Reduzir a emissão de gases de efeito estufa é um dos objetivos das tecnologias verdes
Reduzir a emissão de gases de efeito estufa é um dos objetivos das tecnologias verdes| Foto: Pixabay
  • Por Sustentabilidade
  • 28/06/2024 13:30

Tecnologias verdes, também conhecidas como tecnologias sustentáveis ou ecoeficientes, são inovações que visam minimizar o impacto ambiental das atividades humanas, promovendo a conservação dos recursos naturais e a sustentabilidade. Da energia renovável até a gestão de resíduos, essas soluções estão transformando diversos setores. De acordo com a Allied Market Research, o mercado global de tecnologias verdes valia cerca de US$ 9 bilhões em 2019 e pode chegar a quase US$ 50 bilhões em 2027.

Para o Brasil, o mercado das tecnologias verdes se mostra promissor, já que, quando se trata de energias renováveis, o país é visto como exemplo. Dados do Ministério de Minas e Energia apontam que, no primeiro trimestre de 2023, o Brasil alcançou a maior produção de energia limpa dos últimos 12 anos, com quase 90% da energia gerada proveniente de fontes renováveis, incluindo hidráulica, eólica, biomassa e solar.

Segundo Gabriel de Oliveira, coordenador do curso de engenharia civil da FAE Centro Universitário, a tecnologia verde é um grande guarda-chuva que referência todo tipo de tecnologia ou pesquisa e desenvolvimento científico com o objetivo de mitigar ou reduzir os impactos da atividade humana no ambiente natural. “Essas tecnologias recorrem ao uso de recursos renováveis. Fontes de energia, materiais e insumos que podem substituir aqueles que são mais nocivos ao meio ambiente ou materiais que são mais dependentes de combustíveis fósseis e geram impactos negativos, resíduos poluentes ou grandes taxas de desperdício”, esclarece.

Oliveira fala que essas tecnologias têm um potencial significativo para melhorar várias áreas da sociedade, mas o principal benefício acaba sendo na área das energias renováveis. “Elas visam substituir as matrizes termoelétricas e o consumo de combustíveis fósseis utilizados para transporte, como a gasolina, por matrizes energéticas renováveis, como a energia solar, eólica, geotermal e das marés”, explica.

Soluções

Equipe da Recigases, que trabalha com a regeneração de gases refrigerantes, substâncias altamente poluentes
Equipe da Recigases, que trabalha com a regeneração de gases refrigerantes, substâncias altamente poluentes| Divulgação

A Recigases se destaca como um exemplo de aplicação prática dessas tecnologias no Brasil. Fundada em 2007, no Rio de Janeiro, a empresa trabalha com a regeneração de gases refrigerantes, substâncias altamente poluentes. O CEO da empresa, Filipe Colaço, explica que a atividade deles envolve a compra de gás refrigerante contaminado, o processo de regeneração e a posterior venda do produto. “Isso evita que esses gases sejam liberados na atmosfera, causando danos significativos”, relata.

Filipe conta que a ideia de criar a empresa foi de seu pai, Jorge Colaço, fundador da Recigases. Ele trabalhava em uma oficina automotiva e ficou indignado quando descobriu que os gases liberados pelo ar-condicionado dos carros eram extremamente prejudiciais à camada de ozônio. “Meu pai ficou estudando como poderia atuar para ganhar dinheiro oferecendo uma solução para este problema. Em 2007, fundou a Recigases e, a duras penas, foi criando um mercado que quase não existia no Brasil”, relata Filipe, que acompanhou todo o desenvolvimento do projeto até assumir a empresa em 2019, quando o pai passou para a presidência do conselho da organização. 

Em 2023, a Recigases recebeu 25 toneladas de fluidos refrigerantes que, se liberados na atmosfera, teriam o mesmo impacto de carbono que 4,6 mil voltas ao mundo de carro a gasolina pela linha do Equador. “Conseguimos garantir um produto tão bom ou até melhor que o novo”, afirma Filipe. A empresa utiliza processos de destilação fracionada e testes laboratoriais para garantir a qualidade dos gases reciclados, tornando-se um exemplo de como as tecnologias verdes podem ser aplicadas em processos industriais para reduzir o impacto ambiental.

Inovações

As tecnologias verdes também estão revolucionando a geração e o consumo de energia. Equipamentos como lâmpadas LED, eletrodomésticos de alta eficiência e construções sustentáveis consomem menos energia para realizar as mesmas tarefas.

A implementação de tecnologias verdes enfrenta desafios, como o alto custo inicial e a necessidade de transformar toda uma rede de infraestrutura. “Pensar em algo como veículos elétricos envolve não apenas a tecnologia do carro em si, mas também uma rede de postos de abastecimento eficiente”, pontua Gabriel de Oliveira.

Além disso, o professor aponta que muitas vezes essas tecnologias são tão novas que há uma dificuldade de encontrá-las no mercado. “Eu diria que talvez um dos grandes desafios esteja relacionado às tecnologias muito novas, inovadoras e transformadoras”, salienta, citando como exemplo as fábricas voltadas à captura de carbono da atmosfera. “São tecnologias com capacidade de transformação altíssima, no entanto, difíceis de manejar e com um custo elevado”, avalia.

Carbono

Outro projeto que se destaca pelo uso de tecnologias verdes é Carbon Consult. Fundada em meados de 2023 por Diogo Travassos, a empresa tem o propósito de conectar quem compra e quem vende créditos de carbono dentro dos requisitos analisados e permitidos, incluindo todas as certificações. 

Desde então, a Carbon tem se concentrado no setor de consultoria, auxiliando empresas a se adaptar às regulamentações de carbono e a melhorar suas práticas ambientais. O público é formado por empresas que desejam se adaptar às regulamentações de carbono ou melhorar suas práticas ambientais. 

A empresa também desenvolve projetos de carbono, como a elaboração e implementação de iniciativas que visam reduzir ou remover gases de efeito estufa, além de realizar auditorias e certificações para garantir que os projetos atendam aos padrões estabelecidos. “Tecnologias verdes são fundamentais para o sucesso da Carbon”, ressalta Travassos, destacando a importância de tecnologias para apoiar projetos de energias renováveis, biodigestores, reflorestamento e agricultura sustentável.

Embora a iniciativa esteja em seus primeiros meses de operação, a empresa já mostra resultados promissores. “Ainda não temos dados que quantifiquem e qualifiquem essas ações, mas temos projeções significativas. Nosso projeto de energia solar, por exemplo, tem capacidade de gerar 33 mil créditos de carbono por ano”, exemplifica. Além desse, o projeto florestal na Amazônia gera cerca de 50 mil créditos de carbono por ano.

Travassos explica que os créditos de carbono são uma peça fundamental na luta contra as mudanças climáticas. “Um crédito de carbono é um certificado que representa a redução ou remoção de uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) ou outro gás de efeito estufa da atmosfera. Esses créditos podem ser vendidos ou trocados no mercado, criando um incentivo financeiro para empresas reduzirem suas emissões”.

Ele enfatiza que a adoção e o desenvolvimento contínuo de tecnologias verdes são essenciais para um futuro mais sustentável. “Elas oferecem soluções práticas para a crise climática e também impulsionam a inovação e o crescimento econômico sustentável. A inovação é crucial para a transição para uma economia de baixo carbono e para enfrentarmos os desafios ambientais de longo prazo”, explica.