Curitiba comemora 331 anos em 2024. Para celebrar, Gazeta do Povo, A.Yoshii e Elo Empresas apresentam uma série de conteúdos que destacam por que a capital paranaense é a cidade mais inteligente do mundo. Saiba como o urbanismo digital garantiu esse título para Curitiba.
Pense rápido: você gostaria de viver em uma cidade inteligente? Ainda que você não esteja familiarizado com esse conceito, nós podemos apostar que você respondeu "sim". Afinal, ser inteligente é sempre algo positivo, não é mesmo?
Os smartphones, celulares inteligentes, são decididamente superiores aos telefones antigos — e o mesmo vale para as smartTV, smartwatches e vários outros produtos. Mas será que esse mesmo pensamento se aplica às cidades?
Para realmente compreender essa questão, nós primeiro precisamos definir o que é uma cidade inteligente — ou smart city, em inglês.
O Ministério das Cidades, na Carta Brasileira para Cidades Inteligentes publicada em 2021, diz: que "as cidades inteligentes no Brasil são comprometidas com o desenvolvimento urbano e a transformação digital sustentáveis". Mas o trecho mais importante da definição talvez seja aquele que explica que as smart cities "utilizam tecnologias para solucionar problemas concretos, criar oportunidades, oferecer serviços com eficiência, reduzir desigualdades, aumentar a resiliência e melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas, garantindo o uso seguro e responsável de dados e das tecnologias da informação e comunicação".
Com essa definição, fica mais fácil entender como Curitiba — que completa seus 331 anos no final de março — recebeu diversos prêmios de "cidade mais inteligente" em nível nacional e internacional. Afinal, há muitas ações em Curitiba, dentro do chamado "urbanismo digital", que conversam diretamente com o ideal das cidades inteligentes.
Série de Conteúdos 331 Anos: entenda por que Curitiba é a cidade mais inteligente do mundo.
A cidade mais inteligente do mundo está completando 331 anos
Se as premiações de cidades inteligentes fossem um esporte olímpico, Curitiba seria como Simone Biles ou Michael Phelps, acumulando medalhas e troféus em suas estantes.
Somente em 2023, a cidade figurou no top 6 do World Smart City Awards 2023, com seus projetos de sustentabilidade. Também esteve entre as 7 comunidades mais inteligentes do mundo do Intelligent Community Forum (ICF) pelo terceiro ano consecutivo, sendo a única da América do Sul a ganhar esse destaque. No ranking das cidades brasileiras com serviços inteligentes, a capital paranaense ficou em primeiro lugar. Em dezembro, recebeu ainda o Anciti Awards, como uma das três cidades brasileiras que mais investem em inovação e tecnologia.
O maior orgulho, no entanto, é o prêmio de Cidade Mais Inteligente do Mundo, recebido em novembro no Smart City World Expo Congress, o principal fórum internacional dedicado ao assunto, que acontece em Barcelona (Espanha).
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Todos esses reconhecimentos fizeram com que Curitiba decidisse liderar a discussão sobre cidades inteligentes em âmbito nacional.
O Smart City Expo Curitiba chega a sua quinta edição em 2024, de 20 a 22 de março. Segundo os dados do ano anterior, o evento foi um sucesso, com mais de 15 mil participantes de várias nacionalidades. Agora, a novidade é o Smart City Expo Curitiba Brazilian Awards, prêmio para reconhecer outros municípios brasileiros que investem em projetos inovadores, seguindo o exemplo da capital paranaense. Mas o que realmente importa para quem vive em Curitba, mais do que os troféus na estante, são os motivos que trouxeram esses reconhecimentos para a cidade.
O urbanismo digital e a inteligência estão no todo — e em cada parte
Ao justificar porque merece os prêmios de "cidade mais inteligente do mundo", a comunicação da Prefeitura de Curitiba desfia um novelo de ações — que vão desde o plantio de quase 500 mil árvores até a Pirâmide Solar de Curitiba, que começou a gerar energia em 2023, no antigo Aterro da Caximba.
Além disso, também lista ações na área da educação, como os Faróis do Saber e Inovação e o Fab Lab Cajuru — um espaço com 150 m2 que oferece cursos, laboratórios de informática e outros equipamentos para criação de soluções inovadoras, como impressoras 3D.
