sua vulnerabilidade e da benevolência compulsória. São novas e mais complexadas formas de religião substituta que precisam chamar o Estado de “Meu único Deus”.
O problema não é a pluralidade das crenças. O problema dos conflitos sociais é justamente a forma política do Estado moderno e a natureza teológica de sua soberania. O Estado moderno nasceu como príncipe para governar como tirano. Precisa fazer de tudo para oferecer respostas salvíficas como a única entidade capaz de garantir sua própria estabilidade, unidade e identidade. O Estado se encarnou como novo ídolo que se alimenta de conflitos e do que é conveniente para sua própria subsistência. É o deus parasita que vive de nossas pequenas misérias diárias, deus que cresce em poder com nossas mesquinharias. É, pois, a única religião que impõe culto à sua soberana forma política pela coerção e pela glória de mandar.