“O ciclo 64-85 foi querido pela sociedade brasileira. Os militares não caíram de Marte. Eles foram chamados para corrigir, como uma espécie de poder moderador, os rumos enviesados que [sic] tinha enveredado a República”.
Confesso, o meu texto de hoje já estava pronto. Na agulha, como diriam os mais antigos. O mote era Sérgio Moro e o fato da sua imagem definhar a olhos vistos, de maneira verdadeiramente espetacular, graças à escolha desastrada que fez de se juntar a uma turma inimiga dos preceitos que ele próprio defendeu enquanto era juiz e prócer da Lava Jato.
E então o colombiano resolveu falar.
Que fique claro — me antecipo aqui aos faniquitos típicos do momento e à desfaçatez de quem lançar mão do politicamente correto em seu favor —, não tenho absolutamente nada a reclamar dos colombianos. Pontuo a origem de Ricardo Vélez Rodríguez apenas para iluminar algo que me parece inquestionável: fosse o presidente Fernando Haddad, Dilma Rousseff ou Lula a nomear um estrangeiro para o ministério, especialmente um sul-americano, e o caos se instalaria.
Dito isso, se a minha repulsa ao comentário do ministro da Educação conversa com a sua origem tampouco se justifica pela ideologia ou pelo conservadorismo mequetrefe que ele tenta impor a uma sociedade plural e mista como a nossa. O ponto é que Rodríguez ofendeu a história brasileira. A história e a memória. Acima de tudo, sapateou no sofrimento de quem foi covardemente torturado porões afora.
Confesso a você, que me lê, o meu desalento. Não votei em Jair Bolsonaro e nem tampouco em Fernando Haddad. Definido o segundo turno e encaminhada a vitória do bolsonarismo, passei a esperar por um mínimo de competência, exageros na retórica que garantiu o sucesso eleitoral e firmeza no que diz respeito à agenda anticorrupção.
Pois bem, não só os sinais de amadorismo são alarmantes e em menos de um mês já tivemos indícios claros de cacoetes típicos da velha política, com ênfase para o possível envolvimento do poder máximo com milicianos, como o discurso comum aos palanques só faz crescer.
Há quem insista na tese de que somente a economia interessa. De que para além dela só restam platitudes. É uma meia verdade.
Ricardo Vélez Rodríguez não comanda uma pasta qualquer. É ministro da Educação. Ministro da Educação em um país de deseducados, com professores desvalorizados e crianças soltas pelas ruas, sem condições de frequentar escolas particulares.
Devo dizer, dentre os componentes da exótica tríade ministerial, composta pelo próprio Rodríguez, por Damares Alvez e Ernesto Araújo, este último é o que sempre me preocupou sobremaneira. Afinal, o estrago que um chanceler pode fazer na imagem de uma nação é mais direto. Em alguns casos quase imediato.
A partir de hoje, porém, sou obrigado a ficar de orelhas levantadas também com o colombiano.
Não, não acho que ele será capaz de transformar o país radicalmente com essa retórica rudimentar e bobagens à la Escola Sem Partido.
Todavia, não deixa de ser alguém obcecado a ponto de negar a história.
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