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O risco autocrático não deve ser desprezado

Foto: Reprodução/Twitter (Foto: )

“A democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais”, dizia Winston Churchill. Ao mesmo tempo que sabemos disso, vemos que o mundo não anda lá tão feliz com suas democracias. Com os regimes totalitários tratados como párias pela sociedade internacional, cada vez mais começam a surgir autocracias como forma de mascarar regimes autoritários que se perpetuam no poder.

A palavra autocracia vem do grego e significa governo por si próprio. A versão moderna difere dos padrões autoritários corriqueiros porque se submete às urnas, sendo escolhido pelo povo. Isto reveste a autocracia de um falso sentido democrático e legitima governos que sabem usar a força, seja contra seus críticos, ou mesmo opositores no campo político.

Este tipo de governo precisa interferir na economia, que sob sua influência pode ser manobrada temporariamente para servir aos interesses do autocrata e seu grupo. Direciona propaganda governamental aos veículos fiéis, desonera setores em momentos estratégicos e força ciclos de crescimento perto dos períodos eleitorais. Desta forma colhe apoio na imprensa e em largas camadas da população.

Assim, o crescimento das autocracias tem deixado o mundo em alerta. São regimes populistas que dialogam diretamente com a população. São clientelistas, pois transformam o povo em consumidor dos seus préstimos. A figura paternalista do líder é essencial para dar vida ao fascínio produzido por suas políticas assistencialistas que viciam a sociedade na ajuda do governo.

A América Latina experimentou uma derivação deste modelo, o chamado neopopulismo, também uma forma de autocracia centrada em um líder, mas que neste corte absorve elementos sociais e étnicos por meio de uma suposta inclusão simbólica. Uma ligação carismática entre eleitores e políticos, baseada na ideia de conflito, funciona como combustível para alegarem liderança e encontrar caminhos em direção ao poder autocrático.

Turquia e Rússia hoje são exemplos clássicos de regimes autocráticos. Recep Erdogan está no poder desde 2003, sendo continuamente reeleito entre os cargos de primeiro ministro e presidente. O mesmo acontece com Vladimir Putin desde 1999. A Venezuela, que seguia este caminho com Hugo Chávez, sucumbiu diante de Nicolás Maduro, que implantou uma ditadura de fato. O fascínio pela autocracia moderna, que usa instrumentos da democracia para se legitimar, é algo que deve ser observado com atenção e cautela.

É preciso entender que democracia é muito mais do que eleições livres. O sufrágio é apenas o corolário da soma de uma série de princípios e liberdades, que passam pela transparência da administração pública, judiciário independente, exercício da cidadania, separação de poderes e garantia de direitos individuais. Se formos observar atentamente, as autocracias ferem estes elementos, escondendo-se apenas atrás do sufrágio, definindo-o como único fator característico de uma democracia.

As eleições deste ano mais uma vez trazem a dúvida sobre a possível ruptura do sistema vigente mediante a implementação de uma democracia maquiada. A corrupção generalizada e a pobreza funcionam como combustível desta realidade. O risco da autocracia, que já rondou nossas terras em um passado recente, pode finalmente desembarcar por aqui no próximo ano, sempre impulsionada pela febre do populismo.

Enquanto a maioria fala em ditadura, esquecem de sua vertente mais perigosa e dissimulada, capaz de ferir a democracia em seu âmago. A autocracia não escolhe ideologia e pode chegar de qualquer lado do espectro político. Devemos aprender com os erros do passado e deixar de flertar mais uma vez com a irresponsabilidade.

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