Segunda edição do Café de Negócios reuniu empresários e profissionais para discutirem temas relevantes sobre o ambiente corporativo| Foto: Divulgação
  • Por ACP
  • 21/11/2024 12:44
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Na noite desta terça-feira (19), o Conselho de Jovens Empresários (CJE) da Associação Comercial do Paraná (ACP) realizou a segunda edição do Café de Negócios, evento que reuniu empresários e profissionais para discutir temas relevantes sobre o ambiente corporativo. A noite contou com a palestra de Eduardo Castelano, proprietário do Respiro Café, que compartilhou os resultados de sua pesquisa de mestrado defendida na Escola de Economia de São Paulo (EESP) da FGV. O trabalho aborda uma questão crucial no mundo dos negócios: “Como a satisfação dos funcionários impacta o desempenho financeiro das empresas no Brasil?”

Castelano explicou que, embora a relação entre satisfação no trabalho e desempenho financeiro seja debatida, duas principais abordagens teóricas oferecem visões divergentes sobre o tema. A primeira, oriunda da gestão empresarial, sugere que funcionários satisfeitos tendem a ser mais motivados, produtivos e comprometidos com a empresa, o que, consequentemente, resulta em melhor desempenho financeiro. “A satisfação no trabalho facilita o recrutamento de talentos, aumenta a retenção de funcionários-chave e potencializa a motivação, fatores que ajudam a aumentar a produtividade e, portanto, o lucro das empresas”, explicou o palestrante.

Por outro lado, a teoria do agente principal, associada à economia financeira, sugere que altos índices de satisfação podem ser sintoma de gastos excessivos com os funcionários, muitas vezes em detrimento dos interesses dos acionistas. “CEO's e gestores podem priorizar o conforto e o prazer no ambiente de trabalho, o que, em alguns casos, leva à aceitação de baixa produtividade e custos elevados, prejudicando o desempenho financeiro”, argumentou Castelano.

No entanto, o empresário afirmou que os efeitos da satisfação sobre o desempenho financeiro podem variar conforme o contexto institucional de cada país. No Brasil, por exemplo, onde o mercado de trabalho é menos flexível, a relação entre satisfação e resultados financeiros pode ser mais tênue.

Metodologia e resultados

Para sua pesquisa, Castelano utilizou dados da lista das Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil, elaborada pela GPTW (Great Place to Work), em conjunto com dados da B3, entre 2001 e 2023. O objetivo era analisar se as empresas mais satisfeitas apresentavam um retorno financeiro superior ao esperado pelo mercado, descontados os riscos envolvidos. Ele utilizou o valor da empresa, e não indicadores contábeis tradicionais, para avaliar o desempenho financeiro, uma vez que este índice permite controlar os custos com satisfação e minimizar a causalidade reversa.

Castelano descobriu que as empresas com maior satisfação dos funcionários apresentaram um retorno “em excesso” de 2% a 3% ao ano, acima da média do mercado. Este retorno em excesso não é uma medida simples de performance superior, mas sim o valor adicional que não pode ser explicado pelos riscos associados ao investimento nessas empresas. Em outras palavras, esse retorno adicional indica uma “anomalia” no mercado, que subestima o valor de empresas com alto índice de satisfação.

Ao segmentar os resultados por períodos, Castelano observou que, entre 2011 e 2016, as empresas com maior satisfação dos funcionários geraram retornos anormais positivos de aproximadamente 6% ao ano, com um pico de 9,34% a 11,55% ao ano após a reforma trabalhista de 2017. Ele explicou que, nesse período, a flexibilidade do mercado de trabalho, impulsionada pela reforma, ampliou os benefícios da satisfação no trabalho sobre os resultados financeiros das empresas.

Conclusões

O empresário concluiu que empresas brasileiras com alta satisfação dos funcionários tendem a superar o mercado, especialmente após a Reforma Trabalhista de 2017, que aumentou a flexibilidade no mercado de trabalho. “Os resultados sugerem que, em mercados mais flexíveis, como o Brasil após a reforma, a satisfação dos funcionários tem um impacto ainda mais significativo sobre o desempenho financeiro”, afirmou. Além disso, ele ressaltou que a dificuldade do mercado em precificar satisfatoriamente ativos intangíveis, como a satisfação no trabalho, pode explicar essa discrepância nos retornos.

Embora a pesquisa não tenha conseguido comprovar uma relação de causalidade direta entre satisfação e lucro — devido à possibilidade de causalidade reversa e variáveis omitidas, como a gestão das empresas —, os dados indicam uma forte associação entre esses dois fatores. “Investir em empresas com altos índices de satisfação pode gerar um retorno superior ao risco, oferecendo uma estratégia inteligente para investidores”, pontuou.

Em suma, Castelano defendeu que a satisfação no trabalho é um ativo valioso e muitas vezes subestimado, com impacto direto no desempenho financeiro das empresas. Esse dado reforça a importância de uma gestão focada na criação de ambientes corporativos positivos e na valorização do bem-estar dos colaboradores como uma estratégia eficaz para gerar valor a longo prazo.