Rafael Lafraia à frente do Curry Pasta: da TI à cozinha que propõe a fusão das gastronomias italiana e indiana.| Foto: Priscilla Fiedler
  • Por Curry Pasta
  • 23/02/2022 18:11
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O que leva um jovem criativo e talentoso, com um início de carreira promissor no setor de Tecnologia da Informação, profissão considerada por especialistas como a do presente e do futuro, largar um emprego estável para se tornar chef de cozinha? Bom, o mais importante ele já tem: criatividade e talento.

Rafael Lafaia é chef e proprietário do Curry Pasta, restaurante que estabeleceu no circuito gastronômico de Curitiba, a partir de sua inauguração, em março de 2020, a mistura criativa e saborosa entre a poderosa gastronomia indiana e a suculência da comida italiana. Sua carreira de aproximadamente dez anos em TI, setor que respira inovação, tem boa dose de responsabilidade nisso. A infância e a adolescência na cozinha de casa, na companhia da mãe e da avó, também.

“Entre todo esse tempo que trabalhei em TI, e mesmo antes, eu estava sempre na cozinha, com minha mãe e minha avó e parentes. Gosto de cozinha desde adolescente”, recorda.

Rafael sempre teve facilidade para avaliar a quantidade de comida necessária a ser feita para alimentar um grupo de pessoas. Ele sempre gostou de matemática, os números nunca foram um problema – fator fundamental para um chef de cozinha e proprietário de restaurante. A cabeça que pensa de forma lógica e que encontrou na TI uma profissão segura está sempre pronta para fazer cálculos rápidos e divisões assertivas. “Um primo tinha restaurante, e, às vezes, eu ia até lá para ajudá-lo em eventos. A conexão com a cozinha veio até antes da TI. A TI veio porque eu precisava de uma profissão, e ela mudou a minha vida, foi uma parte muito importante”, explica. Rafael é formado em Gestão de Tecnologia da Informação.

Sol, surf, frio, snowboard e cozinha indiana

Por seis anos, Rafael trabalhou em uma grande empresa de TI de Curitiba. Até que surgiu uma oportunidade de migrar para outra empresa, com salário maior e novas perspectivas. Mas a falta do inglês fluente – Rafael tinha 20 anos, “e meu inglês era de apostila, eu não conseguia desenvolver uma conversa”, brinca – rendeu uma resposta negativa. No mesmo dia, voltou à empresa de TI onde trabalhava e pediu as contas para poder fazer um intercâmbio que lhe permitisse aprender inglês. Vendeu o carro, juntou as economias e foi a Vancouver, no Canadá. “Eu surfava, então estava à procura de um lugar com mar”, explica, mas constatou que Austrália e Nova Zelândia estavam além do seu orçamento.

Na cidade canadense, a prática de snowboard é algo comum, e ele desejava um local em que se sentisse provocado a manter a prática de atividades esportivas. Embarcou para Vancouver em 2011 com objetivo de ficar seis meses. Lá, tinha aulas de inglês em tempo integral, e aproveitava os finais de tarde e as noites para conhecer a cidade. Em um desses passeios, descobriu o restaurante Charqui, do chef indiano Sanjay Pandey, bem próximo de onde morava. Pediu por uma oportunidade, foi aceito, e aí, tudo começou a mudar.

“Sanjay foi o meu mentor”, sinaliza. No Charqui, começou como quase todo estudante que procura emprego em restaurante no exterior para pagar as despesas: lavando louça. “Lavei louça por dois meses, até que ‘entrei na salada’”, relembra. “Saiu o cara do grill, fui para o grill. Depois, a chef estava saindo, Sanjay me perguntou se eu queria fazer a gestão de compras. Aceitei”. Assim, se matriculou em mais alguns cursos e, com isso, conseguiu estender o visto por mais um ano.

O Charqui é conhecido por sua versão mais atualizada da culinária indiana. Segundo Rafael, Sanjay tem uma visão mais ampla e contemporânea do mundo, o que lhe permite inovar a partir dos preceitos da culinária de seu país de origem. “Aprendi muito com ele”, ressalta. “A família dele vinha às vezes da Índia para Vancouver. A mãe dele, já senhorinha, ia para a cozinha do restaurante e fazia cada coisa impressionante”.

Instalado no bairro das Mercês, o Curry Pasta é uma das joias do circuito gastronômico curitibano.| Foto: Foto: Wagner Mello

Uma pasta de curry e um passo definitivo

De volta a Curitiba, no início de 2014, Rafael passou um tempo ajudando a um chef de cozinha brasileiro que conheceu em Vancouver, Fabricio Goulart. Com ele, fazia eventos; foram cerca de dois meses em Porto Alegre, e mais dois meses em São Paulo. “Para aprender”, sinaliza. O dinheiro que recebia dava apenas para pagar passagem e hotel. Aos 24 anos, decidiu que era hora de voltar à TI. Com a experiência internacional e o inglês na ponta da língua, foi contratado por uma holding que fazia negócios com a Índia. Especializou-se em banco de dados, fez uma boa reserva financeira, mas percebeu que a rotina de escritório estava lhe cobrando mais do que o normal, a ponto de fazê-lo trabalhar durante as férias, à distância – de mochileiro no Atacama, na Bolívia, decidiu um dia checar os e-mails e descobriu que os colegas estavam à sua procura para resolver um problema na empresa.

