Não existe nada mais falso do que a crença geral de que o petismo foi sepultado com o impeachment de Dilma. O partido está organizado, tem estratégia e sabe como poucos vencer eleições. Diante de um cenário fragmentado e um governo impopular, não é ingenuidade acreditar que mais uma vez pode chegar ao Planalto pelo voto popular.
Apesar de Fernando Haddad pontuar no terceiro pelotão, quando os pesquisadores adicionam a informação de que ele será o representante de Lula na disputa, o petista salta para um segundo lugar isolado, abaixo apenas de Jair Bolsonaro (PSL). A soma de votos dele, ao lado de Manuela D’Ávila (PCdoB), que ocupará a vice no caso da impugnação de Lula, faz o candidato se distanciar ainda mais na vice-liderança. Isto sem campanha, esforço ou mobilização da militância.
A força do petismo vem de muitos lugares, mas especialmente do Nordeste, bastião vermelho que tem ajudado o partido a vencer eleições. Na Bahia, reina sozinho. Deve reeleger o governador com folga e ainda levar as vagas para o Senado. Em Alagoas, a família Calheiros, que controla o governo do estado, está alinhada com o projeto petista. Em Pernambuco, o PSB fechou aliança com o PT para apoiar Haddad no plano nacional. No Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra lidera com folga para o governo. No Maranhão, o governador Flávio Dino apoia o PT, uma vez que a vice, Manuela, é também do seu partido, o PCdoB. No Ceará, o governador petista Camilo Santana busca a reeleição, enquanto o mesmo acontece no Piauí com Wellington Dias.
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O PT ainda conta com o segundo maior fundo eleitoral do país. O partido recebe este ano R$ 212 milhões dos cofres públicos para aplicar nas suas campanhas. Este montante aliado a uma boa estratégia de comunicação, seja na parte digital, em redes sociais, como na televisão, um trabalho que o partido faz tradicionalmente muito bem, pode se tornar um importante diferencial. Alguém duvida que Lula tenha perdido a oportunidade de gravar imagens com apoios a Haddad e Manuela?
Apesar dos tucanos serem clientes do petismo, estou certo que o lado vermelho neste ano prefere enfrentar Bolsonaro. A conta é simples. Em um eventual segundo turno entre o capitão e o petista, a classe política ficará ao lado de Haddad. O PT é velho conhecido do establishment e seus representantes já sabem como seria a divisão do bolo. Preferem isso a apoiar o desconhecido. Bolsonaro seria um salto no escuro para a classe política tradicional.
Portanto, Geraldo Alckmin pode se preparar para apanhar do PT na televisão, rádio e redes sociais. A perspectiva de poder para o petismo é muito mais nítida disputando com Bolsonaro do que com Alckmin a rodada final.
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Além disso, a imagem da dupla Haddad-Manuela tem um bom apelo eleitoral. Longe de incorporar a figura do sindicalista de porta de fábrica, Haddad vende uma imagem moderada. É advogado, mestre em economia e doutor em filosofia. Professor da USP, foi ministro da Educação e prefeito de São Paulo. Isto significa que apesar de petista, pode ser absorvido de forma mais suave pela classe média.
Isto não significa que o partido está com as mãos na taça, mas explica o potencial subestimado pelos adversários que desdenham de suas chances. Impulsionado por Lula, diante de um fundo eleitoral robusto e palanques fortes no Nordeste, Haddad tentará se credenciar para o segundo turno. O truque da reencarnação de Lula pode funcionar e a volta ao poder certamente terá um sabor especial de revanche – um risco enorme para nossa democracia. O alerta vermelho está acionado.