Embora casas e apartamentos venham passando por uma série de mudanças no último ano e meio para se adaptarem às necessidades criadas pela pandemia de Covid-19, a “casa do futuro” já ocupa a cabeça dos profissionais das áreas de arquitetura e design.
“Vivemos em um mundo que é muito rápido. Piscou, passou. Então, é importante estarmos sempre antecipando, inovando e pensando no futuro”, explica a arquiteta e gerente comercial da Interprint, Helena Capaz. São duas as ideias principais por trás disso: ajudar a pensar e construir o futuro e não ficar para trás.
De acordo com Helena, um dos pontos de partida para pensar como serão nossos lares no futuro é o fato de que a tendência é que, mesmo após a experiência da pandemia, as moradias nos grandes centros sejam pequenas, tanto por questões comportamentais e sociais quanto pelo preço dos terrenos - e, consequentemente, dos imóveis - nestas áreas.
Este será um dos motivos para que espaços como varandas e terraços, que promovem integração com o ambiente externo e a natureza, continuem sendo cada vez mais valorizados - principalmente quando for possível integrá-los a livings. Da mesma forma, o tamanho das residências também deve incentivar um uso cada vez maior de móveis robóticos, multifuncionais e 360°, para que os espaços consigam abrigar as diversas atividades do dia a dia de seus moradores.
“Quanto menor o ambiente, maior a importância dessa pegada robótica. O grande impedimento hoje para uma maior disseminação desse tipo de mobiliário é o preço das ferragens. Mas no momento em que aumentarmos a produção, o preço vai acabar baixando, então esses móveis devem ficar mais acessíveis no futuro”, avalia Helena.
Mas isso não significa que todo móvel deverá ser robótico ou se transformar para ser multifuncional. De acordo com o designer e gerente de desenvolvimento de produtos do Grupo Unicasa, José Ferro, todo mobiliário que possa ser movido pela casa e se adaptar aos mais variados ambientes será valorizado.
“A multifuncionalidade já está acontecendo hoje e deve se fortalecer. Aquele móvel que você pode usar um dia na sala, daí você leva para o seu dormitório e depois para a cozinha. Essa ideia de flexibilidade será cada vez mais evidente - e trará junto acessórios que possibilitem esse intercâmbio de uso”, explica.
Sustentabilidade
Além disso, a sustentabilidade deverá continuar sendo um princípio norteador para o desenvolvimento de projetos e mobiliário. “Já existe um olhar mais apurado para a utilização de matéria-prima sustentável, de manejo - e isso deve continuar”, afirma Ferro.
Neste sentido, materiais naturais não renováveis, como pedras, devem ser cada vez mais substituídos por elementos que buscam reproduzi-los - e que, graças ao desenvolvimento tecnológico, o fazem de forma cada vez mais próxima ao natural.
Outra ideia que deve ser resgatada é a de que os móveis deverão ser concebidos para terem uma vida útil maior, que acompanhe o ciclo de vida da família pela qual serão utilizados ou do ambiente que deverão compor. Isso também evita o desperdício e o uso irracional de matéria-prima e outros recursos, como água e energia.
Aliás, conforme Helena, a eficiência energética de toda a casa deve ser um foco cada vez maior - e deverá ser alcançada a partir do uso de elementos que promovam conforto ambiental, além do desenvolvimento de móveis inteligentes e eletrodomésticos que usem melhor a energia elétrica.
“Na arquitetura da década de 1950, especialmente aqui no Brasil, usava-se uma espécie de persiana externa chamada brises soleil para evitar que o sol esquentasse demais os ambientes. É um elemento que vem sendo usado novamente e, de repente, nos mostra uma alternativa para questões que temos hoje: dar uma olhada nas soluções do passado”, diz.
Individualidade e customização
Mesmo com ideias claras para servirem de base para o desenvolvimento de projetos e a criação de mobiliário, como as apresentadas até aqui, a expectativa é de que os projetos respeitem cada vez mais as individualidades e gostos pessoais dos moradores. “As pessoas vêm entendendo que o seu jeito de viver é o que é o certo. Não existe mais a rigidez, existe um entendimento muito mais amplo do morar - e ‘o certo’ é como você vive na sua casa”, afirma Ferro.
Conforme o designer, essa forma de pensar o morar é uma que vem ganhando força desde os anos 2000, quando a indústria moveleira começou a se especializar e a ser capaz de atender as demandas de diferentes clientes.
“Na década de 1990, a indústria moveleira trabalhava muito com modulados, já desenhando o que viria ser hoje o planejado. Naquela época, tudo era bem estandardizado, tínhamos medidas mais fixas e não tínhamos tanto essa demanda por personalização. As lojas eram multimarcas. A partir dos anos 2000, o mercado começa a se especializar e acontece uma migração das multimarcas para as lojas exclusivas, com empresas se dedicando a criar produtos com características exclusivas e a qualificar as equipes de venda”, conta.
Apesar de a primeira década dos anos 2000 ter sido marcada pela tendência do minimalismo, houve experimentação no uso de cores, texturas e acabamentos, o que abriu as portas para a grande pluralidade que vemos hoje - e que devemos continuar vendo no futuro.
“Houve uma mudança de comportamento de consumo bastante grande - e isso aconteceu pelo maior acesso à informação. Hoje, o desafio da indústria moveleira é oferecer um mix variado para poder atender diversos perfis de clientes. Isso é muito bom e muito rico, e mostra como arquitetos e consultores são e continuarão sendo muito importantes no processo de entender o briefing do cliente e mostrar como materializá-lo”, diz Ferro.