A Copel enfrenta um desafio duplo: ampliar e melhorar o atendimento aos consumidores, uma vez que o Paraná cresce em ritmo mais acelerado que o Brasil, e evitar ou mitigar os ‘ataques’ cada vez mais frequentes impostos pelas intempéries climáticas na rede elétrica, que não são exclusivas do estado, nem do País.
E os dados do que vem acontecendo já mostram o que a empresa tem enfrentado. Em 2023 foram 24 temporais de grandes proporções que provocaram sérios danos à rede elétrica, o maior no período de um ano, segundo o Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná). O número é o dobro de dois anos antes (2021) e 50% acima do ano anterior (2022), quando ocorreram 16 desses episódios.
Esse aumento contínuo na incidência de temporais se reflete em mais raios e rajadas de ventos fortes. No ano passado, segundo o Simepar, foram 284 mil raios e 3,9 mil episódios de ventos acima dos 50 km/h, 14% e 25% a mais que em 2022, respectivamente. Isso resultou, entre outros impactos, na quebra de 5.637 postes, 68% a mais que os 3.352 postes avariados de 2022. A companhia explica que o conserto e a instalação de novos postes no lugar desses avariados foi equivalente à quantidade de estruturas necessárias para construir uma rede nova de 320 quilômetros.
O diretor-geral da Copel Distribuição, Maximiliano Andres Orfali, cita a intensificação e agravamento das questões climáticas previstas pelos principais institutos meteorológicos do País e do exterior. A própria Copel participou de um estudo realizado junto ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) em 2021, que demonstrou o aumento da frequência e intensidade desses eventos até 2050. “A tendência é piorar com o aquecimento da temperatura global. Aqui no Paraná temos visto ciclones, tornados, microexplosão, muitos raios e ventos não incomuns perto dos 100 km/h. Isso impacta muito fortemente: vento, raio, chuva e árvore caída é a combinação perfeita para ‘atacar’ a rede”, resume.
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Para fazer frente a esse cenário, a empresa criou um plano de investimento recorde para 2024, no valor de R$ 2,1 bilhões em distribuição de energia por todo o estado. “O investimento em programas como o Paraná Trifásico e o Rede Elétrica Inteligente contribui para elevarmos o nível de resistência e automação da rede, além de novos equipamentos interligados e subestações, que conferem mais robustez a nossa rede e capacidade de restabelecimento mais ágil frente aos danos gerados por esses temporais”, comenta o diretor.
O superintendente de Projetos Especiais na Copel Distribuição, Julio Omori, explica como a Rede Elétrica Inteligente, por exemplo, impacta no dia a dia da Companhia. “O que está acontecendo com os investimentos? Nós estamos iluminando a nossa rede. Se antes a gente enxergava até a subestação, agora nós já enxergamos as principais partes do circuito. Com os medidores inteligentes, nós estamos colocando o sensor lá no consumidor. Antes do consumidor reclamar que está sem energia, a gente já sabe e já organiza sabendo que o problema deve estar naquele conjunto de consumidores”, conta.
Com mais de 700 mil medidores instalados sem custos aos consumidores em 91 municípios das regiões Centro-Sul, Oeste, Sudoeste e também Metropolitana de Curitiba, essa rede de distribuição de energia automatizada deve ter mais de 400 mil novos medidores instalados neste ano. A proposta é chegar a 1,6 milhão até o fim de 2025 em um investimento total de R$ 820 milhões.
Essa tecnologia de ponta, além de ter um restabelecimento em média de 20% a 30% mais ágil, também faz a empresa direcionar recursos de forma mais efetiva para de fato onde há problema. “É possível checar em tempo real, pois após cair, às vezes a energia volta rapidamente e a equipe que iria ou já estava a caminho para solucionar a questão não precisa mais, já retorna, teve uma reenergização automática, por exemplo, e podemos posicionar esse recurso para outro local”, detalha Omori.
“Todo esse investimento em tecnologia não vai solucionar tudo. As árvores vão continuar caindo, cabos vão se romper, mas todos aqueles desligamentos que você consegue identificar rápido, religar consumidores isolando aquele defeito, já preparando os locais com os prováveis problemas, isso dá uma condição ímpar para liberar força de trabalho em um momento de emergência”, destaca.
