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AFP PHOTO / OLIVIER MORIN| Foto:

Recebeu um presente ruim? Uma roupa que não cabe ou não faz seu tipo? Uma tralha sem uso, que nunca compraria? Um brinquedo repetido para o filho? Agora imagine a soma dessas bugigangas nos lares brasileiros. O desperdício na economia pode ter sido entre R$ 4 e R$ 12 bilhões.

O dia 26 é o dia em que começam as trocas: no jargão dos economistas, dia de minimizar uma ineficiência gigantesca. Na coluna especial de hoje, explico por que alguns economistas não gostam do Papai Noel.

O peso morto do Natal

Uma pesquisa do professor Joel Waldfoguel buscou calcular este desperdício. Estudantes de Yale foram entrevistados sobre os presentes que ganharam. Se fossem eles mesmos comprar, o quanto que pagariam pelo que receberam? Ou ainda, qual a quantia de dinheiro que gostariam de receber em troca do presente?

Esses valores foram comparados ao valor que os entrevistados achavam que os presentes de fato custaram.  A comparação mostra o desperdício dos presentes de Natal. O resultado, publicado em uma das principais revistas da profissão, é um desperdício entre 10% e um terço do valor dos presentes!

Se aplicarmos esses percentuais para o Natal brasileiro, o desperdício ficou entre R$ 4 e 12 bilhões, com base nas estimativas paras as vendas feitas pela Confederação Nacional do Comércio (CNC).

Como define o economista Tyler Cowen, da Universidade George Mason, quando as pessoas compram um produto para si, cria-se valor: “o comprador valoriza mais o produto do que ele custa para ser produzido”. Então o contrário acontece com presentes não escolhidos e ruins: destruição de valor.

Mas a pesquisa de Yale mostrou também que o desperdício varia de acordo com quem está presenteando. Amigos e pessoas próximas acertam mais. Pais e irmãos um pouco menos. Quem erra mesmo são os familiares mais distantes, como avós e tios – os principais responsáveis pela destruição de bilhões na economia.

Mais uma na conta do tio do pavê.

Qual a solução para o Natal?

É claro que a amostra de estudantes de Yale dos anos 90 pode não ser representativa da população brasileira, mesmo adotando um intervalo razoável na projeção.

É evidente também que há outros valores associados à troca de presentes de Natal, ignorados em nossa análise fria sobre os valores financeiros de presentes que jamais serão usados ou não geram satisfação equivalente ao que custaram. Entre eles, os valores sentimentais tanto de quem é presenteado quanto de quem presenteia.

Ademais, pode-se alegar que a economia mais aquecida compensa os desperdícios. Neste caso, o economista cético diria que a situação seria ainda melhor se em vez de trocar presentes trocássemos simplesmente envelopes de dinheiro – e cada um compraria o seu próprio presente.

Outro problema do Natal é levantado por Alex Tabarrok, também da George Mason. Ele coloca a hipótese de o consumo do Natal drenar dinheiro que as famílias poderiam estar poupando e investindo. Em longo prazo, a poupança tem mais impacto do que o consumo sobre o crescimento da economia.

Contudo, o leitor pode se consolar com as respostas a um fórum que periodicamente pergunta aos principais economistas do mundo opiniões sobre diversos assuntos.

Prêmios Nobel, pesquisadores de Harvard, MIT, Chicago e outras universidades, responderam a duas questões que tratamos aqui. A maioria discorda da afirmação de que dar presentes no Natal seja ineficiente porque os presenteados estariam melhor se recebessem o dinheiro. E a maioria concorda que os gastos com presentes, festas e viagens nessa época têm mais ganhos do que perdas para a sociedade.

Nos vemos ano que vem. Desejo ótimas festas para o paciente leitor e os seus!

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