Curitiba comemora 331 anos em 2024. Para celebrar, Gazeta do Povo, A.Yoshii e Elo Empresas apresentam uma série de conteúdos que destacam por que a capital paranaense é a cidade mais inteligente do mundo. Conheça as iniciativas inovadoras que educarão Curitiba nos próximos 331 anos.
Na medida em que as crianças aprendem a usar uma tela sensível ao toque antes mesmo de aprenderem a andar e falar, o papel da tecnologia na educação é um debate cada vez mais urgente entre familiares, educadores e o poder público.
Esse debate vai além de incorporar ou banir aparelhos, como o Rio de Janeiro fez ao proibir os celulares nas escolas, recentemente. É necessário pensar em novos métodos de ensinar, que considerem os impactos da tecnologia na vida das crianças, dentro e fora da sala de aula.
Ao que tudo indica, Curitiba está se tornando uma referência em inovação na educação — assim como se tornou ícone de sustentabilidade e mobilidade urbana em décadas passadas.
Esse processo de transformação é algo que depende de muitos fatores, incluindo as próprias crianças e suas famílias, mas também passa pelas políticas públicas de ensino e, em especial, pelos locais onde isso tudo acontece: as escolas. Nesse sentido, a inovação pode ser notada não apenas nas escolas particulares, que têm mais recursos para investir nisso, mas também na rede pública de Curitiba.
Série de Conteúdos 331 Anos: entenda por que Curitiba é a cidade mais inteligente do mundo.
Escolas sem carteiras e com muita tecnologia
Um dos principais caminhos para solucionar essa problemática da tecnologia na educação é o chamado ensino híbrido, que incorpora esses dispositivos à sala de aula.
Esse caminho foi o escolhido pelo Colégio Amplação, que fica no Neoville. Lá, a tecnologia é encarada como um recurso agregador — conceito da pedagogia onde novas abordagens são utilizadas para auxiliar no aprendizado, tornando-o mais rico e estimulante. Na prática, esse conceito é aplicado com materiais didáticos do sistema SAE Digital, uma plataforma que traz a realidade aumentada e jogos educativos para as aulas, sempre de acordo com a faixa etária dos estudantes.
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Segundo a instituição, as tecnologias incorporadas à sala de aula permitem que as crianças desenvolvam habilidades de liderança, raciocínio lógico e resolução de problemas. Isto é, habilidades que também são essenciais na vida longe das telas.
Mas quem convive com crianças sabe que a influência da tecnologia nessa nova geração vai além da predileção por atividades em frente às telas. Elas também são mais independentes para buscar conteúdos e responder às próprias dúvidas. Isso transforma a relação com os professores, que deixam de ser a única fonte do conhecimento — exigindo também mudanças nos métodos de ensino.
No Colégio Amplação, os professores seguem a filosofia Reggio Emilia. Essa abordagem da pedagogia foca em desenvolver as habilidades da criança de forma autônoma e independente — confiando em suas capacidades de escolha e protagonismo. Nesse contexto, os conteúdos não são trabalhados de forma tradicional, mas com métodos interdisciplinares, onde o aluno é incentivado a buscar informações, refletir criticamente sobre o que lê e expressar seus pontos de vista para a turma. Com isso, o trabalho em equipe também é valorizado.
Para colocar essa filosofia em prática, o Colégio Amplação mudou até suas salas de aula, que não têm mais carteiras tradicionais dispostas em filas. Nas salas 360º do colégio, o mobiliário é dinâmico, podendo ser disposto em várias configurações de acordo com as atividades. Em boa parte do tempo, os alunos se sentam em círculos, com o professor circulando livremente pelo espaço — e, em outras atividades, eles se reúnem em grupos por estações de trabalho.
Além disso, uma parte dos móveis no Colégio Amplação pode ser desdobrada para formar os tablados usados em debates e assembleias. Em outros ambientes, os alunos contam com um espaço bilíngue, ideal para conversar em inglês tanto com os colegas, quanto com pessoas de outros países por videochamadas.
Em meio a essas mudanças, o professor deixa de ser a única fonte de conhecimento, como comentamos. Seu papel continua sendo muito importante, é claro, mas como um mediador e incentivador de uma busca que parte das próprias crianças, que têm cada vez mais iniciativa.
A Curitiba dos Faróis do Saber e da cultura maker
Assim como uma andorinha só não faz verão, um colégio particular somente não consegue transformar a educação de uma cidade — até porque grande parte das crianças precisa recorrer à rede pública de ensino. A boa notícia é que a educação de Curitiba também está se movimentando nesse sentido.
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Em um plano geral, é interessante observar que Curitiba integra a rede de Cidades Educadoras — com mais de 500 cidades em 36 países — desde 2019. Em maio de 2024, a cidade deve sediar o Congresso Internacional das Cidades Educadoras, para debater políticas públicas na área e buscar novas formas de inovar.
A secretária municipal de Educação, Maria Sílvia Bacila, também acredita que os estudantes devem ser os protagonistas do processo de aprendizagem — e que a rede pública de Curitiba proporciona estrutura para estudar dessa forma. Entre as iniciativas que tornam isso possível, não podemos deixar de citar os famosos Faróis do Saber.
