
Em busca de economia e maior previsibilidade nos custos operacionais, a cada dia novas empresas aderem ao mercado livre de energia, ou Ambiente de Contratação Livre (ACL), modelo no qual os consumidores podem escolher e negociar diretamente com seu fornecedor o tipo de energia elétrica e suas condições, ao contrário do tradicional ambiente regulado ou mercado cativo, em que o fornecimento é feito pela distribuidora local e os preços praticados são pré-estabelecidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Nessa modalidade os consumidores podem obter economia de até 35% em relação à conta de luz tradicional a depender do tipo de contrato acertado e das variações do mercado. O diretor-geral da Copel Mercado Livre, braço da Companhia Paranaense de Energia no setor, Rodolfo Lima, explica que a empresa oferece duas modalidades de preço. “Em uma a gente tem o desconto garantido, ou seja, se a tarifa da distribuidora for X, garantimos o desconto Y [de 15%] em cima desse valor. Sempre vai ter esse desconto, mas o valor da conta pode oscilar caso ocorra um reajuste tarifário ou uma bandeira vermelha”, conta.
Já o outro modelo é a do preço fixo que, como o nome diz, o cliente negocia bilateralmente com a Copel o preço que será pago pela energia nos próximos cinco anos, por exemplo. “Esse modelo tem maior procura e aderência, pois o empresário já tem um desconto e sabe exatamente o que vai pagar em cada um dos meses seguintes, ou seja, ele tem essa previsibilidade em seu balanço financeiro”, resume Lima.
É nesse modelo de contrato que o desconto pode chegar a até 35% e atinge seus maiores patamares justamente nos momentos mais turbulentos do mercado, em caso de aumento no preço ou quando as bandeiras tarifárias são aplicadas. “A gente não tem como prever como vai ser a regulação futura, uma bandeira vermelha ou um novo encargo, então o desconto aumenta proporcionalmente nessas horas, pois a conta permanece inalterada”, destaca o diretor-geral.
Maior acesso ao mercado livre gera crescimento contínuo no Brasil
O ano de 2024 foi marcado por um ‘boom’ no setor, pois desde janeiro a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) liberou a modalidade do mercado livre para todos os consumidores conectados à rede de média e alta tensão, (chamado de Grupo A), que na prática tem consumo médio próximo ou acima de R$ 10 mil por mês, por meio da Portaria 50/2022 do Ministério de Minas e Energia (MME). Isso permitiu o acesso de empresas, comércios e instituições de médio porte ou até de pequeno porte (que demandam mais energia) a aderirem ao mercado livre.
Anteriormente o setor funcionava desde o fim da década de 90 com restrição à contratação apenas de empresas e indústrias de grande porte com altas demandas e contas bem altas, que pelas últimas regras, em 2023, demandava o consumo de pelo menos uma carga de 500 kW, o equivalente a uma conta de luz média acima dos R$ 100 mil.
Com mais de 1,6 mil contratos no mercado livre não só no Paraná, mas em todo o Brasil, a Copel mais que dobrou o seu número de clientes em 2024 e faz parte da tendência nacional do setor que possui crescimento gradativo, mês a mês.
Segundo o boletim mensal da energia livre da Abraceel (Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia) de novembro de 2024, o setor teve crescimento de 53% em suas unidades consumidoras nos últimos 12 meses, ou 19,5 mil unidades a mais em outubro de 2024 do que no mesmo mês de 2023, chegando a 56,3 mil unidades no total e 40% de toda a energia consumida no País, com aumento de 12% do consumo nos últimos 12 meses. Nesse cenário, o Paraná é o terceiro tanto na participação do consumo, de 48% (atrás de MG e PA) quanto em unidades consumidoras (atrás de SP e RS).
Com crescimento médio de alguns milhares de clientes todo mês, uma vez também que para migrar ao mercado livre é necessário um tempo mínimo de seis meses (prazo regulatório para informar à distribuidora sobre a migração), a tendência é encerrar o ano de 2024 com mais de 60 mil unidades consumidoras e com potencial para seguir nesse crescimento significativo, já que o ‘Grupo A’ tem cerca de 202 mil unidades consumidoras no Brasil, ou seja, quase 70% dos possíveis clientes ainda não aderiram ao mercado livre.
Energia livre renovável com certificação: uma via de ‘mão dupla’ na Copel
Independentemente do modelo optado no mercado livre, a energia comercializada pela Copel tem outro benefício muito procurado pelas empresas atualmente: o fato de ser 100% renovável e oferecer o I-REC, Certificado Internacional de Energia Renovável pela sigla em inglês. “Não é todo mundo que gera energia 100% renovável e não são todos que geram dessa forma que podem oferecer o certificado”, explica o diretor-geral da Copel Mercado Livre. Dados do fim de 2024 da Abraceel mostram que, embora em crescimento, menos de ⅔ da energia negociada são provenientes de fontes renováveis, por exemplo.
Segundo Lima, o certificado é oferecido aos clientes que aderem a modalidade livre e caso o cliente entenda que faz sentido, esse ‘selo verde’ é embutido no contrato. “Temos visto um movimento crescente nesse sentido, o custo versus benefício associado se paga muito rápido e a maioria acaba optando por ter o certificado, que tem custo máximo de 1% do total do contrato”, relata. “Na minha opinião também faz a diferença ter o lastro físico [usinas da Copel]. É importante essa combinação de gerar energia 100% renovável habilitada para o certificado e ter a geração própria”, complementa.
Na prática, o I-REC atesta a origem sustentável da energia consumida, garantindo que essa eletricidade foi gerada a partir de fontes renováveis (eólica, hidrelétrica, solar, entre outras). A aquisição do certificado, além de assegurar a autenticidade de procedência e sua rastreabilidade, pode agregar valor à empresa reforçando a credibilidade de suas práticas de sustentabilidade e ser utilizado, por exemplo, para neutralizar as emissões de gases do efeito estufa do escopo 2 (as emissões indiretas de uma empresa relacionadas à aquisição de energia) no âmbito do Programa Brasileiro GHG Protocol, um pacote de padrões, orientações e ferramentas para governos e empresas poderem mensurar e gerenciar as emissões responsáveis pelo aquecimento global.
A busca por maior responsabilidade ambiental por meio dessa descarbonização é, por vezes, a porta de entrada de novos clientes da Copel para o mercado livre. “Como ele pode ser vendido separadamente, sem a adesão ao mercado livre, temos casos de empresas que nos buscam pelo certificado para descarbonizar sua cadeia. A ideia inicial é essa, ter a energia 100% renovável, mas depois [essas empresas] acabam migrando para o mercado livre", revela Lima. Desde 2022, quando passou a ofertar os certificados de energia renovável, mais de 5,5 milhões de megawatts-hora (MWh) consumidos pelos clientes da Copel foram certificados, o suficiente para abastecer toda Curitiba por 14 meses.