Vista da torre ocupada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT).
É como se o aluguel tivesse ficado mais pesado para os órgãos no meio do contrato, porque a partir do Teto eles passaram a ser de fato responsáveis pelo próprio dinheiro. A contenção de desperdícios foi incentivada. Pode-se continuar gastando R$ 2 milhões mensais com aluguel de prédio corporativo, mas isso diminui a disponibilidade para outras despesas, inclusive aumentos salariais ou novos concursos.
A falta de razoabilidade pode ser visualizada no contraste da figura abaixo. O complexo tem “auditório integrado a um belo foyeur”, e a imagem mostra sua utilização com o Ministério Público do Trabalho realizando seminário sobre trabalho escravo.
Seminário sobre trabalho escravo, no auditório do centro empresarial.
Em que pese a crise que derrubou os preços de mercado dos imóveis, a história do centro empresarial mostra a beleza do teto de gastos e aponta para a gordura que havia nos contratos. Mesmo com os órgãos públicos pagando muito menos, ainda não foi vantajoso para o locador trocar de inquilinos e de fato abrigar empresas no centro empresarial. Por quê?
Ainda que troquem de prédios ao fim dos contratos, durante esse governo, o contribuinte gastou centenas de milhões de reais com a ocupação do complexo pelos órgãos desde 2015. Por baixo, foi dinheiro suficiente para manter por todo o período mais de 20 mil famílias no Bolsa Família.
O constrangimento sobre o deus Hermes
O constrangimento não é só do leitor: a própria Defensoria Pública publicou em seu site oficial um texto envergonhado sobre sua nova sede (a DPU foi recentemente a favor do indulto de Natal, porque faltam espaços nos presídios). O motivo: o empreendimento se reúne ao redor de uma estátua do deus Hermes, ao centro de um espelho d’água.
Jardins do centro empresarial CNC, com espelho d’água e estátua de Hermes.
Só que Hermes é o deus grego do comércio, dos mercadores. Não ria, mas o seguinte trecho é retirado do site da DPU, e não há como não fechar a coluna sem ele:
“No entanto, a Defensoria Pública prefere fazer um recorte mais direcionado às atividades finalísticas da instituição e realizar uma hermenêutica mais social para a representatividade simbólica da estátua que recepciona os hipossuficientes que procuram diariamente a DPU.
Hermes na mitologia grega (mercúrio na mitologia romana) é filho de Zeus e por ser seu mensageiro é possuidor de vários atributos. (…) O defensor público possui missão semelhante à tarefa de Hermes: levar mensagens entre realidades diferentes, aparentemente distantes e com linguagens diferentes.
É assim, portanto, que o defensor público recebe os clamores das comunidades mais estigmatizadas socialmente – v.g., as comunidades dos presídios, das favelas (…) Sem o mensageiro, tais interesses restariam esquecidos e a legitimidade democrática do poder julgador seria inevitavelmente reduzida e a democracia seria mitigada.
O que é a Defensoria Pública senão uma mensageira dos vulneráveis e excluídos? (…) É assim, nesta hermenêutica defensorial, que atualmente Hermes recepciona os visitantes e assistidos da Defensoria Pública da União em sua nova sede.”
* Na internet, outros informativos reportam um número de andar por torre menor.
Leia mais: Todas as colunas de Pedro Fernando Nery