Imagem ilustrativa.| Foto: Shutterstock
  • Por Unimed e Bluem
  • 06/05/2024 13:11
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As ideias feministas se tornaram parte do nosso cotidiano há muitas décadas.

E o que começou com uma pauta legítima, na busca por direitos legais como o voto, por exemplo, foi crescendo e transbordando para outras esferas.

Já na segunda onda do feminismo, a busca pela liberdade reprodutiva ganha força e o foco na independência da mulher ao reivindicar mais oportunidades para ingresso no mercado de trabalho, inclusive para deixar de ser subjugada, dava sinais de que a maternidade seria colocada à prova.

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Daí em diante o valor da mulher passa a estar ligado ao que ela faz e não no que ela já é. O trabalhar fora não é de forma alguma uma pauta ilegítima. Ele é o meio para que muitas mulheres contribuam para o sustento de suas famílias e até mantenham seus lares quando se veem sozinhas com seus filhos.

Mas quando o trabalho se torna o principal meio pelo qual a mulher encontra seu valor, então o que era pra ser algo libertador, se torna aprisionador.

Neste compasso, algo único da mulher que é gerar uma vida, vai ficando em segundo plano. A segunda e a terceira onda do feminismo vão sugerindo que os filhos podem ser um atraso profissional para mulheres cada vez mais em ascensão e que estão conquistando posições antes ocupadas apenas por homens.

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Aquelas que optam por permanecer em casa, no cuidado dos seus, são chamadas retrógradas. A domesticidade é condenada. “Como é possível depois de décadas de luta para liberdade, uma mulher escolher ficar em casa?”.

Mércia Machado, de 54 anos, é mestre e doutora em educação, e um exemplo de como algumas pautas feministas, ainda que legítimas em suas proposições, subestimam a grandiosidade da maternidade. Nascida no Rio Grande do Norte, ela conta que vem de uma família em que o machismo foi muito forte, o que a levou a um casamento disfuncional, em que o controle emocional, financeiro, social e físico eram parte da rotina.

“Tudo isso, distorceu minha identidade como mulher", diz. Segundo ela, sua história de vida enraizou crenças que diziam que seu último papel como mulher era ser uma profissional excelente e independente de todos. "Mesmo sem querer, as ideias feministas foram se fortalecendo nas minhas crenças como forma de sobrevivência e norteando a minha forma de viver, e de desvalorizar a maternidade, a vida doméstica e o casamento. Esses papéis não eram considerados por mim", explica.

A potiguar acredita que, conscientemente, a grande maioria das mulheres não pensa sobre as ideias feministas para nortear a vida. Mas assim como ela, cada história de vida leva à busca por respostas para injustiças e violências que estão historicamente na pauta dos círculos feministas.

“A busca pela independência em todas as áreas da minha vida, para fugir dos traumas do passado, fizeram com que minhas prioridades não contemplassem o sonho de ser mãe”, afirma. Mércia lembra que por muito tempo via os filhos como obstáculos para o progresso na carreira, levando a não pensar sobre a possibilidade de tê-los. Hoje ela é mãe de duas filhas e avó de um neto.

Na conversão, o entendimento maior sobre a maternidade

Isabella Gizzi Jiacomini, de 28 anos, é pesquisadora pós-doc em imunobiológicos, e foi criada em uma denominação religiosa bastante tradicional. Durante a infância e adolescência, o que via na relação entre homens e mulheres da família foi moldando sua percepção de que era necessário caminhar com as próprias pernas e não depender de ninguém, principalmente de um homem.

“Tinha uma cultura machista, mas ao mesmo tempo existia a presença de algumas ideias feministas e antibíblicas. Era um pouco confuso. Uma fala presente durante toda a minha vida, por parte da minha avó, era de que eu precisava ter meu próprio dinheiro e me sustentar, porque um dia eu me casaria, meu marido iria me trair, e eu precisava ter a possibilidade de me divorciar”, recorda.

Até os 20 anos a Isabela permaneceu na denominação religiosa a que sua família pertencia. Então decidir se desvincular e por cinco anos não esteve em nenhuma outra igreja. “Nesse tempo eu me disse feminista muitas vezes, mesmo sem estudar a fundo.

Eu entendia que eram direitos iguais e eu era então feminista”, afirma. “Mas quando comecei a me aprofundar, percebi que eu não poderia abraçar o movimento como todo porque eu não defenderia causas que haviam ali”, diz ela.

Há cerca de três anos a Isabela passou por um processo de conversão. Nesse momento dedicou-se a conhecer mais sobre a cosmovisão bíblica acerca da feminilidade e a pesquisar mais sobre o feminismo, agora com um outro olhar sobre a questão.

“Comecei a ver o impacto das ondas feministas na maternidade, a questão dos direitos reprodutivos, o aborto, a mulher no mercado de trabalho e a escolha de não ter filhos em busca de um reconhecimento nas empresas”, diz.

Para Isabela há uma grande hipocrisia da segunda onda em diante, justamente por essa mentalidade de que o valor da mulher não está em quem ela é, mas na sua qualificação acadêmica e profissional. “A domesticidade passa a ser criticada. A luta inicial era para que a mulher fizesse o que desejasse, mas se torna a luta pelo mercado de trabalho, porque quando ela faz o que deseja, e o desejo é estar em casa, então ela é apedrejada”, avalia.

“Minha preocupação ao me tornar mãe, é de que meus filhos saibam que são uma bênção e não um empecilho. Ser mãe é doar-se, e muitas vezes o feminismo prega que devemos pensar somente em nós mesmas, como no caso do aborto, por exemplo. É preciso lembrar que nós geramos vida e que apesar das dificuldades, ser mãe é um ato de altruísmo”, finaliza.

*Próxima leitura: Mãe são fundamentais no desenvolvimento da espiritualidade dos filhos

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