Na área de mobilidade urbana, temos as novas linhas do BRT (Bus Rapid Transit), sistema que Curitiba criou na década de 1970 e exportou para todo o mundo. Para destacar-se no cenário das cidades inteligentes, o sistema será modernizado com ônibus elétricos e estações autossuficientes, com geração de energia solar.
Falando de tecnologia no sentido mais conhecido da palavra, Curitiba foi uma das primeiras capitais a receber o sinal 5G em 2022, sendo uma das cidades brasileiras com maior adesão à nova conexão. Conexão essa que será essencial para viabilizar projetos ainda mais inovadores no futuro, como os veículos autônomos e a internet das coisas (IoT, na sigla em inglês).
Também existem aplicações mais prosaicas dessa inteligência, como a iluminação urbana em LED para economizar energia e aplicativos que permitem acessar serviços públicos direto pelo celular. Coisas que já fazem parte do cotidiano dos curitibanos — mas que não existem na maioria das outras cidades.
Em tantas áreas diferentes, da educação à mobilidade urbana, vemos a tecnologia e inovação sendo aplicadas de formas muito diferentes, mas é a soma de todas essas aplicações que faz Curitiba ganhar todo esse destaque no cenário internacional. Ou seja: uma cidade inteligente não é feita de uma única inovação, mas do impacto que todas elas têm na vida do cidadão.
Muralha Digital: tecnologia para proteger Curitiba
Os ideais do urbanismo digital no contexto das cidades inteligentes ficam ainda mais nítidos quando conhecemos o programa Muralha Digital.
Inaugurado em 2021, o programa conta com quase 2 mil câmeras instaladas em diversos locais estratégicos de Curitiba: ruas movimentadas, terminais e estações tubo, escolas e Ruas da Cidadania, parques e praças, entre outros equipamentos públicos. Também fazem parte da Muralha Digital as 515 câmeras corporais (body cams) e as câmeras veiculares utilizadas por guardas municipais em seus atendimentos.
As informações dessas câmeras são processadas por um Centro de Controle Operacional (CCO), no bairro Cabral. No CCO, a Muralha Digital também se utiliza de outras tecnologias, como sistemas que fazem contagem de pessoas, que identificam veículos suspeitos ou que permitem identificar pessoas por meio de uma biblioteca de faces criptografadas.
A partir disso, órgãos como a Guarda Municipal, Defesa Civil, Polícia Militar do Paraná e até a Central 156 podem atuar de forma concentrada, com muito mais informações. Somente no primeiro ano de operação do programa Muralha Digital, entre 2021 e 2022, alguns dos locais atendidos por ele registraram redução de 40% nas ocorrências de crimes.
Centenas de imagens já foram cedidas ao Ministério Público, Poder Judiciário e forças policiais para elucidar crimes ocorridos dentro da Muralha Digital. Além disso, o sistema é usado no monitoramento do trânsito e de eventos climáticos adversos, como fortes chuvas e vendavais.
Serviços públicos digitais a um toque dos curitibanos
Como explicamos, a definição de cidades inteligentes se aplica desde os grandes projetos de segurança — como a Muralha Digital — até as questões mais simples do cotidiano, como o acesso aos serviços públicos.
Nesse quesito, Curitiba também se destaca: é a segunda capital e a quinta cidade do país com o melhor funcionamento da máquina pública, de acordo com o Centro de Liderança Pública (CLP Brasil). Podemos relacionar tal reconhecimento com a facilidade de acesso aos serviços públicos, por uma plataforma digital robusta.
Em funcionamento desde 2019, o e-Cidadão permite que os curitibanos se cadastrem com o CPF para acessar quase 40 aplicações de serviços públicos. Isso inclui a Central 156 para solicitações à Prefeitura, o cadastramento escolar para vagas na rede pública de ensino, o aplicativo Fala Curitiba de participação popular, além do Saúde Já — solução que conecta 2,3 milhões de usuários ao Sistema Único de Saúde (SUS) em Curitiba.
Ao todo, mais de 600 serviços públicos podem ser encontrados por meio do Curitiba App, que está disponível para dispositivos Android e iOS. Desde os horários e itinerários de ônibus ou a emissão de boletos do IPTU até o agendamento de horário para serviços presenciais. Outra utilidade do Curitiba App é o envio de notificações da Defesa Civil para os celulares, em casos de emergência.
