Já se perguntaram por que essas duas temáticas sempre andam juntas de maneira consciente ou não?
Observe ao seu redor, ou por vezes você mesma (o) lendo esse artigo se dará conta do quanto são decisões que já tomou ou acompanhou alguém, que tenta equilibrar o melhor momento para a decisão de se tornar mãe.
A decisão da maternidade é deixada de lado para ter a sonhada carreira de “sucesso” executiva, ou seja, por vezes a crença é de abrir mão para almejar postos mais altos. Por outras vezes, mulheres pediam desligamento e deixavam em segundo plano a gestão de sua carreira. Estar full time com os filhos era sinônimo de “ser boa mãe” e não contar com a ajuda de alguém, pois é visto como “delegar” a educação. Essa cobrança se dá em todos os níveis, veja a recente polemica envolvendo a Virginia Fonseca que rebateu as críticas pelo fato de ter uma babá e que na crítica ela deveria estar sendo mãe em período integral “não sou menos mãe”.
Até quando vamos representar um papel imposto pela sociedade?
É nítida a evolução que tivemos enquanto mindset, e ao posicionamento das mulheres querem ou não ter filhos e principalmente a maturidade de lidar com o tema. Apesar do progresso, equilibrar papeis de maternidade e paternidade, ainda é um tabu para muitas famílias, e as empresas por sua vez estão tentando cada vez mais adaptar suas políticas para torná-las mais inclusivas e principalmente trabalhando forte na disseminação de um senso compartilhado de responsabilidades, seja propiciando políticas de licença paterna, palestras etc.
Porém apesar da evolução em aspectos triviais como: levar ao médico, reuniões escolares, divisão das atividades domesticas, ainda há decisões mais complexas que precisam ser endereçadas como: acompanhar expatriações “abrindo mão” de uma carreira masculina para suportar a esposa na sua ascensão, ou o marido abrindo mão de uma carreira internacional para não prejudicar a carreira da esposa, e ainda apesar de bons sinais sendo acompanhados nos posts como contratações e promoções durante a gravidez, ainda são tímidos em função do potencial, é como se a “carreira parasse” durante a gestação e licença.
Quais são os Vieses Inconscientes que ainda regem as suas decisões?
Refletir sobre a forma e valores que fomos educados e refletir a cultura empresarial que estamos inseridos é muito relevante. Pois há crenças intrínsecas de culturas machistas, que por exemplo ainda não apoiam mulheres em posições de gestão, seja de forma velada ou não, ou até mesmo não tem o mesmo nível de reconhecimento salarial e de espaço para discussões.
Esses vieses inconscientes irão ditar modelos mentais sobre a sua forma de gerir seu time ou educar seu filhos e ainda mais como “modelo” na sociedade.
Essa cultura irá refletir na forma que interage com seus filhos, dando estímulos diferentes ou até mesmo na forma que incentiva as mulheres ao seu redor a sonharem algo e acreditarem em seu potencial.
Pensamentos recorrentes como: “ela não está pode assumir essa cadeira porque demanda muita viagem”, “essa posição é muito pesada para ela com X filhos” lembre-se que a decisão é dela de querer assumir ou não assumir esse desafio e por vezes pode contar com uma estrutura familiar que comporta essa logística, ou seja, a decisão de escolha cabe a ela.
Ou ainda pensamentos como: “vamos contratar uma mulher que é mais organizada (de forma imperceptível reconhece atributos da dona de casa e não quem vai apoiar em decisões). “A Maria escreve porque tem letra bonita” (De fato é a letra, ou enquadrando em uma posição de assistência). Parece detalhes, mas de fato isso norteia o espaço da diversidade na sua organização e na sua crença.
Quais são outros vieses que já “caíram a ficha” que aplica ou aplicou? Debater sobre esses aspectos no seu círculo familiar e time é muito relevante, para serem guardiões da evolução coletiva e trazer para a consciência alguns alertas.
Equilibrar a Vida e os diferentes papeis
Qual é seu tempo ideal de equilíbrio de vida? E o que é equilíbrio de vida para você? Cada um tem uma percepção a cerca desse assunto e lida de uma forma.
Para a Karen Machado que atua no Banco do Brasil liderando um desafiador projeto como Open Banking e também membro da Confraria de Executivos, e Professora da Conquer e Mentora esse equilíbrio passa também a se libertar de autocobranças, saber aceitar a qualidade de tempo que dedicará a maternidade e saber que essa é a sua melhor versão e deixar de lado cobranças e comparações da sociedade, pois não agregam valor.
Contudo, é inegável que seja o papel da maternidade e paternidade se tornaram desafiadores na pandemia e com essa velocidade de mudança. Como gerar momentos memoráveis? Como gerar estímulos que tenhamos orgulho de olhar e ver o caráter e princípios com que criamos?
A nova geração tem outra relação com o tempo, com o que é sucesso, com os aspectos de sustentabilidade e de diversidade, isso sem falar na relação com a tecnologia. Com certeza também terão outra relação com a maternidade/paternidade, e o que irão abrir mão ou não. E o nosso desafio enquanto líderes será estar antenado a quais são as demandas do mercado para suportar essa transição e como poderemos ser modelos para inspirar novas escolhas, carreiras e principalmente estarem bem seja lá qual decisão tomarem.
A liderança como articulador desse avanço
Para Antonio Fleischmann, VP de Engenharia Latam na Renault e Consul Honorário da Câmara Francesa, a sociedade por muitos anos delegou o papel de educar e criar os filhos a figura materna.
“Nós pais sabemos que que somos tão responsáveis quanto as mães, e que é um privilégio poder dividir as responsabilidades, seja em coisas simples como reuniões escolares, consultas, lições de casa, como mais estruturais como ser um apoiador das decisões da esposa, de prezar pelas carreiras que optaram e incentivar nas decisões, dando todo suporte para que se sintam realizadas e que ocupem posições de liderança na sociedade”.
Ainda há um grande percurso pela frente, a pandemia aflorou ainda mais esse gap, uma vez que indicadores mostram maior pedidos de desligamento por parte das mulheres, a dificuldade de lidar com sobrecarga de papeis como home school, suporte familiar, desafios das empresas, gerando ainda mais ansiedade e níveis de stress.
O olhar da liderança sobre seu time, quais flexibilizações são possíveis, que suporte é possível fornecer, enfim, por vezes é ouvir o que não está dito, lendo os sinais e propondo alternativas. Cada vez mais gestionamos por resultados, ou seja, rigidez em alguns aspectos não nos permitira darmos o processo passo rumo ao progresso de equidade tão almejado.
A Confraria do Desenvolvimento, promovida pelo Instituto Connect, é um espaço para conexão de executivos de vários segmentos, estados e países, onde é possível evoluir cocriando trilhas de aprendizagens e caminhando em uma jornada de networking, experiências e responsabilidade social.