Com aproximadamente 5,5 milhões de quilômetros quadrados, a Floresta Amazônica é essencial para o equilíbrio climático global e a preservação da biodiversidade.
Com aproximadamente 5,5 milhões de quilômetros quadrados, a Floresta Amazônica é essencial para o equilíbrio climático global e a preservação da biodiversidade.| Foto: Pixabay
  • Por Sustentabilidade
  • 28/06/2024 12:16

“Os indígenas não se veem separados da natureza, sentem-se parte integrante dela. Por isso, as pedras, as montanhas, as árvores são tratadas como pessoas, como sendo seus pais, mães, filhos, parentes. Nessa troca de afeto com a natureza, eles recebem e dão presentes entre si”. Se há um costume das comunidades indígenas que deveria ser incorporado na modernidade, é esse olhar carinhoso pela natureza presente no trecho do livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, de Ailton Krenak, de 2019.

Considerada a maior floresta tropical do mundo – com aproximadamente 5,5 milhões de quilômetros quadrados e abrangendo partes do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa –, a Amazônia desempenha um papel crucial no equilíbrio climático global e na preservação da biodiversidade. 

No entanto, sua conservação enfrenta desafios significativos. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apontam que aproximadamente 10.476 quilômetros quadrados de floresta foram destruídos em 2020, contribuindo para as emissões de gases de efeito estufa e agravando a crise climática.

Bióloga e doutora em ecologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Aliny Pires diz que uma das principais iniciativas para combater o desmatamento e promover a conservação é o manejo florestal sustentável. A prática busca utilizar os recursos naturais de maneira responsável, garantindo a regeneração das florestas e proporcionando benefícios ecológicos, econômicos e sociais. 

“O manejo sustentável permite que utilizemos os recursos da floresta minimizando os impactos negativos sobre o ecossistema. Isso inclui a extração de madeira de forma controlada e a promoção de produtos não-madeireiros, como castanhas e frutos. Além disso, essas práticas incentivam as comunidades locais a se envolverem na conservação, fornecendo alternativas econômicas ao desmatamento”, afirma a especialista.

O ecoturismo é outra iniciativa que se apresenta como uma alternativa econômica que valoriza a preservação ambiental. Segundo a bióloga, o ecoturismo atrai visitantes interessados em conhecer a riqueza natural e cultural da Amazônia, gerando renda para as comunidades locais e incentivando a conservação dos recursos naturais. “O ecoturismo é uma ferramenta poderosa para a conservação da Amazônia. Isso cria um ciclo positivo, onde a floresta é valorizada não apenas pelo que pode ser extraído dela, mas pelo seu valor intrínseco e pela experiência única que proporciona”, destaca.

Empreendimento

Divulgação Flor da Sumaúma
Divulgação Flor da Sumaúma

O Flor da Samaúma, iniciado por João Capiberibe em fevereiro de 2021, é um ótimo exemplo de empreendimento sustentável na Amazônia. Inspirado por projetos anteriores bem-sucedidos – como o “Curiaú: De Portas Abertas Para o Ecoturismo” – , ele fundou o Flor da Sumaúma com o objetivo de promover tanto experiências ecológicas memoráveis quanto o desenvolvimento de produtos da bioeconomia local. “Nossos visitantes têm a oportunidade única de explorar a biodiversidade exuberante da região por meio de trilhas guiadas, observação de aves e interações com a cultura local. Cada passeio é projetado para proporcionar uma experiência educativa e, também, para incentivar a conservação ambiental e apoiar as comunidades locais”, explica.

João comenta que, além do empreendimento ser benéfico para a conservação da floresta, contribui com as comunidades locais. “Empregamos diretamente dez membros da comunidade e apoiamos indiretamente outros 12 empregos, através da cadeia produtiva local. Isso demonstra como o turismo sustentável pode gerar benefícios econômicos significativos sem comprometer os recursos naturais essenciais”, reflete. 

O fundador do projeto conta uma extensa trajetória na luta pela preservação ambiental. Ex-prefeito de Macapá e ex-governador do Amapá, Capiberibe usa o mesmo lema que usava no início de sua militância ambiental em seu novo empreendimento. “Meu lema sempre foi que uma floresta em pé pode oferecer mais valor econômico do que sua conversão para outros usos menos sustentáveis. Foi esta visão que motivou a criar o Flor da Sumaúma como um modelo de desenvolvimento que equilibra preservação ambiental com prosperidade econômica”, explica.

Inovação

A degustação de vinhos produzidos a partir do açaí está entre as atrações do Flor de Samaúma.
A degustação de vinhos produzidos a partir do açaí está entre as atrações do Flor de Samaúma.| Divulgação Flor de Samaúma

Quando se fala em inovação, o Flor de Sumaúma se destaca pela sua produção de Açaí Tintos, vinhos produzidos a partir do fruto do açaí. “O Açaí Tinto não é apenas uma bebida, é uma expressão da nossa biodiversidade. Criamos essa linha de vinhos a partir do açaí selvagem colhido de forma sustentável, preservando a floresta e, também, as tradições locais de manejo dos recursos naturais”.

O Flor de Sumaúma conta com visitações à primeira Açaícola do Brasil, adega onde acontece a produção dos vinhos à base de açaí. Entre as degustações disponíveis ao longo do passeio, é possível experimentar os vinhos Amazônia Forever, Curiaú, Flor da Sumaúma, Meio do Mundo e Brilho de Fogo. 

“Do Curiaú, que combina notas frutadas com um toque de frescor, ao Amazônia Forever, com seu perfil robusto e sabor marcante, cada garrafa conta uma história da nossa região. É uma maneira não apenas de preservar, mas também de compartilhar nossa cultura e riqueza natural com o mundo”, comenta Capiberibe.

Políticas públicas

Além das iniciativas locais, as políticas públicas desempenham um papel fundamental na preservação da Amazônia. Medidas como a criação de áreas protegidas, o fortalecimento da fiscalização ambiental e o incentivo a práticas agrícolas sustentáveis são essenciais para conter o desmatamento e promover o uso sustentável dos recursos naturais. “A legislação ambiental brasileira, apesar dos desafios na implementação, fornece uma estrutura legal robusta para a proteção da floresta. Essas leis são essenciais para orientar políticas públicas e ações privadas que promovam o desenvolvimento sustentável na região”, aponta Aliny.

A especialista destaca ainda a importância de incentivos econômicos que valorizem a preservação ambiental na Amazônia. A implementação desses mecanismos, segundo ela, “deve ser acompanhada por uma maior fiscalização e monitoramento das atividades clandestinas, como o desmatamento e a mineração ilegal, que continuam a ser grandes ameaças à floresta”.

Para enfrentar esses desafios, Aliny destaca a necessidade de “uma abordagem integrada que combine ciência, políticas públicas eficazes e engajamento comunitário”. Segundo ela, “a conservação da Amazônia não é apenas uma questão ambiental, mas também social e econômica, que exige um compromisso coletivo para garantir um futuro sustentável para uma região crucial para o equilíbrio climático global”, reforça.