A relação da mulher com o mercado de trabalho, sem dúvidas, obteve um grande avanço nos últimos anos. Contudo, em pleno século XXI, o mundo profissional ainda é mais difícil para elas, principalmente em altos cargos de gestão, como de CFO, por exemplo. Segundo a pesquisa da International Business Report da Grant Thornton, divulgada em 2020, as brasileiras representam cerca de 34% dos cargos de liderança sênior nas empresas. O número coloca o Brasil em 8º lugar e acima da média de 29% dos países analisados.
Entretanto, o grande avanço conquistado nos últimos anos foi gravemente afetado pela pandemia, que passou a sobrecarregar ainda mais o papel da mulher na sociedade. De acordo com dados do IBGE, somente no terceiro trimestre de 2020, cerca de 8,5 milhões de mulheres haviam deixado a força de trabalho. Muitos especialistas passaram a chamar a crise econômica de “she-cession” por impactar, maiormente, o mercado de trabalho para as mulheres.
Além de serem profissionais, elas precisaram ser mães e donas de casa em tempo integral durante a pandemia. Para a sócia diretora da Proposito Transearch e coordenadora do Comitê de Desenvolvimento de Executivos do IBEF-PR, Ruth Bandeira, a rotina dentro casa no período de isolamento social recaiu muito sobre as mulheres.
“Quando tudo está dentro de casa, geralmente, quem fica responsável por acompanhar as crianças no homescholling, fazer a comida e cuidar da casa é a mulher. Não podemos generalizar, mas infelizmente isso acontece em muitos lares. Então, ela precisa dar conta de trabalhar e ainda realizar todas essas outras atividades. Quando ela percebe que não está dando conta, ao invés de dividir a tarefa com a família, muitas vezes a mulher acaba abrindo mão da sua carreira em prol dos demais”, explica.
A headhunter ainda relata que as mulheres enfrentam constantemente limitações geográficas nas suas carreiras, principalmente quando alcançam níveis mais altos de gestão. “Quando uma executiva recebe uma oferta de emprego em outra cidade, por exemplo, na grande maioria das vezes, ela tem que abrir mão dessa oportunidade, pois o seu marido que já tem um emprego, não quer mudar em função da esposa. Isso acontece em cerca de 80% dos casos”, conta.
Desafios para assumir cargos mais altos
As adversidades que as profissionais precisam encarar ainda são muitas: diferenciação entre responsabilidades, disparidade salarial, desvalorização da capacidade intelectual e, até mesmo, com o machismo e a discriminação. Porém, muitas delas vêm rompendo barreiras históricas e se destacando no ambiente de trabalho, assumindo cargos de liderança que eram tradicionalmente ocupados por homens.
“Antigamente existiam carreiras para mulheres e carreiras de homens. E as carreiras destinadas às mulheres, na maior parte das vezes, não incluíam ser gestora de times ou chefe de um homem, por exemplo. A mulher era encaixada em papéis servis, normalmente servindo a outro cargo ocupado por um homem. Então é uma questão cultural que vamos encarando e modificando ao longo dos anos. As mulheres precisam dedicar-se integralmente em todos os papéis que ocupam em sua vida, de outra forma, elas não conseguirão conquistar posições de destaque, pois a sociedade e as organizações, geridas em sua maioria por homens, ainda tendem a ter uma certa dúvida da capacidade das mulheres em posições de alta gestão. Essa é uma questão cultural que está mudando lentamente”, revela.
Mulheres se candidatam menos às oportunidades
No que diz respeito a trajetória profissional feminina, as empresas têm buscando contratar mais mulheres para os cargos de gestão. Contudo, há uma grande dificuldade de encontrar profissionais disponíveis, uma vez que elas se candidatam menos às posições diretivas.
“Um homem quando vai se candidatar para uma vaga de emprego, ele avalia se pelo menos 30% das competências e conhecimentos solicitados pela empresa são atendidos por ele e então se candidata. Já a mulher, para o mesmo cargo, só se candidata para a posição se entender que tem 60% das competências e conhecimentos demandados pelo perfil. Ou seja, a mulher é menos ousada para se jogar nas oportunidades de mercado”, reflete Ruth.
A especialista em recrutamento de alta gestão ainda avalia o comportamento e a atitude das executivas que podem fazer a diferença no começo de suas carreiras. “Há uma autocobrança e, de certa forma, uma autossabotagem por parte das mulheres em acharem que não são capazes de assumir certos cargos. Essa síndrome de impostora que o mercado fala é um dos grandes temas que vão precisar ser trabalhados para que as mulheres evoluam em números em cadeiras mais altas. No meu ponto de vista, essa é uma grande dificuldade que o mercado e as próprias mulheres terão que atacar”, afirma.
Necessidades diferentes entre os gêneros
É evidente que as necessidades profissionais das mulheres são bem diferente das dos homens. Muitas empresas, inclusive, passaram a ter um olhar mais sensível para essas particularidades, estabelecendo políticas de afastamento para licença maternidade com tempo maior para a mulher, por exemplo.
Contudo, ao observar outros países que possuem mais equidade de gêneros, a licença não é apenas maternidade, mas sim parental, onde homem e mulher se afastam para cuidar da família que está sendo formada. A headhunter avalia que, dessa forma, ambos passam a ter as mesmas oportunidades na carreira, uma vez que a responsabilidade de cuidar dos filhos não recaí somente sobre a mãe, isentando ela das consequências de ficar tanto tempo fora do mercado de trabalho.
“Precisamos de deveres e responsabilidades iguais entre gêneros. Enquanto tivermos somente homens nos cargos de decisão, decidindo o que vão oferecer para as mulheres da empresa, não vai resolver. As mulheres precisam ser ouvidas e estarem à vontade para falar. Por isso é tão importante que tenham outras mulheres na liderança dispostas à compreende-las” completa a coordenadora do comitê.
Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças – IBEF Paraná realizou um evento online com o tema “Vencedoras por Opção”, inspirado no livro de Jim Collins e Morten T. Hansen, e analisou a trajetória e atitudes de diversas executivas para chegarem à situação justa de equilíbrio no ambiente profissional. O bate-papo contou com a participação da CFO Financial Services CNH Industrial South America, Fabíola Góes; da diretora de Contabilidade na Volvo VCE, Lívia Afonso; e do CFO e Head de RI na Ouro Verde Locação e Serviço, Ricardo Pereira, que também membro do Comitê de Desenvolvimento de Executivos do IBEF-PR. A iniciativa recebeu o patrocínio de gestão da PwC Brasil, do escritório Gaia Silva Gaede Advogados, da Valore Investimentos e do Banco Safra. Para assistir o evento acesse:
Sobre o IBEF PR
O Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Paraná (IBEF-PR) é uma instituição sem fins lucrativos, que congrega executivos de finanças dos vários segmentos da atividade econômica do Paraná: executivos das áreas de indústria, comércio, consultorias, empresas de serviços, auditorias, instituições financeiras (bancárias e não-bancárias) e instituições governamentais.
Através de seus comitês de Finanças, Compliance e Riscos, Tributário e Empresarial, Inovação e Desenvolvimento de Executivos, o IBEF-PR realiza vários eventos, discussões e compartilha conhecimento para contribuir com o desenvolvimento dos profissionais de finanças do Paraná.