Recentemente li um artigo muito bacana do MIT Technology Review escrito pelo Douglas Montavão, diretor de geral de Enterprise da Adobe Experience Cloud para a América Latina, entitulado "A Era do Cemitério de Dados", comentado em seguida pelo Rodrigo Padilha, Diretor de Serviços e CX da Volvo Caminhões para a America Latina em um post no seu perfil do Linkedin relatando sobre o risco de não aproveitamento dos investimentos em dados e consequências práticas na visão de inovação da empresa pela ausência de uma estratégia clara em relação a coleta, armazenamento e uso efetivo de dados.
Em resumo, empresas que estão seguindo uma "hype" tecnológica e não estão refinando o "novo petróleo" e viabilizando seu aproveitamento máximo em tempo real ao momento da experiências do cliente estão perdendo recursos, oportunidades e, como consequência, contribuindo para aumentar esse "cemitério". E mais, muitas vezes de forma não intencional, mas principalmente pelo fato da estratégia de negócios e dados não foi criada tendo o cliente no centro e pela falta do conhecimento necessário nos níveis adequados da organização para fazer o blend equilibrado entre esses diferentes fatores.
Façamos um paralelo em relação a nós, pessoas, e a nossa desejável cultura de aprendizado contínuo. Quantidades inimagináveis de conteúdos são produzidas e colocadas a disposição a cada minuto por diferentes cabeças humanas pensantes e até Inteligências Artificiais, certo? Obviamente estou falando aqui tanto dos meios digitais que, por sinal, da mesma forma que para com os negócios, permitiu um salto quântico na velocidade de captação, distribuição e armazenamento desse conteúdo muitas vezes de forma gratuita, seja por voz, imagem, vídeo ou texto, quanto dos meios tradicionais, que levam um pouco mais de tempo para circular na sociedade, mas chegam.
Assim como as empresas, somos muitas vezes seduzidos pelo bombardeio de "hypes" de método, conteúdo e temas que nos induzem aos famosos FOMO (Fear of Missing Out ou Medo de Ficar de Fora) e FOBO (Fear of a Better Option ou Medo de uma Opção Melhor). A partir deles nossos mecanismos de defesa nos induzem a investir nossa energia e recursos em uma enormidade de produtos e serviços que consumiremos ou de forma parcial ou jamais transformaremos em conhecimento e benefício de fato. Muitas "começativas" e poucas "acabativas". Isso vale tanto para nosso desenvolvimento de carreira, quanto para hobbies, bem-estar físico e emocional. Quantas anuidades de academia foram suadas? Quantas bicicletas, patins, ferramentas, telas, pinceis, sapatilhas, chuteiras, colchões de Yoga e varas de pescar estão ocupando espaço e tomando poeira? Quantos treinamentos on line foram começados e concluídos? Quantos vouchers de experiência venceram a validade? Quantos livros, textos, audios sequer foram ouvidos ou folhados?
Seria esse o nosso "Cemitério de Conteúdo"? Ou nosso "Armazém de Oportunidades"? Parafraseando o Gui Rangel, "informação que não gera transformação é apenas entretenimento" e disso nossos "cemitérios" estão cheios (talvez até demais)! Aliás, longe de mim criticar o entretenimento. Ele é absolutamente mandatório ao nosso bem estar, assim como o ócio!
A maturidade (que sim, pressupões uma relação de vivência no tempo) favorece a compreensão do pensamento enxuto, consciente e sustentável dos recursos que nos são disponíveis. Compartilho essas reflexões pois me enxergo exatamente no barco da busca pelo aprendizado contínuo e tentando refinar conteúdo em conhecimento, minimizando assim a engorda desse "cemitério" e o aproveitamento máximo desse armazém de oportunidades. Alguma reflexões e ações que considero importantes:
70+20+10 - Esses 3 números representam um modelo de aprendizado que procuro seguir e pregar, que combina empirismo e racionalismo, as duas teorias principais que explicam a origem do conhecimento. Ou seja, 70% do aprendizado a partir de experiências e vivências práticas próprias, ou seja, aprender fazendo. 20% a partir da colaboração, interação e observação de outros com fonte de conhecimento e inspiração - aqui entra o networking, o coaching e a mentoria. E 10% a partir de treinamentos formais, livros, conteúdos, etc. Importante reforçar o sinal gráfico de mais "+" pois a sua efetividade só se dá pelo uso combinado das 3 abordagens.
No mundo dos negócios, o importante é colocar o cliente no centro de toda a estratégia, certo? Na sua vida, você é o cliente. Invista tempo em conhecer-se. Coloque-se no centro, descubra o seu propósito e assuma a posição de protagonista da sua jornada. Faça, se não der certo, tente novamente ou tente outra coisa, só não pare. Esses são os 70%! As vezes, para aprender, é necessário desaprender. Acompanhe a experiência e busque indícios de engajamento. Estar engajado é transformar o precisar em querer pelo vínculo daquela ação com o propósito. Isso ajuda a decidir o que "consumir" nesse mar de opções.
Como catalisar as oportunidades?
Parceria é a nova liderança, como diz o CEO do Grupo Volvo, Martin Lunsted. Conecte-se! Uma das melhores maneiras de saber o que têm de melhor por ai é estar próximo das referências e de quem busca assim como você. Isso faz parte dos 20%! Seja dentro do seu negócio/empresa ou fora dela, pelas redes sociais, Confrarias de Executivos como o Instituto Connect do qual faço parte, e que desempenha esse papel de ampliar repertório, ampliar minha visão de mundo através das trocas com outros executivos. Há também associações, grupos de estudo, conselhos, ou seja, qual é a forma que você se identifica e que fará esse papel estratégico na sua vida?
Coloque isso na agenda!
Pode parecer antagônico mas, consuma conteúdo intelectual, sem limite, seja na forma de livros, artigos, redes sociais, palestras, treinamentos, filmes, séries, enfim, desde que se disponha a começar e terminar num limite razoavel de tempo e em conexão com a sua jornada. Logicamente há excesões para tudo, mas seja disciplinado! Isso ajuda a restringirmos o tamanho do famoso backlog ou lista de pendências, fonte alimentadora dos "cemitérios de conteúdo". Mas lembre-se isso equivale somente a 10%.
Coloque seu bem estar físico e emocional como parte prioritária na agenda, incluíndo o convívio familiar e social, o sono e o ócio como parte fundamentais dela.
E, por fim, o mais importante: Comece!
Luiz Guilherme Malucelli – Membro da Confraria de Executivos do Instituto Connect, Executivo, Conselheiro e apaixonado por conexões e aprendizagem
A Confraria de Executivos, promovida pelo Instituto Connect, é um espaço para conexão de executivos de vários segmentos, estados e países, trata-se de uma comunidade de aprendizagens e caminhando em uma jornada de networking, experiências e impacto social.