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Boicote da esquerda à posse de Bolsonaro revela descompromisso com a democracia

Foto: Ricardo Stuckert. (Foto: )

Em mais um sinal de descompromisso com a democracia, parte da esquerda, inclusive o PT, resolveu boicotar a posse do presidente Jair Bolsonaro. Essa é uma esquerda que se diz democrática, mas seus atos contradizem frontalmente o discurso. Quer questionar as credenciais democráticas de Bolsonaro enquanto segue apoiando as “democracias” venezuelana, nicaraguense e, pasmem, a cubana.

Para defender os ilusórios ganhos da revolução comunista naqueles países, não hesita em apoiar atropelos às liberdades e fechar os olhos ao uso criminoso da força com fins políticos. De acordo com o argumento que justifica o cheque em branco concedido aos governos autoritários, o que seriam alguns “erros” desses regimes diante de seu sentido ulterior, “popular” e anti-imperialista?

Os “excessos” de Maduro, a “resposta enérgica” de Ortega diante dos protestos contra seu governo e o encarceramento de “contrarrevolucionários” em Cuba seriam, dessa perspectiva distorcida, males menores se comparados ao objetivo de garantir as transformações sociais prometidas que, sabemos bem, jamais foram alcançadas.

Nesse sentido, as regras do jogo democrático passam a ser mero adorno diante da prioridade de manter o poder. É por isso que a democracia é, para boa parte da esquerda, apenas uma via para chegar ao poder e não um valor em si, que comporta a alternância no governo e a existência de instituições livres. É a concepção instrumental da democracia, bem ao gosto dos intelectuais gramscianos, que pululam na imprensa, na academia e em partes do Estado.

Esse tipo de impostura, que vige na Venezuela, Nicarágua e Cuba, é adotada por nossa esquerda sem titubeios, embora com menos sucesso aqui, graças a uma sociedade conservadora em seu núcleo de valores e hoje atenta aos perigos da ideologia comunista.

No Brasil, o Estado de Direito Democrático funcionou para punir uma presidente de esquerda e para levar ao poder um líder conservador que pretende regenerar o país, então é preciso desqualificar o processo. Lá, nos países comunistas, o sufocamento das liberdades serve ao propósito de manter governos de esquerda no poder, então é preciso edulcorar as arbitrariedades.

Isso explica por que a esquerda brasileira critica um processo eleitoral e um movimento cívico de ampla base popular no Brasil, mas não hesita em apoiar atropelos autoritários promovidos por regimes comunistas no nosso continente.

A concepção instrumental da democracia é uma forma disfarçada de autoritarismo comunista. A esquerda brasileira demonstra sua fidelidade a essa vertente de pensamento ao boicotar a posse de Bolsonaro e apoiar ditaduras brutais. De maneira infantil, esperneia quando é contrariada, dá chilique quando não ganha eleições, atribuindo suas derrotas ao suposto jogo sujo dos outros, incapaz que é de enfrentar seus próprios demônios.

Talvez seja demais esperar que a esquerda brasileira abrace a democracia para valer, já que isso significaria na prática abandonar o comunismo. Antes de boicotar a democracia de maneira histriônica, contudo, poderiam preservar as aparências, aplicando seus próprios textos sagrados, como o famoso opúsculo de Lênin: “Esquerdismo, a doença infantil do comunismo”.

Nossa esquerda atrasada não parece disposta a buscar solução para a patologia do desprezo profundo pelas instituições do Estado de Direito, pelas liberdades fundamentais e pela democracia.

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