A contratação de mão-de-obra qualificada para atuar na área de tecnologia no Brasil é um processo cada vez mais desafiador com o surgimento de novas ferramentas e a disputa pelos profissionais especializados. Com o leilão das faixas de frequência do 5G, realizado no início de novembro, esses profissionais devem ser ainda mais valorizados. Isso porque as instituições de ensino no país não dão conta de atender à demanda do mercado. As empresas de tecnologia perceberam essa deficiência e resolveram investir na capacitação profissional dos brasileiros para garantir o crescimento da economia nos próximos anos.
De acordo com o Relatório Setorial de TIC da Brasscom – Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais –, a projeção é de que, até 2024, sejam criadas 420 mil novas vagas no setor. Por outro lado, dados da entidade mostram que, anualmente, o Brasil forma apenas 46 mil profissionais com perfil tecnológico.
A implantação do 5G impacta na vida de todos os cidadãos, devido, entre outras coisas, à “baixa latência”, ou seja, o tempo que os dados levam para trafegar de um ponto a outro. Além de melhorar a produtividade e a segurança digital no ambiente corporativo, o 5G vai aumentar o número de dispositivos de Internet das Coisas (IoT) – alguns exemplos práticos são os robôs que auxiliam na faxina doméstica, as máquinas de lavar roupa e louça que podem ser acessadas remotamente, entre outros equipamentos domésticos, além dos próprios carros autônomos.
Para as empresas, a mudança é ainda mais significativa, uma vez que além de novos produtos, serviços e experiências ao usuário, o ambiente corporativo contará com um sistema muito mais eficiente para receber e armazenar grandes volumes de dados.
Capital humano
No entanto, é necessário investir na formação de profissionais tanto para a produção desses bens como para viabilizar a infraestrutura necessária para o tráfego de dados.
Para o advogado Ericson Scorsim, consultor no Direito Regulatório das Comunicações e doutor em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), a demanda por capital humano em torno da cadeia de valor das redes de 5G será exponencial nos próximos anos.
Porém, ele analisa que o Brasil, como país, não tem projeto educacional para atender às demandas em torno dessa nova tecnologia. “Mas as empresas e as organizações setoriais têm destacado investimentos para a qualificação do capital humano. Existem muitas vagas abertas no mercado, porém realmente falta a qualificação das pessoas”, observa o consultor, que atua na área de telecomunicações há mais de 20 anos.
De acordo com Scorsim, as principais demandas envolvem principalmente a instalação das redes de 5G nas cidades e no setor da tecnologia de informação e comunicações. E a atração de talentos profissionais, enfatiza o especialista, passa pela criação de um sistema de incentivos financeiros e não-financeiros. “O engajamento desses talentos virá da capacidade das empresas em comunicar a respeito do futuro potencial de ganhos e oportunidades com a tecnologia de 5G. E, também, em proporcionar a motivação pelos desafios na construção de um ecossistema digital de vanguarda no país”, enfatiza.
Investimento em capacitação
A Huawei, líder global em soluções de Tecnologia da Informação e Comunicação e uma das 100 marcas mais valiosas do mundo de acordo com a Forbes, é uma dessas empresas. Presente no Brasil há 23 anos, a organização é líder no mercado nacional de banda larga fixa e móvel por meio das parcerias estabelecidas com as principais operadoras de telecomunicações e possui escritórios nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba e Recife, além de um centro de distribuição em Sorocaba (SP) e um Centro de Treinamento em São Paulo.
Bruno Zitnick, diretor de Parcerias e Relações Governamentais da Huawei Brasil, fala que só nos últimos cinco anos a empresa formou cerca de 35 mil profissionais de nível superior para atuar na área de tecnologia no país, a partir do Huawei ICT Academy. Segundo ele, trata-se de uma parceria sem fins lucrativos entre a empresa e instituições de ensino superior para oferecer aos estudantes cursos de certificação da Huawei reconhecidos pela indústria.
O programa funciona como uma ponte entre empresas e academia para construir um ecossistema de talentos para o setor de TIC, sem custo algum para a instituição de ensino ou para o acadêmico. No início de 2021, eram apenas dez universidades parceiras e agora já são 93, entre públicas e privadas. “É um programa na área acadêmica que busca aproximar as pessoas do mercado. Só este ano foram treinadas 6 mil pessoas em todo o país e a meta é dobrar este público”, afirma.
Para promover essa aproximação, a empresa promove eventos como o Huawei ICT Competition, uma competição tecnológica e acadêmica que fomenta a troca de conhecimento e o uso criativo das novas tecnologias e plataformas, e o Huawei ICT Job Fair, uma feira que reúne empresas da área TIC para oferecer vagas de estágio e emprego para estudantes e profissionais de várias regiões do Brasil. Este ano, a feira acontece em dezembro.
Zitnick explica que, além de fortalecer sua própria cadeia produtiva – a empresa, seus fornecedores, parceiros e o mercado em geral – a iniciativa é uma contrapartida social da Huawei e acontece em outros 170 países. De acordo com ele, as instituições de ensino têm a liberdade de escolher o curso conforme às características e às demandas regionais. “A tecnologia 5G já existe e quem vai produzir são esses profissionais que a gente está formando. Não podemos ficar dependente do que está sendo produzido fora do país e depender da importação de mão de obra”, destaca o diretor.