O aumento de vendavais, da velocidade dos ventos, raios e as consequências geradas por essas situações são desafios para as redes elétricas de qualquer região do planeta. Eventos mais extremos, como os que ocorreram em São Paulo em novembro de 2023, trouxeram o debate de volta à tona em virtude da queda de postes e muitas árvores, que comprometeram o fornecimento de energia para centenas de milhares de consumidores por vários dias seguidos.
Nesse cenário, ter a rede menos suscetível a condições climáticas com a fiação subterrânea seria uma das formas de contornar o problema. A alternativa, por esse lado, não é um debate para os especialistas, que concordam com o ganho que essa rede traria com a diminuição de curtos circuitos e outros problemas causados pela interferência nos fios, afinal ela desliga pouco e tem taxas de falha muito baixas. A questão, no entanto, é outra: o custo.
Para trocar esse cenário comum a quase a totalidade das cidades brasileiras, uma vez que esse tipo de rede é inferior a 1% no País, os consumidores precisariam desembolsar cerca de dez vezes mais pela nova infraestrutura. Esse tipo de investimento em cabeamento subterrâneo entraria diretamente na tarifa do consumidor, até pelo regramento do mercado (se fosse feito bancado apenas pela empresa de distribuição). Ou seja, algo que poucos teriam condição ou mesmo concordariam em arcar.
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“[A rede subterrânea] é muito mais cara, tende a ser uma solução para situações especiais, uma praça muito bonita ou uma rua com prédios históricos, alguma situação em que se queira retirar os postes e seus emaranhados de fios horrorosos, aí pode fazer sentido. A qualidade é bem melhor, mas quando dá problema, demora mais para consertar também”, diz o diretor científico do GESEL (Grupo de Estudos do Setor Elétrico), do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Roberto Brandão.
Para ele, a troca numa região com muita densidade de consumo, com arranha-céus, por exemplo, poderia ter alguma viabilidade. “Fora isso, não vai mudar. Não é uma solução geral e instalar inicialmente também é mais barato do que substituir. Onde temos redes enterradas [no Brasil] foi normalmente feito antes. Brasília tem algo, Rio de Janeiro tem uma parte pequena, mas razoável [11% do total] e São Paulo tem menos, ainda mais se considerarmos seu tamanho, apesar de estar com obras no Centro nos últimos anos”, revela.
No mundo, as grandes cidades, que têm a maioria ou praticamente toda a rede elétrica subterrânea, fizeram isso há algum tempo, quando não tinham o tamanho atual: casos de Nova York e Paris, que instalaram essa rede entre o fim do século XIX e o início de meados do século XX, respectivamente. “São locais onde é impossível não ter. O Canadá tem muito por conta da neve, frio intenso”, cita o diretor-geral da Copel Distribuição, Maximiliano Andres Orfali.
Em Curitiba, há uma rede subterrânea da Copel em uma área de pouco mais de 1 km² da região central no quadrilátero compreendido pelas ruas Visconde de Nácar, João Negrão, Augusto Stellfeld e André de Barros. Ela foi instalada no final da década de 60 pela então Companhia Força e Luz do Paraná. Entretanto, a solução não é considerada viável em grande escala, devido ao impacto que haveria sobre as tarifas, em decorrência do alto custo de construção.
Para Orfali, além da barreira do custo para uma eventual substituição, obras com esse intuito em cidades de médio e grande porte também são quase inviáveis. “Nós primeiro teríamos esse custo altíssimo que iria para a tarifa do consumidor, mas tecnicamente é muito difícil também. Você imagina enterrar todos os fios em meio de áreas densamente habitadas hoje? Isso geraria um transtorno imenso e inevitável”, ressalta ele, em virtude da abertura de valas, poços e obstrução parcial de vias e calçadas, que não seriam rápidas.
Os materiais utilizados na rede subterrânea são mais caros também devido ao revestimento dos cabos, que precisam ser impermeáveis e exigem equipes especializadas para a execução de manutenções. “Existe uma dificuldade maior em fazer a substituição subterrânea, não é fácil fazer a parte corretiva, como a gente chama. Dá pouco problema, mas quando tem é difícil de atuar e arrumar. Nós vimos isso em São Paulo recentemente, com os consumidores 10 dias sem energia”, exemplifica Orfali.
Ele se refere a uma escavação na região central da capital paulista em abril, que segundo a distribuidora elétrica teria sido feita pela companhia de saneamento e atingido acidentalmente cabos da rede subterrânea (o que foi negado pela empresa, que não encontrou correlação com o acidente). Independente da origem do problema, o fato é que a distribuidora precisou inclusive levar energia por meio de geradores para alguns clientes enquanto tentava restabelecer a rede.
No Paraná, a Copel vem ampliando os investimentos tanto na prevenção quanto em uma rede mais robusta, além de resposta mais rápida e automática a quedas do fornecimento de energia. Só neste ano de 2024 está prevista a poda preventiva de 1,08 milhão de árvores em todo o Paraná. “Eu não abato a árvore, só corto os galhos com maior probabilidade de encostarem na rede. Na área urbana a gente faz essa poda e na área rural faz a roçada, supressão vegetal, limpa a área embaixo da rede. Serão cerca de 57 milhões de metros quadrados de roçada, isso dá mais ou menos sete mil campos de futebol”, conta o diretor.
O manejo de árvores é originalmente responsabilidade das prefeituras. A Copel solicita autorização para fazer a poda quando os galhos ameaçam a rede e podem afetar o fornecimento, até porque esse serviço perto dos fios requer especialização para ser executado.
Segundo a Copel, serão três milhões de homens/hora de manutenção preventiva, incluindo a inspeção que faz reparos na rede antes de acontecerem eventuais defeitos, atuando para evitar o desligamento e garantir qualidade no fornecimento de energia.
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