Pelo aplicativo Saúde Já, os curitibanos podem agendar consultas médicas e exames na rede pública do município sem entrar nas filas dos postos de saúde de forma presencial. Também é possível consultar a situação vacinal e acessar resultados de exames, diretamente pelo celular.
Mesmo quem não utiliza esses serviços públicos pode aproveitar o cadastro no e-Cidadão para acessar a internet gratuitamente, com o programa Wi-Fi Curitiba, lançado em maio de 2021. A internet gratuita está disponível em mais de 210 endereços públicos, como parques, praças, escolas, terminais de ônibus e outros. Até mesmo os turistas podem aproveitar.
Por fim, essa digitalização dos serviços também se traduz em menos burocracia. Nos últimos anos, Curitiba reduziu o tempo necessário para a abertura de uma empresa. Com uma média de duas horas, tornou-se a capital mais rápida do país.
De acordo com a Prefeitura, a população pode acessar quase todos os serviços de urbanismo pela internet: alvarás, certidões e licenças, potencial construtivo, instalações de publicidade, atualização de dados cadastrais, entre outros.
Urbanismo digital chega à era da inteligência artificial
Em 2022, o IPPUC (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba) disponibilizou a plataforma de mapas GeoCuritiba. Criada com a mesma tecnologia usada na agência espacial norte-americana Nasa, a plataforma oferece uma infinidade de mapas, gráficos e informações sobre a cidade — permitindo explorar Curitiba inteira pela tela do computador.
É possível consultar a hidrografia, relevo, infraestrutura, transporte, mapas eleitorais, divisões da cidade por arruamento, planejamento urbano, setores político-administrativos, informações de acidentes de trânsito, entre várias outras possibilidades. No app Curitiba 3D, por exemplo, é possível simular o sombreamento de uma região de acordo com horário e data, ou então medir a largura das ruas, altura dos prédios e área das fachadas.
Para isso, a plataforma GeoCuritiba utiliza um mapeamento fotorrealístico em 3D, com base em imagens aéreas verticais e oblíquas, além de levantamentos a laser.
O principal intuito dessa plataforma é fornecer informações para os gestores públicos criarem políticas de planejamento urbano. Por isso — e para manter a privacidade dos curitibanos —, nem todas as informações da plataforma GeoCuritiba estão disponíveis para o público.
Porém, essa não é a única tecnologia digna de ficção científica aplicada em Curitiba: a cidade também já está aproveitando a inteligência artificial para agilizar a oferta de serviços.
Um exemplo disso é a abertura de chamados pela Central 156: os cidadãos podem tirar uma foto do problema e enviá-la pelo app. Uma tecnologia de aprendizado de máquina (machine learning, em inglês) reconhece a imagem e direciona o usuário para o serviço necessário. No caso de alvarás e licenças, caso a inteligência artificial encontre semelhanças entre os pedidos novos e os já existentes, a solicitação é processada automaticamente — sem ação humana.
Além disso, a inteligência artificial e o aprendizado de máquina são usados no monitoramento do trânsito — aproveitando as câmeras da Muralha Digital, que citamos anteriormente. Assim, é mais fácil tomar decisões como mudar o sentido das ruas ou o tempo dos semáforos.
Mas sempre há espaço para ir além, até porque a tecnologia não para de evoluir. Em fevereiro de 2024, por exemplo, a Prefeitura de Curitiba inaugurou o Hipervisor Urbano, um grande centro de operações com dados em tempo real sobre a cidade. Além da Muralha Digital, essa estrutura será utilizada pelas operações de transporte e Defesa Civil, além da Sanepar e da Copel, auxiliando no fornecimento de água e energia.
Segundo a Prefeitura, o Hipervisor Urbano é um divisor de águas na história do planejamento urbano de Curitiba — uma das áreas que mais trouxe reconhecimento para a cidade, nesses 331 anos de história. Com isso, a Curitiba do passado, referência em urbanismo, encontra a Curitiba do futuro, que trabalha para continuar sendo um modelo de cidade inteligente.
Afinal, assim como os smartphones suplantaram os celulares, as smart cities parecem ser o futuro das cidades.
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