A mudança de fundo que se esperava com os 30 anos da Nova República começou a entregar os seus primeiro efeitos. Um movimento que começa com as manifestações de 2013 e chega ao seu ápice aplicando um doloroso golpe nos principais nomes da política nacional, deslocando o eixo do parlamento mais para a direita. As indicações são que as mudanças não param por aí.
Ao rebaixar os partidos de centro para o segundo escalão da política nacional, a ascensão da direita também deixou feridos na cúpula desses grupos. O melancólico desempenho de Geraldo Alckmin (PSDB), representante por excelência do sistema, é o símbolo deste fracasso, que simboliza a decadência de lideranças que finalmente devem partir de forma definitiva do cenário político.
Os reflexos deste movimento foram sentidos no Senado, onde praticamente toda sua cúpula foi derrotada nas urnas. Por mais que os políticos tenham tentado evitar o ímpeto reformista do eleitor diante de regras rígidas, a renovação foi a tônica da eleição. A população votou com raiva e indignação. O resultado não poderia ser diferente.
A ascensão desta nova direita, que aos poucos ainda vai se encontrar e amadurecer no Parlamento, é na verdade o início de um novo ciclo político que começa nesta transição. Estamos diante de uma mudança profunda provocada pelo eleitor que irá abrir um reordenamento de forças no Parlamento e por consequência na política nacional. A chegada da direita com número e força desloca atores e realinha o processo político. Explico.
MDB e PSDB encolheram de forma substancial, praticamente perdendo metade de suas bancadas. Tornaram-se agremiações médias, fazendo espaço para a acomodação do PSL, que chega ao Parlamento com a soma de deputados perdidos por tucanos e emedebistas. Com PT e PSL comandando as duas maiores bancadas da Câmara, PSDB e MDB passam a integrar o bloco de partidos formados pelo PP, PSB, PSD e PR ao redor de 30 deputados.
O jogo político passará a ocorrer dentro desta polarização entre situação e oposição, ocupadas a partir de agora por PSL e PT, antagonistas no tabuleiro parlamentar, seja quem for o eleito. Os partidos médios passam a coadjuvantes da luta política ideológica que deve ser travada por esquerda e direita.
Aos poucos esta dinâmica fará o jogo se movimentar e novos atores se acomodarem, como os parlamentares do Novo e das bancadas transversais que já declararam apoio a Jair Bolsonaro, como a evangélica e da agropecuária.
Diante deste quadro, a tendência que se apresenta é de vitória de Bolsonaro, uma vez que o eleitor mandou sinais claros de desejo de renovação. Enquanto a direita vem em curva ascendente, a esquerda vem em sentido contrário, o que fortalece esta tese. Doria em São Paulo, Zema em Minas Gerais e Witzel no Rio de Janeiro serão os principais palanques estaduais que podem impulsionar o deputado para a vitória presidencial. De qualquer forma, o PT não pode ser subestimado, uma vez que possui penetração na sociedade, militância dedicada e uma máquina eleitoral poderosa.
Estamos diante de um segundo turno muito disputado, mas também de uma nova ordem política que impulsiona a renovação e já mandou seu recado neste domingo. A conferir.