Os tucanos trabalharam nesta campanha como linha auxiliar do petismo. Isto decorre da falta de um projeto orgânico de partido para o país, acima das vaidades pessoais, aliada a falta de uma leitura certeira do cenário político eleitoral deste ano. O PSDB, assim como outros partidos, tinha em seus quadros nomes viáveis para a disputa presidencial. Todos acabaram por embaralhar-se em um emaranhado de negociações e soberba política, algo que acabou entregando de presente para Jair Bolsonaro o discurso antipetista.
João Doria fez a leitura certa deste pleito presidencial. Sabia que existia uma via aberta contra o PT. Desde o princípio antagonizou com o partido, assumindo a linha de frente dos ataques contra Lula. Com bom trânsito entre os aliados e os caciques de Brasília, o ex-prefeito de São Paulo era o nome preferido do mundo político para a missão, mas havia um impeditivo no meio de tanto entusiasmo: Geraldo Alckmin, que também queria ser candidato.
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Nas hostes tucanas, Alckmin teria precedência em relação a Doria, uma vez que era um membro fundador do PSDB e depois dos insucessos de José Serra e Aécio Neves, havia chegado novamente a sua vez. Nada de primárias ou consultas nas bases. Como sempre, o partido escolheria seu candidato perto das benesses oficiais e longe do pulsar das ruas. Um acordo entre caciques.
No centrão, o Democratas também possuía uma joia eleitoral em suas mãos: Ronaldo Caiado. Com trânsito no eleitorado da direita, dono de um discurso firme contra o petismo, manteve também uma postura cética e uma distância regulamentar do governo Temer. Com apoio no agronegócio, tinha o perfil perfeito para encarar esta disputa presidencial e vencer. Seu partido, o Democratas, preferiu tomar outro rumo. Caiado será eleito governador de Goiás com uma votação épica.
Faltou nestes casos, tanto ao PSDB, quanto ao DEM, a ideia de que é mais importante chegar ao poder e implementar sua agenda, do que a vaidade e interesses pessoais dos caciques. Os partidos brasileiros ainda não aprenderam uma lição básica da política: precisam se aglutinar em torno de um programa e escolher o nome mais viável eleitoralmente. Isto fortalece o partido e suas bases. Chapas orquestradas dentro dos gabinetes e longe das ruas geralmente resultam em fracassos eleitorais.
Doria e Caiado teriam condições de aglutinar apoios de centro-direita que certamente dividiriam o eleitorado de Bolsonaro. Seus partidos, entretanto, se equivocaram nas escolhas. Hoje, reféns de uma candidatura natimorta, sem conexão com os desejos do eleitor, os tucanos e seus aliados temem pela ascensão do deputado-capitão, que já ultrapassa os 30% das intenções de voto.
Bolsonaro surge no vácuo deixado pela inabilidade política daqueles que tinham chance de absorver o antipetismo. Erraram na avaliação de que o Brasil escolheria o caminho do meio. Ao se impor como candidato, Alckmin empurrou o voto antipetista para Bolsonaro. Ao atacar o capitão, colheu uma rejeição que implodiu sua campanha e abriu espaço para Haddad crescer. Uma sucessão de erros que levou à polarização do cenário eleitoral.
De antigos protagonistas, aqueles partidos que poderiam chegar ao Planalto acompanharão a apuração como meros espectadores, certos de que os votos que poderiam levá-los ao poder repousam confortavelmente nas mãos de Bolsonaro. Uma vitória, que se confirmada, alterará de maneira profunda o jogo de forças da política brasileira.