O cenário macroeconômico de um país desempenha um papel crucial na determinação do ambiente em que as empresas operam. No caso do Brasil, as condições econômicas têm sido marcadas por uma série de desafios nos últimos anos, como volatilidade cambial, inflação, taxas de juros e incertezas políticas, além de, é claro, a recente pandemia pela qual passamos. Diante desse contexto, as empresas enfrentam uma tarefa complexa ao elaborar seus planos financeiros, tanto a curto quanto a longo prazo.
Segundo o IBGE, a economia brasileira cresceu 1,9% nos primeiros três meses de 2023, em comparação com os três meses anteriores — um crescimento acima do esperado. Os números apontam que setor agropecuário foi novamente o catalisador desse crescimento. O setor de serviços também registrou alta, de 0,6%. Já a indústria teve uma leve queda de 0,1% na atividade.
Quanto à inflação, o Boletim Focus vem mostrando redução nas expectativas do aumento contínuo dos preços de bens e serviços. O mercado brasileiro acredita que a inflação de 2023 terminará em 5,71% e que a taxa de juros cairá dos atuais 13,75% para 12,5%. Além disso, em seu relatório de abril, o FMI agora prevê que a inflação mundial — que foi de 8,7% em 2022 — ainda resiste e deve cair pouco, para 7% ao final deste ano. Com isso, as projeções para os níveis pré-pandêmicos de inflação e juros só viriam em 2025.
E por que isso é importante? Ora, vale sempre destacar que as taxas de juros e a inflação têm impacto direto nos custos de financiamento e nas despesas operacionais das empresas. Por exemplo, altas taxas de juros aumentam os custos de empréstimos e afetam a disposição dos consumidores para gastar. A inflação pode corroer ainda o poder de compra e desencadear aumentos salariais, elevando os custos de produção. E não podemos esquecer também que o mercado de dívida é volátil, como demonstrado com a escassez de recursos que impactou o mercado brasileiro no começo de 2022 logo após o escândalo de uma empresa de varejo.
Portanto, no planejamento financeiro é essencial sempre considerar cenários de variação das taxas de juros e da inflação, e, principalmente, de liquidez, ajustando estratégias conforme necessário.
Jim Collins em seu livro “Great by Choice” discorre muito sobre as características que fizeram empresas prosperarem em ambientes complexos e se diferenciarem de seus concorrentes. Um destes pontos, entendo ser de grande relevância para o CFO e
para um bom planejamento financeiro: A Paranóia Produtiva. Por óbvio, que este não é o único ponto relevante para o sucesso das empresas, mas ele é uma condição sine qua non para o planejamento financeiro.
Collins explora 3 práticas fundamentais sobre a Paranóia Produtiva:
- Construa reservas de caixa para estar preparado para eventos inesperados antes que eles aconteçam;
- Desenhe os seus limites para risco e entenda quais os limites que, caso ultrapassados, podem matar a sua empresa;
- Sempre exercite o “zoom out” e depois o “zoom in”, estando sempre hipervigilante e sentindo as mudanças das condições para poder reagir rápido e efetivamente.
O ponto principal para o CFO de qualquer empresa é que este profissional tenha o entendimento de que ele não pode de forma consistente e confiável prever o futuro, mas que é mandatório criar diversos cenários, e entender que situações adversas sempre podem ocorrer (como Collins nos aponta). O planejamento financeiro das empresas deve levar isso em consideração para que a empresa esteja sempre preparada para se adaptar rapidamente a diferentes situações, seja para aproveitar oportunidades ou mitigar riscos. Ao diversificar mercados, gerenciar riscos financeiros, simular impactos em preços e considerar diferentes situações, as empresas podem se posicionar de forma mais resiliente diante das flutuações econômicas, garantindo a sustentabilidade de suas operações a curto e longo prazo.