Prevenção e monitoramento são peças-chave no enfrentamento
Em outras frentes, a Copel está agindo na poda preventiva de 1,08 milhão de árvores em toda a área urbana do estado e na roçada de 57 milhões de metros quadrados em áreas rurais neste ano de 2024. A intenção é proteger postes e fios da vegetação mais sujeita a causar danos na rede em caso de temporais e vendavais para garantir qualidade no fornecimento de energia.
A companhia também vem aperfeiçoando seu sistema de monitoramento climático junto ao Simepar, de quem contrata os serviços, para cada vez ter mais precisão para se antecipar aos eventos mais extremos que vão demandar equipe em campo para reparo. Desde a década de 90, a parceria existe para previsão de um panorama macro para vários meses e estações do ano, como da existência de um El Niño ou La Niña, estratégico para a operação seja da geração ou da distribuição de energia e produtos de curto prazo, emitindo alerta sobre tempestades severas, chuvas, vazões, descargas atmosféricas e vendavais.
Em fevereiro, o superintendente da Copel Distribuição foi convidado para participar do workshop da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) ‘Resiliência de Redes frente a Eventos Climáticos de Elevada Severidade’, para apresentar as ações da companhia nesse sentido. Entre elas, o plano de alerta com a mobilização prévia de equipes por meio do plano de contingências de condições climáticas adversas.
“É um produto direcionado para nós, com melhoria contínua na qualidade da previsão ao longo do tempo. Nós dividimos os alertas em níveis segundo a severidade climática como a velocidade de vento, entrada de temporais e intensidades deles com a movimentação em tempo real no nosso centro integrado de operações [Smart Copel] com antecedência de ao menos um dia, que nos dá uma condição melhor para nos prevenir e preparar a formação de brigadas e sua logística”, diz.
Integrado ao programa de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) da Aneel em 2019 e atualmente com sua segunda fase em andamento, o projeto em parceria com o Simepar deu um passo a mais e incluiu elementos de inteligência artificial, machine learning (sistemas podem aprender com dados) para olhar os dados atmosféricos, a rede da Copel e por meio modelo matemático estimar com antecedência os riscos de desligamentos.
“Com o histórico de eventos anteriores, tenho a previsão de qual pode ser o impacto de consumidores desligados, por quanto tempo, e isso dias antes do evento”, conta. “Dessa forma, começo a colocar o pessoal de operação, manutenção e serviço em sobreaviso, posso até chamar equipes de obra se for de determinada proporção, bem como recrutar equipes de outras regiões não afetadas. Se precisar, mando equipes do Paraná inteiro. Custa caro, mas é o nosso remédio”, complementa Omori.
Exemplos de fora que podem ajudar o Brasil
Nos Estados Unidos, por exemplo, essa espécie de ‘força-tarefa’ para atuar em emergências de grande impacto é regulada pelo órgão do setor e permite a ajuda mútua entre as distribuidoras. “Existe um acordo induzido por regulação, que não há aqui no Brasil, que ajuda as empresas e os próprios consumidores, pois se há um problema muito grande, como um furacão, comum na parte Sul do país, que faz um terror na rede elétrica, outras companhias enviam equipes, caminhões e equipamentos para dar suporte à empresa local em poucas horas”, conta o diretor científico do GESEL (Grupo de Estudos do Setor Elétrico), do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Roberto Brandão.
Dessa forma as companhias não precisam manter mais equipes próprias, possuem uma força de trabalho muito maior para a recomposição e tudo isso está dentro da regulamentação, com todos recebendo pelos serviços prestados. Outro exemplo dado por Brandão do exterior vem da Itália, onde, segundo ele, uma mudança na regulação no início deste século permitiu acelerar os investimentos necessários para mitigar os eventos extremos. “No Norte do país é comum a ocorrência de geadas e nevascas que causavam avarias e até derrubavam torres de transmissão pelo peso do gelo ou neve acumulada. Então foi criado um novo critério para o distribuidor realizar investimento inclusive em formas de ativos não depreciados, o que permitiu a substituição por torres mais resilientes antes do fim da ‘vida útil’ da estrutura antiga”.
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