O tripé clima, topografia e solo está por trás de um dos grandes mistérios do universo dos vinhos: o terroir. É ele o responsável por vinhos completamente diversos feitos com a mesma uva, mas em locais e por produtores diferentes.
Quem nos explica melhor é Jonas Martins, gerente geral e sommelier da MMV Importadora, de Curitiba. O clima é mais fácil de entender. Por exemplo, o Sul do Brasil é mais frio, chove no inverno e no verão. No Nordeste, faz calor o ano todo e chove em épocas específicas. “A mesma uva exposta a esses dois climas diferentes vão dar vinhos variados, com acidez e quantidade de açúcar diversas”, completa.
Quanto ao solo, os mais arenosos têm uma drenagem maior e pedem irrigação, ao passo que solos mais argilosos são mais frios, têm uma retenção de líquido maior, o que influencia na maturação da uva --- que é mais longa nos argilosos. Quando se fala em topografia também se fala em inclinações, incidência solar e alteração de temperatura entre dias e noites. “Em regiões extremas, como em uma parte da Califórnia, por exemplo, amanhece com um grau negativo e ao meio dia, faz 30 graus. Isso tem influência em como a uva vai maturar, que tipo de acidez ela vai ter. No mundo dificilmente vão existir duas regiões que tenham isso de forma idêntica”, ensina.
Porém, Martins acrescenta outro fator: o ser humano. E isso extrapola o enólogo e envolve todos que trabalham em uma vinícola. “Muito vai do estilo do que o enólogo gosta de fazer, vinhos mais carregados, mais leves, ele pode ir para lados completamente diferentes”, diz.
Toscana, Itália
Bastante conhecida pelo Chiantis e Brunellos di Montalcino, a região tem predominância da uva Sangiovese. Pelo menos tinha. Martins comenta que há cerca 50 anos, alguns produtores começaram o movimento dos super toscanos, no qual passaram a explorar uvas que não faziam parte da Toscana, como Syrah, Cabernet Sauvignon e Chardonnay. Eles queriam fazer apenas bons vinhos, mas não necessariamente apenas Chiantis.
A vinícola Inserrata (cujos vinhos podem ser encontrados na MMV) tem respeito ao terroir, explica Martins. O vinho Intrigo, por exemplo, é feito com a Chardonnay e segue muito o estilo do Chablis – vinho tradicional da Borgonha. Eles também apostam na Sangiovese mostrada de diferentes formas. Inebriante é um Sangiovese rosé, super estruturado, mas leve. Já o Inusuale é um Sangiovese branco, no qual se fermenta apenas a polpa da uva. A propósito, esse tipo de vinificação nasceu em Champagne, terra do champagne na França. “É um produto único e a Inserrata é pioneira nisso. Pra quem já provou muita coisa em termos de vinho, esse ‘quebra’ sua cabeça. É um vinho com aroma de flor, fruta cítrica”, afirma.
Mendoza, Argentina
Na América do Sul, temos a região de Mendoza, da qual vem os vinhos Cinco Sentidos. Os vinhedos a vinícola Finca Algarve ficam em Palmira, Altamira, Maipu e Vale do Uco. Uma característica é que Mendoza é muito quente, o que resulta em uvas muito maduras e até sobremaduras, com vinhos que chegam a 14,5%, 15% de álcool, mas muitas vezes com falta de acidez.
Porém, os vinhedos deste produtor ficam próximos a elevações e são mais sombreados. “Eles acabam tendo uma acidez legal para Mendoza. Não são tão encorpados e têm um frescor. É uma característica do produtor e como ele usa o terroir dele”, explica.
Vales do Curicó, Maule, Itata, Chile
Martins comenta que todas essas regiões ficam ao Sul de Santiago (a capital). Cada uma diferente da outra. “Curicó consegue ter a maior quantidade de uvas que se adaptam. Desde as com ciclos curtos de produção, como Merlot e Chardonnay, até uvas maturação maior, como Cabernet Sauvignon e Carménère. “São vinhos de médio corpo para encorpados”, resume.
Maule e Itata são regiões mais frias e, portanto, um pouco mais limitadas com a questão da uva. Mas é um região bem seca, o que resulta em vinhos com acidez altíssima. “É uma região apta para essas uvas mais rústicas, como a Pais, Cinsault, Moscatel”, conta.
Alentejo, Portugal
Fica mais ao Sul de Portugal, é uma região quente, plana, com alta produtividade de uvas. A vinícola Monte da Capela, fica na sub-região de Moura. “Lá é muito quente. Faz 42 graus no verão durante o dia e à noite esfria para 12 graus. Essa variação é boa para acumular acidez”, ensina Martins.
Ele completa que, na sua avaliação, os vinhos do Alentejo são a maior porta de entrada para quem quer começar a apreciar os vinhos europeus porque não vão ser uma grande modificação com relação aos da América do Sul.
Flores da Cunha (RS), Brasil
Estão em um território com a Denominação de Origem Altos Montes. Martins conta que um erro que se cometia antes era igualar o terroir brasileiro dessa região com os dos vizinhos Argentina e Uruguai. “Nosso terroir se parece mais com as regiões da Toscana e Bordeaux, na França”, diz. Com clima e temperatura mais temperados. Ou seja, mais acidez nas uvas. Por isso ele é ótimo para espumantes.
Os vinhos da vinícola Viapiana são vinhos de guarda. “O Chardonnay, por exemplo, é 2015. O Marselan é 2014. São sempre muito estruturados”, complementa.
Um terroir diferente -- Vale do Elqui
Se Martins apostasse em um terroir desconhecido, ele recomendaria o Vale do Elqui, no Chile. É o oposto do Vale do Itata, é bem alto e desértico.
Os vinhedos ficam quase todos em altitude e as grandes amplitudes térmicas têm dado bons vinhos.
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