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Fogo no parquinho

Olavo de Carvalho é financiado por George Soros para desestabilizar a direita. Hamilton Mourão é comunista a soldo da Rússia com o intuito de tomar a presidência. Jair Bolsonaro foi eleito para dar aos militares um novo 64. Os militares estão sendo usados pela Fundação Ford para dar à esquerda um novo 68. Os caminhoneiros são os sovietes da reação. Steve Bannon prepara caminho para a eleição de Eduardo Bolsonaro. Eduardo Bolsonaro prepara caminho para a eleição de Steve Bannon. Carlos Bolsonaro ainda vai provar que a Terra é plana.

A confusão no governo é tamanha que qualquer uma dessas teorias (nem tão conspiratórias assim) tem fundamento e relação próxima com a verdade dos fatos. Se me jurassem eu acreditaria. Se me dissessem que a Dilma roubou a senha do Twitter do Bolsonaro, eu apostaria dinheiro nisso. Pois a verdade dos fatos é que a bagunça generalizada, com episódios do mais puro surrealismo, instalou-se no Planalto e lá começa a criar raízes.

Ninguém precisa se opor a um governo que se opõe a si mesmo. Os líderes da esquerda devem estar com medo de perder o emprego de oposição predatória e irresponsável. Repito: o governo se opõe a si mesmo e isso não é ironia nem exagero. É a descrição precisa do que tem acontecido dia após dia. Qualquer crítica aos críticos, qualquer agressão à imprensa, sinto dizer, peca por desonestidade. Quem montou os quadros do governo não foi a Miriam Leitão. Quem escolheu o vice-presidente não foi o Ricardo Noblat. Quem agride os militares não é a Madeleine Lacsko. Quem escolheu o Ricardo Velez Rodriguez, hoje tido como traidor, não fui eu.

Jair Bolsonaro rejeitou o modo tradicional de se montar ministérios e negociar influências, fez pose de independente e decidiu tudo a seu modo muito particular. Em tese, problema nenhum. Problema nenhum haveria se as escolhas fossem boas (algumas são) e se os melhores entre os escolhidos fossem protagonistas (poucos são).

Talvez o eleitor resmungue: “É cedo para criticar!” Não vejo da mesma forma, mas admitamos que sim, é cedo para criticar. Então avisem o muito ponderado Olavo de Carvalho, que tem criticado ministros e o vice-presidente com a fúria de profeta bíblico; expliquem direitinho aos filhinhas da Dona Armênia, pois eles criam, cultivam e repercutem intrigas palacianas como se estivéssemos em fim de feira – ou de governo; orientem o voluntarioso presidente, que interfere em política econômica e divulga ofensas ao vice que ele mesmo escolheu.

Tudo isso é muito mais sério do que parece. O fogo contra o governo tem origem no próprio governo, dilacerado entre miúdos poderes e mesquinhos personagens, todos disputando espaço e influência com uma falta de lealdade que envergonharia os chefões da máfia. Se há desgaste, se ministros já caíram, se funcionários já foram trocados, se a imprensa ganhou polêmicas e manchetes gratuitas para explorar – a culpa não é minha, não é sua, não é da Maria nem do José. É de quem foi eleito com mais de 50 milhões de votos para governar um país, porém se ocupa de crises familiares e intrigas filiais. Não torço contra o governo, nem faria diferença se torcesse. O governo torce contra si mesmo. Nisso é competente como poucos.

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