Empresas que investem na saúde mental de seus profissionais e buscam estimular um ambiente corporativo saudável são mais lucrativas. Ao longo dos anos, várias pesquisas vêm comprovando o que a prática cotidiana já vinha demonstrando e isso ganhou ainda mais força com a pandemia de Covid-19. O Relatório Tendências de Gestão de Pessoas Great Place To Work (GPTW), divulgado em fevereiro deste ano, mostrou que 97,2% dos gestores de empresas dos mais diversos segmentos consideram a saúde mental um ponto relevante para a gestão de pessoas. Para 80%, o tema passou a ser mais importante e mais discutido depois da pandemia.
Outro estudo conduzido pela pesquisadora Sonja Lyubomirsky, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, mostrou que funcionários mais satisfeitos conseguem resultados em vendas até 37% superiores aos demais, além de ter o potencial criativo triplicado.
Uma pesquisa recente da Harvard Business Review mostrou que, além de melhorar em produtividade, os colaboradores chegam a ser 85% mais eficientes e 300% mais inovadores.
Em algumas organizações já existe até uma nova função para o responsável pela felicidade dos colaboradores: trata-se do CHO (chief happiness officer) – ou, simplesmente, diretor de felicidade, conceito criado pela empresa dinamarquesa Woohoo Partnership – com o objetivo de promover mudanças positivas e no ambiente de trabalho.
Prejuízo coletivo
Por outro lado, quando não se investe em saúde mental, o prejuízo para as organizações é ainda mais impactante. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as situações de competição são as principais causas de estresse associadas ao trabalho. E as estatísticas apontam que, de cada cinco colaboradores, um pode sofrer algum problema de saúde mental, impactando diretamente no clima organizacional, causando perda de produtividade, faltas ao trabalho, entre outros problemas laborais.
Quadros como depressão e ansiedade têm um impacto econômico bastante significativo na economia mundial: o equivalente a US$ 1 trilhão é desperdiçado todos os anos em função da perda de produtividade decorrente de problemas relativos a doenças mentais no ambiente de trabalho.
De acordo com o médico psiquiatra Pedro Shiozawa, a prevalência de sintomas emocionais no trabalho – como insônia e falha de memória, por exemplo - também aumentou consideravelmente depois da pandemia e hoje atinge cerca de 60% da população economicamente ativa.
Shiozawa, que é doutor em psiquiatria, professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e cofundador da Jungle Medical Sciences, ressalta a importância de as empresas adotarem boas práticas em saúde emocional, políticas para gerenciar um ambiente de segurança psicológica e dar condições para os profissionais se desenvolverem. “Mas sempre existirá uma parte da saúde emocional que é de responsabilidade de cada um, a partir de hábitos saudáveis e rotinas que consigam melhorar o desempenho frente ao estresse”, observa.
Daniela Diniz, diretora de Conteúdo e Relações Institucionais do Great Place to Work Brasil, fala que entre os principais recursos apontados pelas empresas no Relatório Tendências de Gestão de Pessoas Great Place To Work (GPTW) estão recursos como palestras e rodas de conversa sobre o tema saúde mental (56,6%); treinamento das lideranças (46,4%); terapia online como benefício (34,5%) e até mesmo a contratação de especialistas da área de Psicologia, por exemplo, para atender os colaboradores (24,3%).
Segundo o empresário Hilgo Gonçalves, embaixador do GPTW no Brasil e sócio-diretor do GPTW no estado do Paraná e interior de São Paulo, as empresas estão cada vez mais atentas quando o assunto é a saúde emocional dos profissionais, inclusive envolvendo as lideranças no cuidado especial dos colaboradores. “O momento que passamos foi muito desafiador. Isto requer das pessoas uma mudança de atitude e, principalmente, da liderança no trato com seus liderados”, precisamos humanizar ainda mais as relações”, pontua.
Gonçalves ressalta que o investimento no clima organizacional e na saúde emocional dos colaboradores se reflete no aumento da confiança na empresa. “Aumenta o engajamento do time, que, como consequência, adoece menos, e tem mais prazer de estar no ambiente de trabalho, é um círculo virtuoso “, comenta.
Na Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), por exemplo, o tema saúde mental está na pauta desde 2015 e, de acordo com Maria Carolina de Castro Leal, consultora de negócios da gerência de Tecnologia, Inovação e Responsabilidade Social do Sistema Fiep, a pandemia “colocou uma lente de aumento na urgência de incluí-la como estratégica para a gestão da qualidade de vida no trabalho”.
O Sesi abriu o Canal de Acolhimento à Saúde Mental para todos os profissionais da indústria do estado, com o objetivo de oferecer escuta e apoio para situações em que haja sofrimento humano. Além de difundir o conhecimento e a informação sobre a saúde mental, o objetivo é incentivar práticas de autocuidado, ampliar a rede de apoio, orientar as lideranças quanto à importância da segurança psicológica no ambiente de trabalho, buscar alternativas para a ampliação dos atendimentos psicológicos e psiquiátricos e ainda utilizar plataformas digitais para informação e atendimento on-line.
Outra instituição que investiu nessa área foi a Sicoob Credicitrus, cooperativa de crédito com atuação em São Paulo e Minas Gerais. Logo após o início do isolamento social, em 2020, com grande parte do quadro funcional atuando em home office, a Credicitrus investiu em programas para assegurar o bem-estar físico e psicológico dos colaboradores, o que garantiu à instituição o Prêmio GPTW Brasil durante três anos consecutivos. “A Credicitrus tem como um de seus pilares de gestão o cuidar de pessoas, por isso, proporcionar aos nossos colaboradores todo o apoio necessário para seu desenvolvimento profissional e pessoal nos transforma em uma equipe diferenciada, fortalecendo o propósito da Credicitrus de somar forças para gerar prosperidade, transformar vidas e desenvolver a comunidade”, comenta o CEO da Credicitrus Walmir Fernandes Segatto.