Trabalhou apenas mais um ano para fazer um pouco mais de dinheiro e pediu demissão. Mas nesse retorno à TI, seguiu fazendo experimentos: sua pasta de curry, criada a partir do que aprendeu na cozinha de Sanjay, era um sucesso entre os amigos. “O pessoal do meu trabalho tinha pirado com ela”, diz.

O Curry Pasta começou a nascer em uma feira de produtos autorais, enquanto ainda trabalhava na holding, em seu último ano de profissional de TI. Acompanhado de Renata, então namorada, hoje esposa, Rafael decidiu levar sua criação em uma feira de produtos autorais. Para participar, criou uma conta no Instagram, compartilhou o perfil com a família e, no evento, serviu a pasta com macarrão e frango grelhado. “Levei 50 potinhos de molho pra vender e servi 70 massas também com o molho. Vendi tudo. Pensamos que poderia ser uma oportunidade de negócios”, observa.

Foram seis meses de feiras, todos os finais de semana. Em todas elas, ouvia a mesma pergunta: “onde fica seu restaurante?” Então, decidiu abrir um delivery em 2019. Encontrou um imóvel para alugar, estudou sobre os aplicativos de entrega e encontrou uma fábrica que produzia embalagens sustentáveis. Desenvolveu cinco pratos, que estão hoje no cardápio do Curry Pasta, passou a panfletar nas feiras e, enfim, pediu demissão. “Meu ex-chefe é meu cliente hoje. Me mandou embora para poder me pagar a rescisão”, revela. Naquele mesmo ano, casou com Renata, arquiteta e parceira para as aventuras que viriam a seguir.

Foto: Priscilla Fiedler| Foto: Foto: Priscilla Fiedler

Dupla de chefs e os desafios da pandemia

A grana da rescisão durou um ano e meio. Reinvestiu o que entrava pelo delivery, procurou o Sebrae para aprender sobre empreendedorismo e modelo de negócios, e decidiu estudar mais sobre gastronomia.  Teve aulas com Dudu Sperandio, chef e empreendedor, proprietário dos restaurantes Ernesto, Ken’Eki, Lupita Caffé Cuccina e Funiculare. Do convívio diário por um mês, nasceu a ideia de abrirem, juntos, um restaurante. “Fiz um planejamento de negócios de um ano e ofereci a proposta para o Dudu: vendi uma porcentagem da marca para ele, e ele foi meu mentor e meu relações públicas. Ele me ajudou a me conectar com fornecedores de vinho, trabalhar com queijos de primeira, carnes mais nobres”, detalha.

O Curry Pasta abriu sete dias antes das autoridades sanitárias estabelecerem a necessidade de isolamento social devido à pandemia da Covid-19. “No dia do inicio do Festival Bom Gourmet”, recorda. Mas, nos sete dias em que esteve aberto, contou com a casa lotada. Precisando fechar temporariamente, Rafael enxugou a operação, aproveitou a experiência e os clientes adquiridos com o serviço de entregas e seguiu trabalhando. “Fechamos empatados em 2020, sem prejuízo. Trabalhei igual um maluco. Tinha oito funcionários; infelizmente precisei dispensar sete. Dava apenas bom dia e boa noite para a Renata, mas foi o necessário naquele momento”. No meio de 2021, Dudu vendeu de volta a Rafael a porcentagem que havia adquirido, mas os dois seguem parceiros no ramo, trocando ideias sobre o setor e seus negócios.

Com menos de dois anos de atividades, o Curry Pasta já é uma das joias gastronômicas de Curitiba. Celebrado pela união, até então pouco usual, das culinárias indiana e italiana, com um toque de elementos amazônicos, Rafael é um dos representantes, no Brasil, da cozinha de fusão. Seu cardápio autoral une a comida preferida de boa parte da população às especiarias, aromas, sabores e possibilidades da cozinha do país asiático com um toque necessário de brasilidade. Onde mais você encontraria um saboroso mignon grelhado ao molho de queijo grana com fettuccine ao curry defumado? Ou um camarão grelhado com arroz pilaf aromático e curry de alho-poró e capim-limão? De sobremesa, o menu oferece o brownie da Amazônia, ou o mousse de chocolate meio amargo com calda de amora e crocante de cacau. Tudo isso em um espaço charmoso e aconchegante no bairro igualmente charmoso das Mercês. Uma boa receita para o sucesso.

“Estou com sete funcionários novamente”, diz, com a sensação de seguir pelo rumo certo – em seus cálculos, a casa vem batendo recordes de vendas desde agosto de 2021; e dezembro foi o melhor mês do Curry Pasta. “Todo mundo diz que janeiro é um mês de prejuízo, mas consegui chegar no ponto de equilíbrio. Meu irmão e sócio, Victor, cuida da parte financeira. Não tivemos prejuízo em janeiro. Foi um início de ano excelente”, comemora.

O Curry Pasta está aberto de terça a domingo, das 11h30 às 22h(23h qui, sex, sab), na Avenida Manoel Ribas, 750. Para mais informações, acesse o site do restaurante. Deseja receber sua comida em casa? Faça seu pedido em www.currypasta.com.br/pedirdelivery