Agora chamados de Faróis do Saber e da Inovação, os espaços inaugurados nos anos 1990 foram as primeiras “lan houses” públicas e gratuitas da cidade e o primeiro contato de gerações de "curitibinhas" com a tecnologia. Em sua versão modernizada, os 32 Faróis oferecem aulas de programação e equipes de robótica, além de equipamentos como impressora 3D e óculos de realidade virtual. Além disso, a rede oferece uma oficina maker no Laboratório Pedagógico de Inovação, dentro da Secretaria de Educação, bastante usada na formação dos professores.
Mesmo com tantas inovações, uma coisa não mudou nos Faróis do Saber: eles são usados por crianças de toda a rede de ensino curitibana, além de serem abertas à comunidade.
Investimento de 128 milhões em tecnologia
Além dos 32 espaços em forma de farol que se destacam na paisagem da cidade, a Prefeitura também estendeu esse projeto para os CMEIs (Centros Municipais de Educação Infantil), com os Faróis Móveis.
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Os pequenos carrinhos em forma de farol são oficinas maker sobre rodas, que os professores das instituições podem transportar pelas salas de aula e usar em diversas atividades. Dentro dos carrinhos, temos impressoras 3D, óculos de realidade virtual, microscópio, lupas, caixa de luz, globo terrestre, binóculos, caneta de luz negra e outros equipamentos.
Os Faróis Móveis chegaram aos CMEIs como parte de um investimento de R$ 128 milhões da Prefeitura. Desde 2021, essa verba trouxe tablets, celulares, centrais multimídia, kits robótica e outras tecnologias para as escolas municipais, beneficiando os 140 mil estudantes da rede.
Futebol de Robôs nas escolas, com vitórias internacionais
Para reconhecer os alunos que se destacam nessas atividades inovadoras, Curitiba também realiza eventos como a Mostra de Robótica. A última edição, realizada em novembro de 2023, reuniu 350 estudantes e 20 professores na Cidade Industrial de Curitiba. Além de exibição de peças criadas com os kits de robótica, os alunos disputaram futebol de robôs.
Segundo a Secretaria de Educação, essas ações e projetos oferecem um aprendizado prático ao aluno, desenvolvendo sua capacidade de pensar e desafiando-o a encontrar soluções para os desafios propostos. Além disso, elas são atividades multidisciplinares que envolvem conceitos de matemática, física, ciências, computação, engenharia e design. Até mesmo em outras áreas do conhecimento, como as linguagens e ciências humanas, a robótica é útil.
Para além de suas atividades próprias, a Prefeitura também incentiva seus alunos a criarem equipes de robótica de alta performance. Elas, inclusive, competem em eventos como a FIRST LEGO League (FLL) e Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR). Em 2019, por exemplo, o time Conectados, da Escola Municipal Coronel Durival de Britto e Silva, conquistou o terceiro lugar no Aberto Internacional do Líbano.
Com essas atividades, "as crianças resolvem problemas da própria comunidade e assim contribuem para o bem-estar de todos, além de aprenderem”, como afirmou a secretária Maria Sílvia Bacila em comunicado da Prefeitura.
As inovações na educação de Curitiba, além da tecnologia
Lendo sobre essas iniciativas, algumas pessoas podem pensar que a inovação na educação de Curitiba passa apenas pela tecnologia — esquecendo-se de outras demandas essenciais, como a educação integral. Não é o caso, já que a Prefeitura pretende estender esse modelo de ensino para 100% de suas unidades até o final de 2024. Atualmente, são cerca de 150 que já funcionam em horário estendido.
Além disso, existem outras iniciativas interessantes que vão além da tecnologia. O projeto Mãos na Massa, por exemplo, começou a dar aulas de economia doméstica para os alunos da rede pública em 2021. No escopo do projeto, escolas ganharam ateliês de costura e cozinhas industriais — onde os estudantes realizam atividades manuais articuladas com os conteúdos de matérias como matemática e ciências.
O projeto também inclui as Unidades Escolares Integradas (UEI), espaços com uma estrutura maior, para atender às crianças de várias escolas em atividades extraturno. Na UEI Boa Vista, por exemplo, além do espaço para o projeto Mãos na Massa, há também um espaço maker, a sala de robótica, quadra esportiva e várias salas de aula.
E falando em maker, termo em inglês que se refere à cultura do "faça-você-mesmo", a rede pública de Curitiba também oferece acesso ao ensino de idiomas. Em 2023, Curitiba firmou um acordo com o Reino Unido para o aprendizado de inglês na rede pública. Esse acordo é parte do projeto Skills for Prosperity do governo britânico, que já foi implementado em outros nove países em desenvolvimento.
Para quem estudou a vida toda em carteiras enfileiradas, com o professor anotando as lições no quadro negro por horas a fio, dia após dia, saber que estes métodos diferentes de ensino já são realidade aqui em Curitiba pode impressionar, não é mesmo? Assim, tanto as escolas públicas, quanto os colégios particulares podem formar novas gerações de "curitibinhas" que estarão muito mais preparados para o futuro.
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